terça-feira, 1 de maio de 2012

1 272 - O alferes Garcia, 60 anos!!!

Alferes Garcia e furriel Viegas, na avenida do 
Quitexe (1974), momentos antes da partida para mais uma operação militar

A 3 de Novembro de 1979, um sábado, cheguei cedo a Águeda, lá levando minha mãe que, no mercado, ia fazer venda da sua produção hortícola, para gerir a sua magra economia doméstica. Ficava ela por lá,  a mercar, e ia eu fazer horas para o Café Moderno, a botar leituras e palavras em dia.
O Jornal de Notícias era de consulta obrigatória e, de minha parte, aguçada pelo cheiro da minha colaboração, que vinha mesmo antes do serviço militar. Ao fundo, na mesa do canto, folheei o jornal, parando nas novas do dia, que eram de véspera. Parei, assustado, na de um acidente de viação, entre Viseu e Mangualde: um morto e um ferido grave, ambos agentes da Polícia Judiciária. A vítima mortal era o agente António Manuel Garcia. O ex-alferes Garcia, comandante do PELREC, o nosso pelotão da CCS do BCAV. 8423! Aos 27 anos!
A dor foi imensa! Pouco tempo antes, estivéramos no Porto, em prolongada conversa, continuada de outras, ele feliz da vida por ver crescer a filha Marta e querendo convencer-me e levar-me para o curso de PJ - o que cheguei a admitir. Não fui. Frequentara a casa dele, no Porto e já casado com Olga, e dos tempos de tropa continuava essa fraternal ligação, uma espécie de afecto umbilical que o tempo levedava. 
O Garcia, se por cá andasse connosco, faria hoje 60 anos! Com uma vida cheia de bondade, de generosidade e  competência, fraternidade, coragem, solidariedade e amor aos seus e aos todos, que todos somos!
Posso imaginá-lo, de sorriso largo, rasgado de orelha a orelha e, nas tranquilidades disponíveis da aposentação, a sentar o neto no colo, a embebecê-lo de mimos e a narrar-lhe épicos feitos da missão que nos levou a Angola. A deixar molhar os olhos de alegria, a emocionar-se, a emocionar!! A falar dos momentos epopeicos dos 15 meses em que pisámos terra angolana. E não lhe escaparia, por  certo, a narrativa da histórica viagem do adeus a Carmona! E tantas, tantas outras!
Faria hoje 60 anos!! A 1 de Maio de 2012!
Até um dia, Garcia!
1 - O corajoso alferes Garcia e o 1 de Junho de 1975. Ver AQUI
2 - Memória do Alferes Garcia em Pombal de Ansiães. Ver AQUI
3 - Carta ao Garcia. Ver AQUI
- NOTA. ANTÓNIO MANUEL GARCIA era o garboso e corajoso comandante do PELREC, alferes miliciano de Operações Especiais (os Ranger´s). O curso de Lamego identificou-nos e aproximou-nos; Santa Margarida fez-nos confrades de missão; Angola, o Quitexe e Carmona, tornaram-nos irmãos de alma e de coração. O Garcia é daqueles homens que não se apagam na memória, ou se falecem do coração! Tive a alegria de conhecer os pais (em Pombal de Ansiães) e a esposa, no Porto, já depois de Angola - era ele agente da Polícia Judiciária, para que me quis «arrastar». Faleceu a 2 de Novembro de 1979, num acidente de viação, entre Viseu e Mangualde. Soube ao outro dia, pela leitura matinal do JN, e ainda hoje sinto a dor que naquele momento me fez sentir pequenino e mortal. Este ano, soubemos notícias da filha que o seu amor pariu, do neto que seria a luz dos seus olhos, da família que ele não viu crescer. Saudades, Garcia. Até um destes dias!
Nota publicada na coluna lateral 
do primeira parte deste blogue.

4 comentários:

  1. Façamos um brinde ao Garcia, pelos 60 que infelizmsnte nao faz mas pelas amizdes que estabeleceu em vida e que ainda se mantêm até hije!AO GARCIA!!!

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  2. Antes de mais, as minhas desculpas por invadir um espaço privado, mas porque hoje se fala de um amigo comum, o António Manuel Garcia, o "Toninho" para a família e amigos, e porque nestes momentos as saudades batem mais fortemente, aqui deixo em homenagem pelo seu aniversário, um poema que lhe dediquei, quando da sua partida inesperada deste mundo e que tanta dor nos causou.


    Bom companheiro de toda a hora,
    Amigo sempre sincero e leal,
    Partiste, dando-me surpresa tal
    Que, saudosa, a minha alma chora!


    Contigo privava de perto, agora,
    Já não encontro presença igual:
    Sempre alegre, bem-disposto... Afinal,
    Para os bons é curta a demora!


    Tão breve sonho foi a tua vida,
    Deixando em mil pedaços partida
    A alma de quem te queria bem...


    Que a tua mensagem seja vivida,
    A tua imagem jamais esquecida
    E que descanses, em paz, no Além!


    Lembro que, como amigo, colega e vizinho do mesmo condomínio, o nosso convívio profissional e familiar era diário, tendo-me cabido a ingrata e dolorosa tarefa de, com as lágrimas represadas nos olhos, dar a notícia do acidente que o vitimou à Olga.
    Um abraço a todos os ex-combatentes.
    P.S.: Já gora, informo que também fui Furriel Miliciano Ranger e fiz comissão em Angola (Luso e Sá da Bandeira), entre Dezembro de 1974 e Outubro de 1975.

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  3. É um privilégio ter-te como “historiador” oficial,da n/ campanha de África e felicito-te pelo extraordinário trabalho que há mais de 3 anos fazes diariamente, o que é notável, n/ só pelo que nos trazes à memória, como pela forma brilhante como o fazes e pela oportunidade e rigor das tuas anotações.
    Pouco privei com o alferes Garcia, mas conheci o seu temperamento forte e vais permitir que recorde-te uma cena do Quitexe, que te envolveu com ele e o tenente Mora, que era aquele oficial que a gente bem sabe. A história é simples, o tenente ameaçava-te com uma participação por qualquer coisa que tinha a ver com o refeitório e tu estares de sargento de dia. Isto passou-se na parada e o alferes Garcia a servir de moderador. O tenente só falava para ele, para ele te dar o recado e estavam os três juntos. E o alferes Garcia falava-te baixinho, sugerindo-te calma e ao tenente dizia que tu n/ tinhas culpas no cartório. O tenente, pensando que o alferes estava do lado dele, insistia em participar de ti, quando tu, bruto que nem uma porta, bateste o tacão das botas, apresentaste-te ao tenente com aquela paláda à “ranger” e pediste-lhe autorização para fazer queixa dele.
    Não me lembro dos pormenores, mas sei que o alferes Garcia acabou por acompanhar o tenente à messe e voltou á parada e perguntou-te o que tinhas feito e viemos a saber que o tenente ficou foi com medo, quando lhe pediste autorização para fazer queixa dele e foi o alferes Garcia que serviu de intermediário. Ainda hoje n/ sei se ias mesmo participar do tenente, mas recordo a enorme preocupação do alferes Garcia, porque como ele dizia um dos seus homens estava com um problema e ele queria ajudar a resolvê-lo, como ele sempre fazia com os rapazes do v/ pelotão, que ele sempre defendia e com quem confraternizava na caserna como se não fosse oficial. Lembras-te disto?
    Continua com o blog, força... e um abraço grande,
    Lopes

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  4. Estamos todos na casa dos 60 !!!
    Uns vivem outros não, mas
    a vida é mesmo assim!
    ManPinto

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