domingo, 13 de maio de 2012

1 284 - Promessas de Fátima, para peregrinações apeadas...

A 13 de Maio de 1974, uma segunda-feira e a duas semanas do dia marcado para o embarque para Angola, andei eu em actividades hortícolas, numa propriedade que é hoje minha mas, ao tempo, era uma das que minha mãe trabalhava ao longo do ano, na agricultura de subsistência que caracterizava os anos 70.
Era dia de Fátima e veio à baila as muitas promessas que se faziam, de ir em peregrinação apeada ao santuário, cumprir as promessas de os militares regressarem sãos e salvos. A minha família é católica e estaria na mente de minha mãe tal promessa fazer por mim (pela minha ida para Angola e para a guerra).
«Olhe que se fizer promessa, é para ir você a pé!...»,. disse-lhe eu, enquanto semeávamos feijão e plantávamos couves, na horta do Subalo - com a capela de Santo António ali a 30 metros.
Se disse uma heresia (e julgo que tal terá pensado minha mãe, sem, porém, fazer quaisquer comentários sobre o pormenor), adiantou-me, todavia, que a questão era dela e eu o seu filho. Portanto, faria ela o que bem entendesse e lhe ordenasse a sua fé. 
«Não foi essa a educação que te dei...», afirmou-me cheia de convicção e, naturalmente, condenando a minha dispensa da promessa.
Argumentei-lhe que havia a moda de prometer irem terceiros a pé (os beneficiados) e não só quem prometia e que isso era errado. Devia ir a pé quem prometesse. Só quem prometesse ir a pé. 
A minha mãe arrumou a conversa, com um seco «esse problema é meu...», mandou-me calar, acabámos as tarefas da horta e viemos embora. Ontem, passámos por lá e falámos do assunto, recordado por mim. 
«Nessas coisas sempre foste um bruto. Mas olha que rezei todos os dias por ti...», disse-me ela, sem me pôr os olhos em cima e do alto da autoridade dos seus 91 anos! 
Não prometeu e também não foi em peregrinação apeada a Fátima. Nem ela, nem eu, nem ninguém. Mas, além das suas orações (e sei lá mais o quê...), manteve uma vela acesa em lamparina de azeite, durante todos os 15 meses da minha comissão angolana.

1 comentário:

  1. Nem todas as convicções se perderam ao longo dos tempos e ainda bem que há gente que as mantêm especialmente no divino, na fé. O sobrenatural comanda a nossa vida e por mais voltas que dê a tentar arranjar explicações para certas questões não as encontramos, e por vezes dizemos que isto ou aquilo não aconteceu ou aconteceu por sorte ou por um acaso. Pessoa de fé não se explica assim e a sua mão poderá ter toda a razão.

    ResponderEliminar