quarta-feira, 30 de maio de 2012

1 301 - A chegada a Luanda, há 38 anos!!!

A baía de Luanda nos anos 70 do século XX (foto da net)

O voo foi nocturno, a partir da meia noite de Lisboa, e pousámos em Luanda no alvor de 30 de Maio de 1974. Vagamente, lembro-me de o piloto ter dado conta, na viagem, de termos sobrevoado os céus de Bissau, de que se via a iluminação! Seria! 
Ainda dormitei e não tardou a que o avião dos TAM nos deixasse ver o esplendor da baía luandina e a cor vermelha do chão de Angola, nos mostrasse os mussseques e a cidade enorme, a espreguiçar-se e abrindo os olhos para um novo dia de trabalho.
Aquela metrópole enorme e moderna, de edifícios gigantescos e enormes avenidas a rasgar-lhe o ventre, a beleza deslumbrante da baía, a ilha que víamos encostada à cidade, todo aquele ar cosmopolita não nos parecia ser uma terra de guerra. O avião arredondou-se nos azulíssimos céus de Luanda, como quem batia a porta para dizer os bons dias, e os nossos olhos arregalavam-se de espanto. Nunca tínhamos visto mancha urbana tão grande, a  não ser oito horas antes, quando levantámos voo de Lisboa e mal espreitámos a luz da noite da capital do império que se começava a desfazer.
Blusões fora e arrumado o meu no saco TAP vermelho, lá fomos para o Grafanil - onde ficámos até 5 de Junho. Era tudo novo para nós: o chão e os cheiros, a paisagem, as gentes que nos falavam, os sotaques, até a cerveja - que comprei com angolares que já levava e senti pouco forte.  As cucas que bebemos eram leves a mais para os hábitos e paladares cervejeiros da então metrópole. 
Um sargento nos apareceu, no aquartelamento do BCAV. 8423, de pasta debaixo do braço e ar de negócio fácil: queria fazer câmbio. Trocar, com farto lucro, escudos de Portugal pelos de Angola, os angolares. Espantei-me quando, após três dedos de conversa, vim a saber, da boca dele, que teria estado na Escola Central de Sargentos, aqui em Águeda. E que, eventualmente, nos teríamos cruzado algumas vezes, no bar do café Santos - onde se comiam excelentes bolos de bacalhau e bebiam taças de vinho branco. Não foi tal coisa suficiente, porém, para que fizéssemos negócio. Mas houve quem fizesse e com o 1º. sargento a ganhar o lucro dele.
Por nós, íamos descobrir Luanda. E visitar amigos que por lá faziam pela vida, sem sofrer os medos da guerra que lá nos levava! Era uma vida nova que se abria nos nossos dias.
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