quarta-feira, 30 de março de 2016

3 351 - Chegada a Luanda para férias na imensa Angola!

Cruz e Viegas, dois furriéis milicianos dos Cavaleiros do Norte em férias 
angolanas, há precisamente 41 anos. De Luanda, a Nova Lisboa, pelo 
Lobito, Benguela, Sá da Bandeira, Gabela...



A mítica Portugália, em, Luanda, um verdadeiro
local de culto dos militares portugueses em Angola. Aqui
almoçaram o Cruz e o Viegas no Domingo de Páscoa
de 1975. Hoje se fazem 41 anos! 


30 de Março de 1975!!! Ups!!! É domingo de Páscoa e saiu-nos (a mim e ao Cruz) uma pequena «sorte grande»: fomos autorizados e pudemos antecipar, por um dia, a nossa ida de férias e voámos de Carmona para Luanda no avião das 10 da manhã. 
A tensão continuava por lá, na capital angolana, e a primeira novidade, ainda no aeroporto, foi a suspensão do jornal «A Província de Angola», de alguma forma substituído pelo «Liberdade e Terra». diário com o mesmo formato e dirigido pela FNLA. FNLA que, lia-se no jornal «O Comércio» desse dia, tinha comprado a Rádio Televisão de Angola, que então estava em fase de instalação e limitada a Luanda. O jornal «A Província da Angola» estava suspenso (não me ocorre a razão) e era o diário que habitualmente nos chegava ao Quitexe. Outros jornais (O Comércio e o Diário de Luanda, por exemplo) normalmente não passavam de Carmona, raramente chegavam à vila-sede do (nosso) BCAV. 8423.
Outra novidade: a edição do jornal «Vitória Certa», afecto ao MPLA, do qual também espreitámos os títulos da primeira página.
Jornal «Liberdade e Terra», órgão oficial
da FNLA. Como se lê em baixo, à direita,
o movimento de Holden Roberto acusava o
MPLAde ter desencadeado «o surto
de violência». Em baixo, o jornal «Vitória
é Certa», do MPLA - edição de 26 de
Junho de 1975
A viagem até ao Katekero, do aeroporto ao Largo Serpa Ponto, foi rápida e o taxista, um europeu branco, percebendo que éramos militares, reportou-nos a manifestação da véspera, em Lisboa, em tom muito crítico - relativamente às autoridades portuguesas. 
«Estão a entregar isto tudo ao MPLA...», afirmou ele, barafustando também contra o Alto Comissário Silva Cardoso. «Qualquer dia, até nos comem e a tropa não faz nada...», expectou o exaltado homem, muito nervoso e excitado, a espumar raiva. Socorro-me do Diário de Lisboa de 31 de Março de há 41 anos, para recordar os slogans dos 2000 manifestantes que marcharam do Rossio até S. Bento, com uma enorme bandeira do MPLA e a fotografia de Agostinho Neto na frente: 
«MPLA, um só povo, uma só nação; Morte à CIA; Governo popular / Abaixo o Colonialismo; Os pides fora de Angola; MPLA a vitória é certa; MPLA, vitória ou morte».
A manifestação visava, segundo o Diário de Lisboa, o «protesto contra as manobras  deter a marcha do povo angolano para a sua libertação total» e foi guardado um minuto de silêncio em memória das vítimas dos combates entre o MPLA e a FNLA.
E Luanda? O que o taxista nos reportou foi um perigoso clima de tensão, sequente dos combates entre MPLA e FNLA. Os três movimentos tinham mandado o acordo de cessar fogo às urtigas e repetiam-se os tiroteios, se bem que, e felizmente, não se registassem vítimas mortais. O recolher obrigatório tinha sido levantado e as emissoras privadas já podiam retomar as suas programações normais - enquanto a Emissora Oficial de Angola apenas podia divulgar os comunicados oficiais.
Na verdade, e na prática, nada nos preocupou nas primeiras horas de Luanda, em dia de Páscoa de 1975. Eu e o Cruz, depois do banho de fim da manhã, no Katekero, descemos à baixa e fomos confortar o estômago no recheado almoço da Portugália. O ambiente era de tranquilidade, com muita gente a circular descontraidamente, sem se ver um militar fardado!  tarde ia ficar por nossa conta, espreguiçando-nos nas areias das praias da ilha, bebericando cuca´s com camarão e esperando a noite de sonhos e cios que expectávamos para este inesperado primeiro dia de férias angolanas!!!

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