sábado, 4 de novembro de 2017

3 934 - O 4 de Novembro de 1974 na memória dos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte com combatentes da FNLA, no encontro do Dambi
 Angola, a 4 de Novembro de 1974. De pé, 2 «fnla´s», 1º. cabo Salgueiro,
(TRMS), um «fnla»,  Rebelo (?) e furriel Pires. Em baixo e ao centro, o
Aurélio (Barbeiro) e o furriel Viegas, rodeados por 2 «fnla´s»

Os furriéis Viegas (com uma Kalashnikov  da FNLA
 na mão) e Pires, com um combatente do movi-
mento de HoldenRoberto, no histórico encontro
 de 4 de Novembro de 1974!



Amigo meu da tropa africana, o Pires de Bragança, enviou-me mensagem por se falar aqui, neste blogue, do mesmo tempo dele, com o meu, no chão angolano. 
«Tens de pôr mais fotografias da malta, contar mais histórias....!», berrou ele comigo, no seu jeito transmontano de falar e sentir as coisas. 
Tenho várias histórias da minha história com o Pires de Bragança, que era furriel miliciano de transmissões e apareceu em Santa Margarida, ainda cabo miliciano, na nossa mobilização pré-Angola, chegado a uma segunda-feira de carnaval. Nós já éramos veteranos de «guerra», experimentados militares da IAO (Instrução Altamente Operacional) e gozávamos à fartazana com os «maçaricos» que chegavam. E lá chegou o cabo-miliciano Pires. 
«Ide-vos f...», reagiu ele, chegado com o Rocha, respondendo às nossas provocações. Fartámo-nos de rir.
Já em Angola, no Quitexe, homem de transmissões, «cansou-se» de nos ouvir, aos operacionais, falar das nossas lendas de guerra, dos nossos heroísmos das picadas e das matas cerradas de Angola, enfrentando os perigos e os medos das situações que se embrulhavam no pó quente e vermelho do chão angolano. Blá, bla, blá... 
Furriel J. Pires

O Pires furriel que
queria ir «na» mata

Um dia, ou uma noite?, provocou-me o Pires de Bragança, já provavelmente farto de nos ouvir contar histórias e do seu lazer aquartelado. «Gostava de ir convosco numa operação...»
«Só se o capitão autorizar...», disse-lhe eu. 
Ir numa operação, sem constar do plano da dita, não era coisa que se cheirasse. Ou pudesse fazer. Era contra todas as regras de segurança! E as NEP´s?!!! 
«Vê lá isso...», disse-me ele., compungido.
Dias depois, a 3 de Novembro de 1974, recebi uma ordem de operação muito especial: sair às 4 da madrugada do outro dia para um possível contacto com guerrilheiros do FNLA. Quem sabia dessas coisas era, naturalmente, o Gabinete de Operações - que tinha os seus contactos, que eu não sei contar. 
Disse eu ao Pires, de Bragança: 
«Queres ir amanhã?!»
«P´ra onde?», perguntou ele.
«Depois sabes...!», disse eu. Eu não podia dizer. E acrescentei-lhe: «Tens de ter autorização do capitão Falcão»
Acabei por ser eu a pedir e lá foi o furriel Pires, o das transmissões. 
Havia outro Pires, o sapador, do Montijo. O objectivo era a aldeia (sanzala) do Dambi Angola, na Mata do Quipemba, entre Quitexe e Aldeia Viçosa. Lá chegámos, de dia. Pelo caminho, poupando palavras, passámos incólumes numa vigia dos «turras» (um deles apontando-nos uma arma, de cima de uma árvore). Caíria, a tiro nosso, caso esboçasse qualquer gesto.

Encontro com FNLA´s
no Dambi Angola

 O Breda, condutor-auto, suava frio de ansiedades, e tremia, ao passar debaixo da árvore, conduzindo o unimog em que eu próprio seguia. Chegámos à sanzala, num adro imenso, e os unimogs pararam em posições de segurança. Olhámos, era eu o comandante da força, e não tive medo. Se eles lá estavam, com eles falaríamos. Era ao que íamos. Levávamos grades de cerveja e tabaco, aconselhados pela Acção Psicológica. Faltava «descobrir» o inimigo, misturado entre as gente da sanzala. Saltei do unimog, sem tirar as divisas do camuflado. 
Provocador, digamos: «Sou o furriel Ranger!...». Manias!! Nem falar!!! E avancei, passo a passo, de mãos tensas, caídas nas ancas, a direita segurando a G3. «Posso levar um tiro...», sentia eu. Do cinturão, penduravam-se granadas defensivas, prontas a estourar. 
A G3, de resto, estava armada com o dilagrama, para o que desse e viesse e seria letal, mortalíssimo; dilagrama que eu dispararia, em qualquer caso. Um passo meu, em frente, era um passo atrás dos populares. 
«Boa tarde, somos amigos, vamos falar...», gritei eu. E voltei a gritar, mais um passo e outro! Confesso que meio a medo. Poupando palavras, confraternizámos nessa tarde. Tarde em que o grupo da FNLA soube que tinha havido uma revolução em Lisboa - sete meses antes. Beberam os fnla´s cerveja, depois de nós bebermos. Fumaram os CT, depois de alguns de nós. E tirámos fotografias. 
Dizia o Pires, no regresso: «Estes é que são os turras?!». Eram. 
Eu (Viegas), era tratado por Veigas. Senti-me amedrontado! Eh, pá... afinal eles sabiam quem eu era. Guardo do Pires, o seu desabafo no jantar de camarão e cerveja à farta, que ele pagou nessa noite, no restaurante do Rocha, no Quitexe. Mais ou menos isto: «Como é que saltaste do Unimog, com aquela calma?!!!... Já sabias que eles eram turras?!».
Aldeia Dambi Angola (net)

Poderia ter sido
uma tragédia...

É evidente que, ao momento, ele não sabia disso. E nas várias vezes que falámos sobre este momento, nestes 35 anos que se passaram, sempre nos divertimos com a história. Que poderia ter sido uma tragédia!!! Não foi, se calhar, porque fomos todos, começando por mim, leviamente e generosamente irresponsáveis, embora cumpridores da missão de que estávamos incumbidos. 
Algum tempo depois, no Quitexe, disse-me um dos angolanos desse princípio de tarde de 4 de Novembro de 1974: «Nós espensou c´os furrié ias matá a gente...»
Eu sei que nunca matei ninguém! 
Os homens do FNLA que nesse dia achámos estavam armados de armas de fabrico checo e chinês, com uma bala na câmara e mais meia dúzia delas num saco de plástico pendurado na cinta, feita de um cordão vulgar!
* NOTA: Post publicado a 9 de Abril de 2009 e hoje 
reeditado, na data dos 43 anos do encontro do 
PELREC com os combatentes da FNLA.
Almeida e Brito

Almeida e Brito
no CSU e férias

A 4 de Novembro de 1974, o tenente-coronel Almeida e Brito reuniu uma vez mais no Comando do Sector do Uíge, com comandos deste e de outras unidades da província.
O comandante do BCAV. 8423 ia já em viagem para Luanda (voando de Carmona) e daqui para Lisboa, para férias na então chamada Metrópole.
O capitão José Paulo Falcão ficou como comandante interino e, por via disso, o alferes Garcia (comandante do PELREC), substituindo-o, «subiu» a oficial de operações. Como o furriel Neto estava de férias em Portugal e o Monteiro trabalhava na secretartia da CCS, o tempo foi de o furriel Viegas ser o único graduado do pelotão. Não huve, por isso, pronlema algum! 
António Soares

Soares de Aldeia Viçosa

65 anos em Gondomar!

O soldado Soares, Cavaleiro do Norte da 2ª. C CAV. 8423, a de Aldea Viçosa, está hoje em festa: comemora 65 anos!
António Joaquim da Rocha Soares foi atirador de Cavalaria da Companhia comandada pelo capitão miliciano José Manuel Cruz e, finda a sua (e nossa) jornada africana do Uíge angolano, regressou a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975. A Valbom, em Gondomar, terra natal. Onde ainda vive e para onde vai o nosso abraço de parabéns! 

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