Carmona, a Rua do Comércio, reconhecendo-se a Residencial Apolo
Os primeiros dias de Maio de 1975, em Carmona, misturaram expectativa com desilusão: o fim das hostilidades militares e a chegada dos movimentos independentistas às zonas urbanas, faziam crer que o processo político seria tranquilo, mas assim não foi.
Não havia dia sem um qualquer incidente e era cada vez mais evidente o clima de hostilidade de parte da comunidade civil europeia, relativamente aos militares.
A presença da PM na cidade era permanente, justamente para evitar conflitos que envolvessem a tropa - que era vulgarmente insultada em ruas, avenidas, cafés e restaurantes, cinemas e casas nocturnas, onde quer que passasse, ou estivesse.
Essa hostilidade senti-a bem, nos primeiro serviços depois de férias! Carmona não estava igual!! Eram regulares os conflitos entre movimentos e nem sempre estes aceitavam de bom modo o papel de arbitragem que nos era dada, como prioridade em qualquer intervenção. Fizéssemos o que fizéssemos, agíssemos como agíssemos, nunca nos era reconhecido a isenção que estatuía o nosso papel.
Paralelamente, corria a vida e a cidade gorgitava de movimento comercial, empresarial, social, cultural, desportivo e recreativo. Com restaurantes, bares e esplanadas cheias, cinemas esgotados - o que não deixava de ser um paradoxo.
A imagem, que recolhi da net, mostra a rua do Comércio e julgo ver ao fundo, do lado direito (onde se vê um pequeno carro branco), uma discoteca onde comprei o LP «Independência», de Teta Lando - o primeiro lançamento da Companhia de Discos de Angola (CDA), disco de canto livre, com o doce sotaque angolano. E onde me deixei surpreender com o nostálgico single «Flores para Coimbra», fado coimbrão na voz do meu conterrâneo António Bernardino - que o mundo inteiro, então, já consagrara. Discos que agora foi rever, neles apalpando saudades!
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