terça-feira, 30 de dezembro de 2014

2 985 - Quitexe e Angola, 30 de Dezembro de 1974!

Avenida do Quitexe, À esquerda, o edifício que foi a secretaria da CCS. Em baixo, Viegas e 
Miguel, furriel paraquedista de Setúbal, nos últimos dias de 1974. Há precisamente 40 anos! 


Quitexe, 30 de Dezembro de 1974!!!
Estávamos nós a antecipar a passagem do ano, tão longe dos chãos das nossas terras e do calor e afectos das nossas famílias e amigos. Minha mãe, que dentro de semanas faz 94 anos, já viúva ao tempo, mandou-me um aerograma, que agora releio e me emociona: «O Natal passou-se normalmente. A tua irmã passou por aqui com a menina e disse-me que tinha recebido correio teu e que estavas bem, mas tu dizes sempre que estás bem que até parece que nem estás na guerra. Espero que venhas rápido, já sabes de alguma coisa? Por cá, toda a gente diz que a tropa vem embora, mas nunca mais te vejo a entrar pela porta dentro».
Veria: às primeiras horas de 9 de Setembro de 1975. Depois do embarque da véspera, em Luanda, pela 10 horas da manhã.
E que aconteceu nesse dia 30 de Dezembro de 1974, que tivesse a ver connosco? O  general Silva Cardoso “esteve mais de duas horas reunido com Mobutu”, que era presidente do Zaire e cunhado de Holden Roberto, o presidente da FNLA. Analisaram “o processo de descolonização de Angola e outro territórios  portugueses”.
O mesmo dia foi tempo, segundo o Diário de Lisboa, de o Governo Provisório de Angola “refutar energicamente as acusação feitas em Kinshasa»,  pela AZAP, sobre «o caso dos 3000 refugiados catangueses que desde 1963 se encontravam em Angola e se recusavam regressar ao Zaire, apesar da amnistia decretada pelo presidente Mobutu”.
Oa refugiados, livremente, queriam ficar em Angola e, na sua maioria, estavam instalados na Lunda, com as famílias e “trabalhando ordeiramente”.
A AZAP era a agência de notícias do Zaire de Mobutu.
O mesmo comunicado, sobre outro assunto, dizia “não ter qualquer fundamento a afirmação da Agência AZAP, de que o Alto-Comissário Rosa Coutinho tinha tido encontros secretos, com o presidente do MPLA, Agostinho Neto, no campo de catangueses do leste de Angola”.
“Repudiando energicamente a linguagem usada”, pela AZAP, reporta o DL, citando o Governo Provisório,  que “não correspondia à cortesia e boa vontade com que as autoridades zairenses tem sido tratadas em Luanda”. Por isso, e no âmbito do “necessário esclarecimento”, uma delegação portuguesa iria viajar para Kinshasa, para se “dialogar com o presidente Mobutu”.
Era formada por Jorge Campinos, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, pelo comodoro Leonel Cardoso e pelo general Silva Cardoso - que, curiosamente (ou não) viriam a ser Altos Comissários.

Foi isto há precisamente 40 anos!

Sem comentários:

Enviar um comentário