segunda-feira, 23 de março de 2015

3 067 - Férias de Abril de há 40 anos e refugiados no norte de Angola

Cruz e Viegas, furriéis milicianos da CCS dos Cavaleiros do Norte na Rua de Baixo
(avenida) do Quitexe. Atrás, reconhecem-se o bar dos praças e a cobertura que serviu
de sala das Aulas Regimentais. Em baixo, Viegas e Cruz e Lisboa, 40 anos depois


A 23 de Março de 1975, eu e o Cruz fazíamos contas para o dia da partida para férias - que tínhamos combinado gozar por Angola, em Abril, conhecendo a beleza das suas terras e a alma das suas gentes. Por Luanda, Nova Lisboa, Lobito e Benguela e outras localidades do sul, por onde mourejavam familiares e amigos. E que tínhamos planeado visitar de surpresa. Assim foi!
Os Cavaleiros do Norte, aquartelados no BC12, continuavam a sua jornada uíjana e a imprensa trazíamos notícias: confirmava-se o repatriamento de angolanos refugiados no Zaire - seriam uns 400 0000!!!..., segundo a ONU; ou dois milhões, na versão da FNLA. A operação começara já em Setembro de 1974 e, agora, pretendia-se que esses refugiados fossem instalados em 20 campos de alojamento, ao longo da fronteira angolana e zairense.
A revista Afrique-Asie noticiava que «esses campos são dotados de equipamentos colectivos, fornecidos pelo exército do Zaire». A terceira fase dessa operação ainda segundo a revista, consistiria em «transportar e instalar esses refugiados em diferentes centros de permanentes, alojando-os em tendas de 7 pessoas», que se destinariam a ser «aldeias fortificadas (...), dotadas de equipamentos que permitem controlar as populações».
A operação custaria 20 milhões de dólares e seria financiada pelo Zaire, cujo presidente, Mobutu Seze Seko, era cunhado de Holden Roberto, presidente da FNLA. Zaire que, já agora, «estaria com dificuldades financeiras», porque «o FMI lhe recusou um empréstimo».
Adiantava a revista:«Consta que certas empresas mineiras e fazendeiros do Norte de Angola, que têm serias dificuldades de recrutamento de mão de obra, estariam dispostos a financiar a operação». A ser assim, concluía a revista, «Holden Roberto mataria dois coelhos da mesma cajadada: poderia recrutar no Zaire um exército para ocupar o norte de Angola e para apoiar os seus projectos de domínio do Governo de Luanda».

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