domingo, 27 de março de 2016

3 348 - Comandantes no Quitexe e massacres em Luanda

Cavaleiros o Norte no Quitexe, na avenida e em frente à Casa dos Furriéis: o 
tenente João Mora, os furriéis Neto, Viegas e Monteiro, o 1º. cabo Miguel 
Teixeira e os furriéis Armindo Reino (3ª. CCAV. ) e João Aldeagas (1ª. CCAV. 8423)


José Borges Martins, atirador de cavalaria
 da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala, com duas
crianças do Quitexe, na Estrada do Café
A 27 de Março de 1975, o tenente-coronel Almeida e Brito (ao tempo, comandante interino da ZMN) e o capitão José Diogo Themudo (comandante interino do BCAV. 8423, justamente substituindo aquele) estiveram no Quitexe - a casa-mãe dos Cavaleiros do Norte e onde ainda se aquartelava a 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel.
A visita foi de apresentação do novo oficial (José Diogo Themudo) que, na prática, substituía o major José Luís Ornelas Monteiro - o 2º. comandante do BCAV. 8423 que, nas vésperas do embarque para Luanda, foi «desviado» para o Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, por ordem do MFA.
Era quinta-feira e a imprensa desse dia dava conta de iminência de uma guerra civil em Angola. «Ontem Luanda viveu momentos dramáticos. Soldados da FNLA fuzilaram 50 guerrilheiros do MPLA, numa estrada do arredores da capital angolana, quando estes regressavam à cidade, desarmados, vindos de um centro de instrução militar. Pioneiros do MPLA também foram massacrados e dois deles foram fuzilados», relatava o Diário de Lisboa de 27 de Março de 1975, acrescentando que «no Hospital de S. Paulo estão internados 16 sobreviventes», para lá levados pela Força Aérea Portuguesa» - depois, para o Hospital Militar e que «ao todos, foram mortos 51 jovens».
A primeira página do Diário de Lisboa de 27 de
Março de 1975, há 41 anos!, sobra a ameaça de guerra
civil em Angola
«A matança foi feita com requintes de crueldade. Os homens foram capturados num ataque de surpresa e mandados subir para um camião, que os levou até um sítio isolado, onde eram abatidos com rajadas de metralhadoras. A certa altura, os presos, vendo a sorte que os espreitava, lançaram-se para debaixo da viatura, numa tentativa desesperada de fuga. Porém, o fogo das metralhadoras abateu muitos deles. Alguns conseguiram escapar, fingindo-se mortos. Menos sorte tiveram os que se encontravam gravemente feridos, mas que não podiam disfarçar o seu estado. A esses, era-lhes aplicado o tiro de misericórdia», relataram os sobreviventes acolhidos no Hospital de S. Paulo.
A tensão era elevada e temia-se o pior: uma guerra civil. O recolher obrigatório foi estabelecido pelo Alto Comissário, havia espancamentos e «a casa mortuária do Hospital de Luanda está pejada de cadáveres, vítimas das acções desencadeadas pela FNLA contra a população civil», como reportava o DL.
Eu e o Cruz estávamos a poucos dias de viajar para Luanda, em férias. Mas nem esta instabilidade, este verdadeiro clima de guerra, nos desentusiasmou. Para lá fomos, na mesma!

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