quarta-feira, 20 de abril de 2016

3 372 - Domingo de viagem angolana, no comboio de Benguela!!

A última fotografia da férias da Nova Lisboa huambana, com parte 
dos elementos da Família Neves/Polido: a Idalina, a Fátima, 
o Valter e 
o Rafael, com o furriel Viegas. A 19 de Abril de 1975

Capa do Livro «História da Unidade», em que se
fundamenta parta da história dos Cavaleiros do Norte
que há 7 anos aqui vem sendo narrada. E a bota
do encontro de 9 de Setembro de 1995


Aos 20 dias de Abril de 1975, eu e o Cruz viajámos no Caminho de Ferro de Benguela, de Nova Lisboa para esta cidade do litoral angolano. E daqui ao Lobito, onde ele tinha família. Dissemos adeus ao planalto huambano e à excelente gente que por lá nos recebeu em enorme mar de afectos, a caminho já do último terço das nossas férias angolanas. E eu também, para um abraço ao Zé Ferreira, um «Ranger» de Águeda, ali aquartelado (rodado de Maria Fernanda), antigo companheiro de escola e amigo até aos dias de hoje.
O Caminho de Ferro de Benguela atravessa todos o centro de
Angola, ligando países do interior africano ao porto do Lobito.
Tem 1344 kms. e está ligado ao sistema ferroviário da RD
Congo e Zâmbia. Por estas, à Beira (Moçambique) e
 Dar-es-Salam (Tanzânia) , junto ao Índico. E. por estas e
indirectamente, à África do Sul.
A viagem, por largas horas de uma madrugada/manhã inteiras - que envolveu uma refeição no vagão/restaurante... -, foi feita numa imensa mistura de sons e de cheiros novos, cantares, idiomas e saracoteios das centenas e centenas de populares que viajavam - brancos, eu e o Cruz e muito pouco mais! Viajavam e mercadejavam todo o tipo de mercadoria, a cada paragem da enorme composição, levadas em todo o jeito de transporte: em sacos, em embrulhos improvisados, em malas envelhecidas, em cestos, em todo o tipo de trouxas, produtos alimentares de produção própria, roupas, cigarros,  sei lá que mais...
O Lobito não me surpreendeu! Já lá tinha estado em Setembro de 1974, numa alongada viagem com o Orlando Rino, e a cidade mostrava-se moderna, cheia de vida, cosmopolita, com futuro!
Na véspera, Agostinho Neto, presidente do MPLA e falando em Lusaka, acusava que «Angola está a ser invadida por soldados  vindos do Zaire». 
«Esses soldados são militantes da FNLA me são por conseguintes considerados patriotas angolanos.Entram e em grande número e muito bem equipados. Estão até melhor equipados do que estavam durante a guerra contra o colonial português», disse Agostinho Neto, comentando que «estamos a levar a efeito um inquérito, para sabermos as origens de alguns desses soldados», numa evidente alusão à probabilidades de não serem angolanos, mas zairenses. 
Notícia do Diário de Lisboa: «Zairenses
invadem Angola - afirmou Agostinho0
 Neto». Há 41 anos!
«Só quando tivermos provas suficientes, diremos se são de facto todos soldados angolanos», disse o presidente do MPLA; que responsabilizou a FNLA «pelos recentes confrontações sangrentas de Luanda», durante as quais, segundo disse, «morreram centenas de pessoas».
Chegados ao fim da viagem, e bem hospedados, fomos principescamente recebidos pelos familiares do António Cruz, surpreendidos ao abrir da porta e dando de frente com o então jovem furriel miliciano mecânico rádio-montador dos Cavaleiros do Norte - o António José Dias Cruz, de Cardigos e agora aposentado da Póvoa de Santo Adrião, nos arredores de Lisboa. 
O jantar foi de horas, farto de mesa e grávido de fluída conversa sobre a vida! Estes momentos, eram, na excelência das férias que muito felizes levávamos pelo chão de Angola, eram os melhores, os de afecto maior, os mais sentidos e vivos! A guerra andava lá por longe!!! 
Por Carmona, o comandante Almeida e Brito, acompanhado do capitão José Diogo Themudo, esteve na CCAÇ. 4741, aquartelada no Negage. O dia, por coincidência, registou um incidente (ligeiramente citado no Livro da Unidade), o que «obrigou à realização de uma reunião conjunta com a FNLA, de modo a obter uma mentalização do que deverá ser a missão das NT e dos Exércitos de Libertação, neste período que decorre até à independência».
O Uíge começava a «aquecer»!






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