quinta-feira, 14 de julho de 2016

3 457 - Carmona em prevenção simples e combates em Luanda

Os furriéis milicianos Farinhas (que faleceu, de doença, há 15 anos, a 
14 de Julho de 2001, em Amarante), Neto e Viegas, no Quitexe, em 1974. 
O pequeno engraxador é o inesquecível Papelino. O que será feito dele? 


Os furriéis Luís Costa (morteiros) e Joaquim
Farinhas (sapadores), já na messe de oficiais do
Bairro Montanha Pinto, em Carmona
14 de Julho de 1975, segunda-feira! Ao fim da tarde chegaram notícias alarmantes de Luanda, onde MPLA e FNLA voltaram a terçar armas. A cidade,  reporto do Diário de Lisboa, «despertou às 5 da manhã com fortes rebentamentos de armas pesadas, que se mantiveram ininterruptamente durante duas horas e meia, num  ritmo de violência que ainda aquinão se tinha visto».
Os condutores Gomes e Vicente (que hoje
comemora 64 anos) e o atirador Aurélio
Júnior, o Barbeiro, em imagem do encontro
de 2015, em Mortágua
«Várias delegações da FNLA foram destruídas e ocupadas pelo MPLA (...) e perante esta situação receia-se que a FNLA exerça represálias nas zonas onde detém supremacia militar», acrescentava o DL, frisando que entre as várias delegações tomadas, estava a da Estrada de Catete, a maior do movimento de Holden Roberto e onde estavam 3000 soldados.
Represálias da FNLA nas zonas onde detém supremacia militar? Ora aí estavam Carmona e o Uíge, onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte, ia já para dois meses consecutivamente em alerta (desde os trágicos primeiros 6 dias de Junho) e desde o dia 12 em prevenção simples, para o que desse e viesse.
O Livro da Unidade, relativamente a essa segunda-feira de Julho de 1975 (dia 14), dá conta do «constante afluxo de refugiados da FNLA a Carmona», começado nesse dia. Eram homens e mulheres, e crianças, de outros movimentos (que não a FNLA), que procuravam segurança na capital do Uíge - o que, obviamente, mais sobrecarregava os Cavaleiros do Norte.
O BC 12, em Carmona, na saída da estrada
para o Songo, onde há precisamente 41 anos
se  aquartelavam os Cavaleiros do Norte
Recordar esses dias, é trazer à memória dias e dias de serviço permanente, algumas vezes sem meia hora de descanso, sempre de arma aperrada e de olhos bem abertos, promovendo, com o risco de vida, a segurança de uma cidade que generalizadamente nos hostilizava e criticava. 
«Ficar em Carmona, com o total descrédito das NT e perigosamente alvo das queixas e ataque da FNLA, nomeadamente reivindicando os desequilíbrios de outros locais», como refere o Livro da Unidade, era a alternativa a «sair, antecipando um regresso a Luanda, num salvar de face e evitar males futuros».
As rondas e patrulhamentos, muitos só com as NT, outras vezes integrados nas Forças Militares Mistas, eram uma tarefa exigente e arriscada. Não posso esquecer uma tarde, de dia esquecido no tempo, em que o grupo de combate que integrava foi alvejado por disparos  de um terceiro ou quarto andar de uma transversal da Rua do Comércio, creio que a do Restaurante Escape. A balas silvaram-nos aos ouvidos e os ricohetes só por sorte não nos atingiram. Alguns de nós ali poderiam ter morrido, falecidos pelas balas de um «inimigo» que diariamente defendíamos!
Um ano antes, a 14 de Julho de 1974 - há 42 anos!... -, os Cavaleiros do Norte jornadeavam no Quitexe e o comandante Almeida e Brito reuniu no Comando do Sector do Uíge, para «estabelecimento de contactos operacionais», e visitou a Fazenda Rio Duízo, «acompanhado de autoridades administrativas e/ou eclesiásticas».

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