quarta-feira, 23 de novembro de 2016

3 589 - Cavaleiros do Norte e o povo; os invasores de Angola!

O Papélino, «suposto» engraxador do Quitexe, aqui com os furriéis
 milicianos Joaquim Farinhas (falecido a 14 de Julho de 2005, em 
Amarante e de doença), Francisco Neto e Viegas

O furriel miliciano António Carlos Letras, da
 CCAV. 8433, com várias crianças de Aldeia Viçosa.

Era próxima a relação da tropa com os civis

A relação dos Cavaleiros do Norte com a comunidade civil uíjana - o povo da sua zona de acção... - era muito próxima, diria até (nalguns casos) que era íntima. Desde a que mais próximo lidada connosco, no dia a dia das povoações onde nos aquartelávamos, quer com o pessoal e famílias dos trabalhadores das fazendas - ora ainda nas que eram «sede» de companhias operacionais, ora pelas que eram espaço das nossas operações e patrulhas militares, ou simplesmente de escoltas às visitas do capitão médico Manuel Leal (que protegíamos). O mesmo não diria das
O inesquecível Papélino, engraxador do
 Quitexe que não engraxava nada... Era

«companheiro» diário da vida do quartel
relações com alguns gerentes e encarregados de fazendas, normalmente brancos europeus de narizes muito empinados e que pouca (nenhuma) afeição tinham pela tropa que os protegia. E alguns problemas tivemos com essas «excepções».
Se quisesse personalizar em alguém a magia do relacionamento da tropa com civis angolanos, com o povo africano que era a gente do nosso tempo da jornada uíjana, logo me lembraria do incontornável e inesquecível Agostinho Papélino, que se fazia passar por engraxador, sem nada... engraxar. Fazia de conta!!! Mas era «unha com carne» com a guarnição, passando de uns batalhões para os outros.
Papélino chamar-se-ia Agostinho e aparentemente não tinha família próxima. Era uma criança na pré-adolescência, esperto como um alho, mais sagaz que o que dava a entender..., o corneteiro-mor do Quitexe. Com uma mangueira de jardim, tocava todos os toques militares.
A 2 de Março de 1975, quando saímos do Quitexe, pediu-nos (a mim e ao Neto) para o trazermos para Portugal: «Leva-me nos puto, esfurrié!»
Não lhe respondemos e por mim,  passando-lhe a mão pela carapinha, dei-lhe uma nota de 20 angolares. Embrulhou-a na mão e fugiu, escondendo-se atrás das plantas da messe de oficiais e vendo-nos sair para Carmona. Soube que me procurou no BC12, algum tempo depois, mas nunca mais o vi.

Soares no Zaire,
Angola e Cabinda


O dia 23 de Novembro de 1974, há 42 anos!, foi o da chegada de Mário Soares a Kinshasa, onde foi participar nas comemorações da independência do Zaire. «Venho para restabelecer relações normais e amigáveis, mas também para discutir a independência de Angola, que desejamos se faça na paz, na calma e liberdade», disse o ministro português dos Negócios Estrangeiros, acrescentando que «o actual Governo de Portugal está sempre disposto a dialogar com os representantes de todos os movimentos de libertação».
Mário Soares, sobre a questão de Cabinda, afirmou que era «um problema de fundo», que, por via disso, não poderia ser tratado numa conferência de imprensa. E mais não disse.
Notícia do Diário de Lisboa com declarações
 do presidente Agostinho Neto

Países africanos
ignoram a invasão

Um ano depois e com o país independente e em guerra civil, o Presidente da República, Agostinho Neto, acusou «a maioria dos países africanos de ignorarem a invasão de Angola pela África do Sul e Zaire».
O líder do MPLA falava à APS, agência oficial argelina, e substantivou a acusação: «A maioria dos países africanos está a trair-nos, permanecendo silenciosa sobre tal situação e evitando a condenação da África do Sul». Também não poupou a OUA, porque «ainda não disse uma palavra sobre os invasores zairenses e sul-africanos», mas acrescentou que «nós seremos serenos e firmes na nossa atitude com os racistas».
Angola ia assim, há 41 anos!

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