segunda-feira, 27 de março de 2017

3 713 - Comandantes no Quitexe e mortes e fuzilamentos em Luanda

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, todos furriéis milicianos e à frente
 do bar A Cubata, em Santa Isabel: António Fernandes, Vitor Mateus Ribeiro

Guedes (falecido a 16 de Abril de 1998, em Lisboa e de doença), Ângelo
 Rabiço, José Querido e Agostinho Belo 
Grupo de angolanos das Forças Militares Mistas,
aqui na parada do BC12, em Carmona e há 42 anos 


A 27 de Março de 1975, o comandante Carlos Almeida e Brito (então interino da ZMN, desde 24 de Março e até 3 de Abril) visitou a 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel mas que, ao tempo, estava aquartelada no Quitexe. 
A razão era apresentar o 2º. comandante (e comandante interino) do BCAV. 8423 - o capitão José Diogo Themudo.
A Rua do Comércio e o Hotel Residencial Apolo, em
1974/75 e na cidade de Carmona, actual Uíge
Carmona ia no segundo dia de patrulhamentos mistos na cidade e principais acessos, sem incidentes especiais, mas com permanente e exigente atenção da parte das forças portuguesas - devido à latente (e evidente) desconfiança entre os elementos da FNLA e do MPLA.
Na verdade, eram evidentes as diferenças e animosidades (até) pessoais entre os homens dos dois movimentos emancipalistas - que, de resto, nem se esforçavam por as «esconder». E que se notavam, por exemplo, nas posições que ocupavam mos Unimog´s que transportavam as Forças Mistas - fossem mais à frente, ou mais atrás. 
Insultos, piadas e acusações eram vulgares entre eles, o que várias vezes obrigou a posições disciplinares dos comandantes (portugueses) das Forças Mistas. Com os riscos daí inerentes, por todos eles, obviamente, estarem armados e poderem reagir com maior ou menor perigo. Uma vez, depois da meia noite e na Rua do Comércio e frente ao Hotel Apolo, dois deles (um de cada movimento) tiveram de ser desarmados, para se evitarem males piores. Cada um deles reagia a provocações entre eleas e outras, vindas dos prédios vizinhos, de anónimos supostamente civis. 
A primeira página do Diário de Lisboa
de 27 de Março de 1975, há 42 anos:
«Angola | Ameaça de guerra civil»

Soldados da FNLA
fuzilaram 50 MPLA´s

O dia, uma 5ª.-feira e em Luanda, ficou dramaticamente marcado pela latente ameaça de guerra civil. «Ontem, Luanda vivei momentos dramáticos. Soldados da FNLA fuzilaram 50 guerrilheiros do MPLA, numa estrada próxima da capital angolana, quando estes regressavam à cidade, desarmados, vindos de um centro de instrução militar. Pioneiros do MPLA também foram massacrados e dois deles enforcados», relatava  do Diário de Lisboa.
«Os homens foram capturados num ataque de surpresa e mandados subir para um camião que os levou  ate um sítio isolado, perto de uma vala. Ali, à medida que iam descendo, eram abatidos com rajadas de metralhadora. A certa altura, os presos, vendo a sorte que os esperava, lançaram-se para debaixo da viatura, numa tentativa desesperada de fuga», relata(va) o DL, acrescentando que «alguns conseguiram escapar, fingindo-se mortos».
Inscrições da FNLA em
Luanda, de apoio à FNLA e
 e ao presidente Holden Ro-
berto, o «papá dos chefes
revolucionários»

Mais 21 mortos
e 81 feridos

O relato foi de alguns dos sobreviventes, precisando que menos sorte tiveram os que estava feridos, mas que não podiam disfarçar o seu estado. «A esses, era-lhe aplicado o tiro de misericórdia», noticiou o DL.
O vespertino de Lisboa, em serviço especial a partir de Luanda, sublinhava que «a casa mortuária de Luanda está pejada de cadáveres, vitimas das acções desencadeadas pela FNLA sobre a população civil» e que «começa(va) a desenhar-se a possibilidade de uma manifestação dos fa-
miliares». Entre as 22,30 horas de 25 de Março e as 17,15 de 26, entraram no Hospital de S. Paulo, segundo o seu di-
rector (Mac Mahan Vitória Pereira), «81 feridos com armas de fogo, alguns em estado muito grave, e 21 cadáveres de indivíduos desconhecidos mas igualmente vítimas do intenso tiroteio de armas ligeiras e pesadas, que afectam algumas zonas suburbanas da cidade».
Alguns simpatizantes do MPLA, ali internados, denunciaram o massacre numa fortaleza perto de Luanda, para onde a FNLA os levou e onde «alguns companheiros teria sido sumariamente executados a tiro ou arma branca». A médica do serviço de urgência disse «haver feridos a tiro e à punhalada».
Os ministros Melo Antunes e Almeida Santos reuniram nessa manhã de há 42 anos com o Alto Comissario e Colégio Presidencial (formado por Lopo do Nascimento (do MPLA), José N´Dele (UNITA) e Jony Eduardo (FNLA), mas do encontro não houve comunicado oficial.

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