domingo, 28 de maio de 2017

3 776 - Cavaleiros do Norte foram «árbitros» em Carmona!

Grupo de furriéis milicianos no varandim da messe e bar de sargentos
do Quitexe: Ribeiro e Fernandes (de mãos dadas), Viegas, Belo (de óculos),
Grenha Lopes (encoberto), Bento. Costa (morteiros) e Flora. À frente, Rabi-
ço, Graciano Silva e Joaquim Abrantes (de cacimbo) 


Cavaleiros do Norte em pose: 1º. cabo Victor Vicente e
Eduardo Tomé (da 2ª. CCAV. 8423) e, da CCS, os  1ºs. ca-
bos Victor Florindo e Alfredo Coelho (Buraquinho)

O dia 28 de Maio de 1974, véspera da nova data de embarque para Angola - que seria a 29, uma quarta-feira -, foi passado na tranquilidade dos deuses, a manhã pelo quartel e destacamento e uma ida à capela do campo militar, um almoço tranquilo na messe da sargentos do RC4 e, logo ao princípio da tarde e antes da chegada dos jornais vespertinos de Lisboa, uma inesperada ida a S. Miguel de Rio Torto - por onde, semanas antes e «desenfiados» a instrução, tínhamos passado no decorrer da IAO.
Furriéis milicianos em Santa Isabel; José Querido, Victor
Mateus Ribeiro Guedes (falecido a 16/04/1998, de doença),
António Fernandes, Ãngelo Rabiço e Agostinho Belo (óculos)
O dia foi de se saber, por comunicado dos Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, de mais um morto em Angola, em combate: o soldado António José Duarte da Silva, de Marmelede (Monchique), da incorporação de 1973 (a dos Cavaleiros do Norte.
Em Moçambique, faleceram o furriel miliciano Francisco José Nunes Gonçalves, que era de Vale de Santiago (concelho de Odemira), e o soldado João Carlos Mota Medeiros, de Pico das Canas, em Ponta Delgada (Açores). Da Guiné, era anunciada a morte de dois militares: os soldados Joaquim dos Santos Pinho, da Quinta (em  S. João da Madeira), e Domingos da Silva Ribeiro, de Bairro do Bosque, na Venda Nova (Oeiras).
A noite foi tempo para uma ida ao cinema do Campo Militar, mesmo em frente ao RC4,  para ver um filme, muito provavelmente alguma cowboyada americana, depois uma passagem pelo bar dos sargentos e a bebida de qualquer coisa, antes de ir parar a «vale de lençóis». Ao outro dia, o dia 29 de Maio de 1974, seria (e  foi) da partida para Lisboa e, daqui, o voo para Angola. A mala continuava pronta.
Combatentes do MPLA e da FNLA em Carmona

2 000 «mpla´s»
em manifestação

O dia foi também tempo de saber que «exigências políticas dos dirigentes nacionalistas africanos da Guiné Portuguesa estão, ao que se julga, a protelar um rápido acordo de cessar povo naquele território da África Ocidental» - que era esperado para a noite do dia anterior.
Os dirigentes nacionalistas guineenses consideravam que a questão da auto-determinação do território, a caminho da independência, já estava ultrapassado, por a Guiné já ter sido reconhecida por 84 países, mais de metade dos membros da ONU.
Angola foi tema de uma observação do ministro Almeida Santos, sobre  «uma manifestação de 2000 militantes do MPLA em Luanda» e de uma outra, também na capital angolana, classificando-a de «pequena manifestação de brancos, apreensivos pelo seu futuro».

Cavaleiros do Norte
no papel de árbitro

Um ano depois e com a crescente tensão no Uíge, os Cavaleiros do Norte continuavam a sua missão de segurança, nem sempre fácil - até. se mais não fosse, pelo levedado clima de desconfiança entre os movimentos de libertação e destes em relação aos Cavaleiros do Norte - que tinham, como se lê no Livro da Unidade, «uma enorme dificuldade em fazer vingar o papel de árbitro atribuído às NT como prioritária missão».
A questão de Angola, de resto e na manhã desse dia 28 de Maio de 1975, foi questão para a reunião de Conselho de Ministros, em Lisboa, preocupado com «a resolução dos problemas da descolonização», que, segundo o Diário de Lisboa, «tem estado a correr a cargo de uma comissão própria».
«Encontram-se cá alguns elementos da Comissão Coordenadora do MFA , que vieram fazer uma exposição às mais altas esferas, portanto à Comissão Nacional de Descolonização», comentou o ministro Almeida Santos, acrescentando que, quanto à Cimeira dos 3 movimentos de libertação, «o Governo está um pouco fora dela, porque os movimentos entenderam que deveria haver uma cimeira entre eles, como, aliás, aconteceu na primeira, a de Mombaça» - depois da qual «construímos o Acordo do Alvor».

Sem comentários:

Enviar um comentário