domingo, 18 de março de 2018

3 644 - O Buraquinho a comer abacaxi na cubata da Paulina



O 1º. cabo Alfredo Coelho, o Buraquinho, à esquerda, com 
um cacho de bananas na mão, a disputá-las com o Moreira

O 13 de Janeiro de 1975, uma segunda-feira, foi dia de a imprensa falar da iminência de ser anunciado o acordo Alvor. «Fonte segura indicou-nos que amanhã poderá chegar-se a acordo final», noticiava o Diário de Lisboa, na primeira página.
O comunicado oficial do final da noite da véspera, aliás, já sublinhava terem sido alcançados «progressos substanciais», com acordo em vários pontos fundamentais, nomeadamente no que se referia às estruturas governamentais de Angola» - acreditando-se até numa solução mais rápida que o previsto. E as negociações iam continuar no dia 13, a partir das 10 horas.

Independência a
11 de Novembro

O Presidente Costa Gomes garantia que «a independência ocorrerá este ano», tendo mesmo sido indicada uma data segura, embora sem confirmação oficial: 11 de Novembro de 1975.
Os dois dias anteriores - sábado e domingo, 11 e 1 de Janeiro - «forma dias inesgotáveis» de informações para os jornalistas. Almeida Santos, por exemplo, destacou «três ou quatro pontos quentes, nomeadamente os problemas da constituição do Governo Provisório e a organização das Forças Armadas dps três movimentos, em relação com as portuguesas e o respectivo comando».
Outr

Buraquinho era (é) homem de muitas estórias. Davam um livro!! Desde quando, na noite de S. Silvestre de 1974, «falcatruou» a corrida para a ganhar, encurtando passos dentro de uma viatura e depois cortando por uma das transversais da estrada do café para a rua de baixo. A vitória seria do Spínola, que a morte nos viria a «roubar» em Julho de 1975, vítima de acidente
Notável foi, também, a sua fuga para Lisboa, contada por ele, no encontro de Ferreira do Zêzere, e a forma como, já dentro do avião, no aeroporto de Luanda, resolver saltar, sem... escadas, para a pista.
Agora, o Buraquinho, como homem lendário da nossa épica jornada africana, vem-nos contar de como foi «apanhado» pelo Monteiro e pelo 2º. sargento Fernando Gomes, do Pelotão dos Morteiros, na sanzala Kadilongue - aí pela meia noite e meia hora de uma noite quitexana.
Pois bem, cá vai, na palavra escrita do Buraquinho:
«Eles iam na ronda e passaram pela sanzala, batendo à porta da cubata onde vivia a Paulina. Eu estava a essa hora com a Paulina, a comer abacaxi, e fiquei aterrorizado, porque não sabia quem poderia ser. Pensei no pior das hipóteses».
Então, conta o Buraquinho, a Paulina também assustada, perguntou: «Quem é?».
O Buraquinho, de abacaxi na mão e as pernas a tremer, ouviu uma voz e reconheceu o furriel Monteiro: «Fiquei tranquilo». 
A Paulina abriu a porta e lá estavam os dois. Continua o Buraquinho:
«Então, pergunta-me o Monteiro, ó Buraquinho, aqui a estas horas?»
Respondeu-lhe ela que «são coisas da vida», aquilo de estar na cubata da Paulina a comer abacaxi.
O Monteiro, que, não esqueçamos,  andava a rondar, aconselhou-o: «Vê lá se ganhas juízo, porque estás sujeito a trazer a cabeça debaixo dos braços...».
O Buraquinho, segundo ele agora diz, apanhou «um grande susto» e, fosse por isso ou porque já tinha acabado de comer o abacaxi, a verdade é se foi embora, no jipe dos militares.

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