terça-feira, 8 de dezembro de 2020

5 271 - O feriado de 8 de Dezembro pela terra uíjana do Quitexe de Angola

O furriel Viegas, do PELREC da CCS do BCAV. 8423, em frente à Igreja de Santa Maria
de Deus do Quitexe, a 24 de Setembro de 2019. Mais de 44 anos depois do adeus à vila
do Uíge angolano

O furriel Viegas sentado à entrada da Igreja
da Mãe de Deus do Quitexe. Na parede,
vêem-se placas, com nomes de mortos dos
dos massacres de Março de 1961

O dia 8 de Dezembro de 1974, há precisamente 46 anos..., foi domingo e feriado nacional - Dia da Imaculada Conceição ! - e tempo de ir à missa da Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, onde sacerdotava o padre António Albino Capela, titular da Missão que ficava mesmo ao lado do templo. 
O povo do Quitexe, de qualquer cor, era maioritariamente católico e, por isso mesmo, não era surpreendente a participação na eucaristia, a que se associavam muitos militares. Algumas vezes, não nesse dia, celebrava o capelão militar - o padre José Ferreira de Almeida, que precisamente em Dezembro de 1974 concluiu a sua jornada africana e regressou a Portugal.
Curiosamente, anos viriam, já em Portugal, a abandonar o sacerdócio e constituído família. 
Albino Capela
cerca de 2020
José Almeida
anos de 1980
António Albino Vieira Martins Capela pertencia à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, tinha 32 anos na altura e seguiu o professorado em Barcelos, onde reside. Casou e, já avô, tem um casal de filhos.  
José Ferreira de Almeida, alferes miliciano de patente militar, abandonou o sacerdócio em 1978/79 e ensinou Português em Viseu (é do Sátão), onde faleceu a 2 de Março de 1995, de doença cancerosa, aos 50 anos e quando preparava o doutoramento. Tem um filho, que mora no Porto.
Desse dia, e do tempo depois do final da missa, por lá fiquei (assim que esvaziou) em alguns momentos de recolhimento pessoal, cerrando os olhos e imaginando-me (mesmo aqui ao lado) na Igreja de Santo Adrião de Óis da Ribeira, a minha terra natal, na qual fui baptizado e onde cresci e aprendi os ensinamentos da catequese.
Recordo uma foto (não desse dia), em que estou sentado nas escadas da entrada do templo e em que se vêem, na fachada, algumas das placas de mármore com nomes de muitas das vítimas mortais dos trágicos incidentes de 1961.
Cassetes com algumas das memórias
 angolanasdo furriel miliciano
Viegas, de 1974 e 1975

Cassetes com algumas 
das memórias angolanas 

A tarde desse dia, que vivi muito nostálgico, foi tempo de (re)leituras no meu quarto (e do Neto, já regressado de férias) e audição da cassete que tinha levado daqui, com os repeniques e sinais de chamada da torre sineira da minha aldeia - que eu mesmo gravara e tocando-os eu mesmo. Foram momentos intensamente sentidos, diria que emocionados e emocionantes.
Era domingo, mas dia de correio - que o 1º. cabo Tomás sempre ia buscar a Carmona, chegado de Lisboa por via aérea e SPM. Recebi o jornal da terra e devorei as notícias. As notícias e os anúncios, de uma página à última.
Os Cavaleiros do Norte de Santa Isabel, os da 3ª. CCAV. 8423, continuavam a sua operação de mudança para o Quitexe. Iam abandonar a mítica fazenda - aquartelada por NT desde o início da guerra colonial, em 1961.
Luís Alves

Alves, 1º. cabo de A. Viçosa,
68 anos na Covilhã !

O 1º. cabo Luís Filipe Pereira Alves, da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa, festeja 68 anos a 8 de Dezembro de 2020.
Cavaleiro do Norte com a especialidade militar de atirador de Cavalaria, é natural de Barco, freguesia do município da Covilhã, lá voltou a 10 de Setembro de 1975, no final da sua jornada africana do Uíge angolano. 
Agora já aposentado, mora agora  muito longe, na Coutada, também no município serrano da Estrela, para onde vai o nosso abraço de parabéns!

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