quarta-feira, 31 de março de 2021

5 385 - As férias de Abril de 1975! A violação do acordo Portugal/movimentos!

O furriel Viegas, em férias militares abrilinas. e o capitão Domingues, da ZMN (à direita)
em tempos da Luanda de há 46 anos, com a família Resende: Fátima e José Bernardino,
com as duas filhas, e Albano (ao centro), na baixa da capital de Angola

A Estação dos Correios da baixa de Luanda (foto da net)-
Daqui, telefonei em segunda-feira de Páscoa de 1975 e
 de visita na minha aldeia. Há precisamente 46 anos!

Segunda-feira, 31 de Março de 1975! Saímos do Katekero (eu e o Cruz) para o mata-bicho na Portugália, ainda não eram 8 horas da manhã e fazia um calor intenso, quase sufocante. 
A leitura da imprensa do dia ocupou-nos o tempo de matabichar e fazer horas de espera para a chegada do conterrâneo Albano Resende (às 10). Depois, caminhámos pela marginal, embrulhados no bulício de uma baixa que estava longe dos incidentes entre os movimentos - que eram lá para a alta e para os bairros suburbanos. Passámos ao lendário Pólo Norte e, ao darmos de frente com os Correios, ocorre-me a loucura de telefonar a minha mãe, que por aqui (onde agora escrevo, em Ois da Ribeira, município de Águeda) fazia o luto da morte de meu pai (um ano e pouco antes) e da minha jornada africana de Angola, na guerra colonial. Era dia de visita pascal na aldeia!
Telefonar para a Europa, ao tempo, não era vulgar - era quase um atrevimento. Não era como agora, na era dos telemóveis, em que ligamos na hora e na hora falamos. 
Ao tempo, tínhamos de pedir a ligação à operadora de serviço e aguardar que tal acontecesse. O que poderia levar horas. No caso concreto, a «loucura» não foi bem sucedida, pois a chamada para a vizinha Celeste Tavares não apanhou a minha mãe em casa. Tinha ido beijar a cruz a casa de familiares. Falei com a vizinha, que me pediu notícias de uma irmã radicada em Luanda e quem fazia tempo não ter notícias - a Benedita (que por cá faleceu em 2016). Naquele tempo, existiam 7 telefones na minha aldeia - público, um deles!
Luanda e o Pólo Norte (à esquerda), «templo»
dos bons gelados e de boas e namoradeiras
 conversas, lá pelos anos 70 do século XX!

Violação do acordo
Portugal/movimentos!

O jornal diário «Liberdade e Terra», afecto à FNLA, dava conta da visita do ministro Almeida Santos a Kinshasa, onde reuniu com Holden Roberto (FNLA) e, depois, com Mobutu, presidente do Zaire.
A situação político-militar evoluía: «Nas últimas 48 horas, houve violação do acordo entre os três
O restaurante A Floresta, que ficava
próximo da Sé, na baixa de Luanda
(foto da net)
movimentos de libertação e o Governo português, mas estas ocorrências não prejudicam o regresso à normalidade, ou à quase normalidade, embora se pressinta um estado latente de tensão», reportava José António Salvador, o enviado especial do Diário de Lisboa, que citamos.
Almeida Santos, entretanto chegado a Lisboa, ido de Kinshasa, comentava «a possibilidade de novos incidentes» e de estes «degenerarem numa guerra civil» angolana. Admitiu a possibilidade mas manifestou a convicção de «não esperar tal probabilidade» e, por outro lado, «a certeza da neutralidade portuguesa».
O almoço do dia, com o Cruz e o Albano Resende, foi no restaurante Floresta, bem perto da Sé de Luanda e regado de vários «canhangulos» - como por lá se chamava às canecas de cerveja, cada qual pr´aí com um litro da dita. Boas férias, bem começadas! 
O final da tarde e a noite iam ter o saudoso Alberto Ferreira com «anfitrião». Por Luanda jornadeava ele, com cabo especialista da Força Aérea.
José Oliveira,
furriel da CCAÇ.
209/RI 21, que 
festeja 70 anos
a 01/04/2021
 
O furriel Oliveira e o capitão Victor,
da CCAÇ. 209/RI 21, e esposa


Oliveira, furriel do Liberato
70 anos em Águeda !

O furriel miliciano Oliveira, vagomestre da CCAÇ. 209/RI 21, festeja 70 anos a 1 de Abril de 2021.
A sub-unidade do BCAV. 8423 era essencialmente formada por militares angolanos e alguns quadros europeus. Que normalmente iam em rendição individual. Foi o caso de Zé Marques (o furriel miliciano Oliveira), que, natural do Caramulo, foi nosso companheiro de bancos da escola, em Águeda. Ainda assim,  cumpriu 22 meses da sua jornada angolana.
Jornadeou pelo Liberato, onde conheceu dois comandantes: os capitães Baracho (oficial do quadro) e, depois, o miliciano Victor Correia, oficial que foi de alferes a tenente e depois comandou a companhia.
O furriel Oliveira regressou a Portugal e chegou à sua casa do Caramulo, pelas 23 horas da noite de Natal de 1974! Ainda a tempo de consoada.
Funcionário bancário da Caixa Geral de Depósitos, já aposentado, reside em Águeda - onde estudou, trabalhou e se radicou.
Parabéns!

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