Notícia do Diário de Luanda sobre os confrontos do Bairro do Saneamento. Os dois militares portugueses parecem ser o 1º. cabo Ezequiel Silvestre e o alferes miliciano António Garcia, Cavaleiros dos Norte do PELREC do BCAV. 8423. Recorte cedido pelo (1º. cabo) Rodolfo Tomás | O alferes Garcia e o furriel Viegas no Quitexe, momentos antes da saída para uma operação militar pelas picadas e matas do Uíge |
A cidade de Luanda acordou a noite de 8 para 9 de Agosto de 1975, há 46 anos, com o som estridente dos violentos combates do bairro do Saneamento - de onde o MPLA queria expulsar a FNLA. Um grupo de Cavaleiros do Norte, ao tempo aquartelados no Campo Militar do Grafanil, foi chamado ao local, logo ao abrir da manhã. «Violento tiroteio de armas ligeiras e pesadas fazia-se ouvir hoje de manhã, em Luanda, à medida que se generalizava uma ofensiva desencadeada pelo MPLA, esta madrugada, com a intenção de expulsar os últimos militares e políticos da FNLA que se encontrava instalados no luxuoso Bairro do Saneamento, por detrás do Palácio do Governador», relatava o Diário de Lisboa dessa tarde. O MPLA exigia a saída da FNLA do Governo de Transição, alegando que «perdeu o direito de participar, por via do Acordo do Alvor». Governo de Transição que, de resto, mal funcionava: já não participavam os ministros e secretários de Estado da FNLA e os da UNITA preparavam-se para abandonar Luanda. A situação era dramática, muito perigosa (perigosíssima...), a maioria das representações diplomáticas fechou os seus escritórios de Luanda e o Consulado Americano aconselhava os seus compatriotas (uns 120) a «abandonarem Angola o mais rapidamente possível». E já se tinham retirado 50 franceses e 30 ingleses. No dia seguinte e via porto do Lobito, a República Federal da Alemanha ia evacuar uma centena dos seus cerca de 800 cidadãos instalados em Angola. | Cavaleiros do Norte do PELREC: 1º. cabo Ezequiel Silvestre e alferes Garcia. Serão eles? |
Cavaleiros do Norte no Bairro do Saneamento
O BCAV. 8423 foi chamado a intervir e, nesse sábado, foi muito apressadamente formado um grupo de combate, comandado pelo alferes Garcia, à base de militares que estava no extinto Batalhão de Intendência - desde a rotação de Carmona, ali chegados (os da coluna terrestre) às 12,45 horas de 6 de Agosto de 1975. O Diário de Luanda, jornal da tarde desse mesmo dia - que o Rodolfo Tomás me fez chegar às mãos (ver o recorte, na imagem) - publicou uma fotografia onde se parecem reconhecer o alferes miliciano António Garcia e o 1º. cabo Ezequiel Silvestre, ambos do PELREC. Poderão ser. A legenda da foto é esta: «Tropas do Exército Português controlam a operação de retirada dos elementos do FNLA do Bairro do Saneamento, onde, sexta à noite e sábado de manhã, se registaram confrontos armados. os elementos do ELNA foram transferidos para fora da capital». Infelizmente, o alferes António Garcia não pode dar-nos o seu testemunho. Faleceu a 2 de Novembro de 1979. O 1º. cabo Ezequiel Silvestre lembra-se de ter ido, mas não fixou pormenores. Ainda relativamente a Luanda e nesta data, confirmou-se a retirada das forças da UNITA - para Nova Lisboa e Lobito. Em Luanda, apenas ficaram os seus dirigentes políticos. A cidade ficou «por conta» do MPLA. Apenas lhe faltava expulsar os FNLA´s que se acantonavam no Forte de S. Pedro da Barra.
| Jonas Savimbi, presidente da UNITA |
Ataque à UNITA na Av. dos Combatentes
O dia foi também de confrontos na Avenida dos Combatentes, onde foi atacada a sede da UNITA, por homens armados e desconhecidos. «Não identificados», relatava a imprensa luandina do dia, referindo que o tiroteio provocou pelo menos 3 feridos, entre os defensores do espaço do movimento de Jonas Savimbi. O local foi de grande concentração e movimento de carros pesados, como que confirmando a saída da UNITA para o sul - onde procuraria «concentrar forças». O objectivo seria «assumir uma posição de força», a pretexto de um pretenso atentado ao avião pessoal de Jonas Savimbi - que estaria a ser preparado em Silva Porto, cidade que era controlada pela UNITA, depois de um acordo com o MPLA, que aceitou retirar, lá deixando apenas uma delegação política.
| O furriel Aldeagas à civil e em 1975 |
Furriel Aldeagas, 69 anos em Estremoz
O furriel miliciano João Matias Mota Aldeagas, Cavaleiro do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a da mítica Fazenda de Zalala, faz 69 anos a 11 de Agosto de 2021. Atirador de Cavalaria de especialidade militar, também jornadeou por Vista Alegre/Ponte do Dange, Songo e Carmona e regressou a Portugal no dia 9 de Setembro de 1975. Ao Monte da Raspadinha, na freguesia de Santa Vitória do Ameixial, concelho de Estremoz. Alentejano dos bons, dos chãos e companheiro de sempre, fez vida profissional pelas suas bandas e é empresário agrícola bem sucedido. Mora na Estrada do Giz e para lá, e para ele, vai o nosso abraço de parabéns. |
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