terça-feira, 6 de setembro de 2022

6 917 - 6 de Setembro de 1975, a 2 dias do regresso a Portugal! O (não) «roubo» das caixas de whisky !...

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Os Cavaleiros do Norte da CCS no último encontro anual, o de 1 de Junho de 2019, em Rans
(Penafiel). E já lá vão 3 anos, devido á pandemia da COVID 19. Até sábado, companheiros!

O capitão Domingues e o furriel Viegas, em Luanda e
com os irmãos
 Albano e José Bernardino Resende, com
a esposa Fátima e as filhas deste casal

Os Cavaleiros do Norte da CCS vão encontrar-se no próximo sábado, em Braga, festejando os 47 anos da chegada de Angola. Que foi a 8 de Setembro de 1975. 
Mataremos e avivaremos as saudades «mortas» e multiplicadas pelos anos de pandemia.
Que contradição esta !!!...
E que dia será o de sábado próximo!!!
Há 47 anos, no sábado de 6 de Setembro de 19785, Cavaleiros do Norte estavam a apenas dois dias da operação aérea de regresso a Portugal e, cada qual por seus meios, fazem despedidas de quem lhes é mais próximo, familiares, amigos e conterrâneos que vivem por Luanda bairros periféricos.
blogger, à boleia do
 conterrâneo Albano Resende, percorreu a cidade de Luanda de lés a lés, para abraços de despedida e conforto para os que por lá vão ficar, alguns com as famílias: os irmãos Resende (José Bernardino, a esposa Fátima e filhas, Manuel Maria e Albano), Cândida (marido e filho), Zé Martinho (esposa Emília e filhos), Neca Reis (o Taipeiro, esposa e filha), Mário e Benedita (e filha Fernanda, genro e netos), Clemente (esposa e filha), João Lopes. De Nova Lisboa e Gabela, não chegavam notícias dos irmãos Cecília (marido Rafael, filhos Idalina, Fátima, Saudade e Valter e mãe Isolina, minha madrinha de baptismo e já falecido) e Mário Neves (esposa e 4 filhos), do Anacleto, Leontina e família, e o chegar do dia da nossa partida apertava-nos a alma.
De toda esta amiga gente, já faleceram José Bernardino, Cândida, Neca, Bendita, João Lopes, Clemente, Rafael, Isolina, Mário Neves e Leontina
Percorremos o aeroporto, onde se concentravam milhares de civis à espera de boleia para Lisboa, nas não achámos ninguém dos «nossos». Prometeu o Albano que, nos dias seguintes, continuaria a passar por lá e fomos à Emissora Oficial e Angola, para saber de algum recado das nossas mensagens para saber dessa gente. Nada soubemos, até ao dia da partida!
Brigadeiro Ferreira de Macedo, Agostinho Neto e almi-
 rante Leonel Cardoso (de pé) e comandantes, do MPLA, 

Magalhães Paiva (Nyumba), Jacob Caetano (Monstro 
Imortal) e Zacarias  Pinto (Bolingó). Data desconhecida

A missão que
ninguém queria!


O novo Alto Comissário de Portugal em Angola chegara na véspera a Luanda e a imprensa deu conta das suas intenções.
«A construção de um país não pode ser obra  de uma dúzia de dirigentes mas sim de um povo», disse o almirante Leonel Cardoso, depois de se lamentar: «Parti de Lisboa sem o conforto da presença no aeroporto de qualquer responsável político ou militar, ou seus representantes, a levar-me uma palavra de despedia de simpatia e de encorajamento».
O novo Alto Comissário Português em Angola acrescentou que «não será este facto, talvez único de embarque de dezenas de pessoas a qual alguma vez coube a honra de governar Angola, que fará esmorecer a sede em que venho animado e me levou a aceitar a missão que ninguém queria».


Neto, Viegas e Monteiro (no Quitexe, em 1974) 
moraram em Viana, de Angola, de 4 de Agosto
 a 7 de Setembro de 1975

O (não) «roubo» das
caixas de whisky !...

A 6 de Setembro de 1975, fizemos (eu, o Neto e o Monteiro) as malas para levar de Viana para o Grafanil, onde seriam (e foram) juntas às de toda a outra malta da CCS. Em mão, no avião que nos trouxe para Lisboa, apenas traríamos bagagem pequena.
Julgo ter sido desse dia um incidente no posto da PSPA, entre Viana e o Grafanil, onde fomos interpelados por homens do MPLA, armados, que a todo o custo nos queriam revistar o pequeno carro do Neto e levar as caixas de whisky que religiosamente guardáramos para trazer. No mesmo sítio, poucos dias antes, a interpelação fora dos chamados pioneiros - jovens armados, os do chamado poder popular!!! - e o Neto, como sempre muito mais impulsivo que eu, reagiu à intimação de forma violenta e rapou, até, de um revólver que tinha comprado em Carmona. Eu, devo ter ficado de todas as cores.
«Somos militares!...», gritou-lhes o Neto, a ameaçar que dava cabo de toda a gente, se não nos deixassem avançar.
Nós estávamos à civil (íamos ao quartel entregar a bagagem e seguir para Luanda) e pouco dispostos a deixar-nos roubar, pelo que essa de nos revistarem o carro, era coisa que não aceitávamos. 
Os PSP´s presentes (uns três ou quatro, não mais...) nada fizeram, para além de encolherem os ombros e olharem, quase indiferentes, os homens a ameaçarem-nos e com uma metralhadora em cada mão!!! Eu, molhava-me de suores frios, sem arma; o Neto, de revólver na mão, barafustava o mais alto que lhe dava a garganta!
A situação acabou por se resolver, mas não esqueço o medo que senti nessa manhã.
«Sabes o perigo que corremos?», perguntei eu ao Neto, já no Grafanil e ainda lívido.
« F....-os a todos», disse-me ele, convicto da eficácia do revólver que comprara em Carmona e sempre trazia no bolso, quando em trânsito à civil.

José Nunes (2017)

Nunes de Aldeia Viçosa,
faz 70 anos em Leiria!

O soldado José Nunes, condutor-auto dos Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa e comandada pelo capitão José Manuel Cruz, festeja 70 anos a 8 de Setembro de 2022. 
José Nunes, assim mesmo e apenas, é o seu nome completo e a subunidade também passou pelo BC 12, em Carmona - a capital do Uíge e que tomou este nome apos a independência. 
Regressou a Portugal no dia 10 de Setembro de 1975, a Maceira Liz, nos arredores de Leiria. Lá continuou e lá vive, agora no Vale do Salgueiro, da freguesia da Maceira. Foi o organizador do encontro de 2011, a 24 de Setembro, com almoço no Casarão. Para ele vai o nosso abraço de parabéns! E venham mais felizes anos para este companheiro de Leiria.

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