sábado, 17 de setembro de 2022

6 928 - Memórias de Zalala em livro do furriel Branco da CCAÇ. 4211 - que a 1ª. CCAV. 8423 substituiu!

 

Ribeiro e Branco, o autor. dois furriéis de Zalala e da CCAÇ. 4211, que a 1ª. CAV. 8423
substituiu a 7 de Junho de 1974. Aqui, com Viegas, furriel da CCS do BCAV. 8423. Esta
arde, na apresentação do livro «Café sem Açúcar - Angola 1974/1974»

Combatentes de Zalala: o capitão Castro Dias, de óculos
e o último comandante militar da mítica fazenda, com a
 última Bandeira Portuguesa. À esquerda, os furriéis
Ribeiro e Branco (da CCAÇ. 4211) e Viegas, à direita,
da CCS do BCAV. 8423



A mítica Fazenda Zalala, no norte angolano do Uíge, foi hoje evocada em livro. Livro escrito pelo furriel Joaquim Matos Branco, que por lá foi mecânico e combatente da 1ª. CCAÇ. 4211, a imediatamente antecessora da 1ª. CCAV . 8423.
O «Café sem açúçar - Angola 1974/1975».
A apresentação decorreu esta tarde, na Casa do Povo de Valongo do Vouga, em Águeda, de onde é natural o autor, e o «Cavaleiros do Norte» esteve lá, por ele convidado. Fomos companheiros de escola nos anos 70, quando se dava pelo epíteto Palhaço, que ainda hoje o faz sentir orgulhoso o seu trajecto de vida.
As últimas páginas do livro incluem um depoimento do capitão Davide de Oliveira Castro Dias, comandante da 1ª. CCAV. 8423 dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423.
A última guarnição de Zalala!
De lá saída a 25 de Novembro de 1974, rodando para Vista Alegre e Ponte do Dange. 
A 10 de Fevereiro de 2020 e depois de uma reportagem na SIC,  foi possível reunir, em Águeda, um quarteto de «actores» de Zalala: os furriéis milicianos: Branco, esse mesmo (o Palhaço), e Ribeiro, ambos da CCAÇ. 4211, e Viegas, da CCS do BCAV. 8423, com o capitão Castro Dias, que levou a última Bandeira de Portugal hasteada em Zalala. Arriada a 25 de Novembro de 1974.
Na altura, levou também um registo pessoal das suas emoções desse histórico dia, o do fecho do quartel de Zalala. São parte da obra literária de Joaquim Matos Branco e recordamo-las:
Imagem de Nossa Senhora de
Fátima e o furriel Branco,
em Zalala (1974)

Zalala, a mais rude 
escola de guerra ! 

«O tempo decorreu e, meses depois, chegou a altura de sair de Zalala, fechando o quartel. Tudo foi acertado com os civis e o comando e na altura da rotação levámos tudo. Caixotes e mais caixotes, documentos do comando, pertences pessoais, armamento, viaturas, móveis e todo o recheio do quartel.
Também recolhi uma imagem de Nossa Senhora de Fátima com cerca de 70 centímetros, com terços e algumas mensagens, que colocada num pedestal, pequeno altar, servia de local de culto, recolhimento, de colocação de ex-votos e pelo menos por uma vez, de missa com o padre do Quitexe.
Revi a imagem no nicho, há dias (Janeiro de 2020), numa reportagem que a SIC transmitiu sobre a correspondência enviada à Senhora de Fátima ao longo dos anos. Nessa reportagem, foi entrevistado um militar que tinha estado em Zalala, numa Companhia anterior, que eu fui render, e entre as várias fotos que mostrou, aparecia pintada, ao longo da parede dos terreiros de secagem do café, a célebre frase «Zalala, a mais rude escola de guerra». 
Numa outra foto que mostrou, por ele estava a imagem da Senhora de Fátima no seu pequeno altar de Zalala.
A imagem foi entregue, em 1975, no Arciprestado de uma cidade da Beira Alta onde o clérigo responsável era familiar da minha futura esposa. Presumo que ainda se mantém com as referências que cuidadosamente anexei à imagem.
Trouxe também a Bandeira Portuguesa que todos os dias era hasteada e retirada com respeito e ritual militar.
Os furriéis Ribeiro e Branco e o capitão Castro Dias
a desfiarem memórias de Zalala num álbum de 
Angola, a 10 de Fevereiro de 2020

O orgulho do fecho
de 500 anos de colonialismo !

A Bandeira Portuguesa de Zalala, que significava a nossa ocupação de centenas de anos, a colonização. Foi, simbolicamente, a retirada de Portugal desta parcela do norte de Angola - a mais rude escola de guerra. Ainda hoje, quando relembro esse momento, sinto um friozinho nas costas.
Eu, o último capitão em Zalala, arriou-a do mastro com sentimentos miscigenados. 
Ainda a mantenho.
Senti, nesse momento, por um lado, o orgulho do fecho de 500 anos de colonialismo e a entrega do território aos seus legítimos proprietários e, por outro lado, o saudosismo e a tristeza inerente à entrega de terras que só com esforço, dedicação e sacrifício de muitos portugueses, produziram riqueza e a valorização dessas paragens.
Obviamente, riqueza extrema para uns poucos, intermédia para uns quantos, normalmente os pequenos fazendeiros, os seus encarregados e os comerciantes, os «brancos». Para todos os outros, a quase totalidade, que se deixavam seduzir por algum ilusório e passageiro bem-estar, ficava o pouco dinheiro ganho, a fuba e o peixe seco do contrato quase escravo. O rádio, a pilhas, os óculos escuros e por vezes a bicicleta, completavam a miragem.
DAVIDE CASTRO DIAS
(voltaremos ao assunto)

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