terça-feira, 25 de agosto de 2015

3 232 - FNLA a ser rearmada através do aeroporto de Carmona

O furriel Viegas em Nova Lisboa, com a Família Neves: Saudade, Fátima, 
Idalina, Viegas e Valter. Rafael Polido, o pai, à frente. Há 40 anos, a dúvida 
era saber do que era feito desta gente

MPLA e UNITA, há 40 anos, mantinham a
janela aberta para acordos. É o que se conclui da
notícia do Diário de Lisboa de 25 de
Agosto de 1975

A 25 de Agosto de 1975, as forças armadas portuguesas abandonaram definitivamente Santo António do Zaire, chegando «sem incidentes» a Luanda, dois dias depois». Soube-se, por esse tempo, que o encontro entre MPLA e UNITA, previsto para o dia 21, não se tinha realizado porque os homens de Jonas Savimbi consideraram haver falta de protecção. Ter-se-ia realizado na Base Aérea 9, em Luanda, e, no ar, ficava a probabilidade de se realizar em Lisboa.
Angola continuava em guerra e um dirigente do MPLA, citado pelo Diário de Lisboa, admitia que «durará pelo menos mais dois ou três anos». Mas, assegurava, «venceremos no terreno». Os combates «prosseguiam diariamente, entre os movimentos rivais, sem nunca se encontrar um vencedor definitivo».
O MPLA, apesar dos desmentidos dos Estados Unidos, garantia que aviões Skymaster «estariam a realizar um vaivém entre Kinshasa (Zaire) e Carmona (norte de Angola), onde estão concentrados importantes tropas da FNLA». Esses aparelhos, e citamos o Diário de Lisboa, «estariam a fornecer armamento, incluindo canhões de longo alcance».
O mesmo MPLA fazia constar que «200 instrutores chineses encontrar-se-iam a uns 80 quilómetros ao norte de Luanda, perto do Caxito» e que «mercenários do Zaire, Tunísia e afro-americanos combateriam ao lado da FNLA» - movimento que, por sua vez, denunciava o auxílio russo ao MPLA. «Rumores não desmentidos pelo MPLA aludem a próxima chegada ao porto do Lobito de um navio polaco transportando armas», noticiava o Diário de Lisboa . E um representante do Gabinete de Informação do MPLA, citado pelo mesmo jornal, admitia que «temos efectivamente apoio de países amigos», embora sem precisar se era, ou não, ajuda militar. Países como a (extinta) URSS, especialmente, e outros, do leste europeu.
Por mim e ao tempo, procurava notícias de familiares de Nova Lisboa, nomeadamente da família de Rafael e Cecília Neves - com quem não conseguia contactar há largas semanas. Pelo telefone e muito menos por carta. E também de Clemente Pinheiro, na Gabela - para além dos muitos conterrâneos moradores na área metropolitana de Luanda. Correio recebido de minha mãe, alarmou-me para a situação da família Neves (nossos familiares), que intensamente tinha procurado no aeroporto de Luanda, entre os milhares de refugiados que ali, dramaticamente, esperavam voo para Lisboa. Nunca os encontrei. Só na nossa aldeia, dias depois de chegar de Angola - depois de 8 de Setembro de 1975.
E, em Luanda, só soube que estava viva a família de Mário Coelho e Benedita Reis porque, na manifestação de civis em frente ao Palácio do Governo, eles apareceram em grande plano fotográfico, entre milhares de pessoas, na primeira página do jornal A Província de Angola.

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