sexta-feira, 6 de julho de 2012

1 340 - O transporte de valores do Banco de Portugal

Delegação do Banco de Portugal em Carmona (foto de Jorge Oliveira)


Os dias de Julho foram quentes, por Carmona. E não só pelo calor africano que nos abria os poros de suor e escaldava os quicos da cabeça e a pele descoberta dos camuflados. Era crescente a instabilidade e repetidas e perigosas as escaramuças. 
A FNLA, senhora da guerra da zona, «vencedora» dos incidentes dos primeiros 6 dias de Junho, fazia questão de conflituar a paz que se desejava. A tropa portuguesa, e cito do Livro da Unidade, era «perigosamente alvo das queixas e dos ataques da FNLA».
Os patrulhamentos urbanos, eram uma inquietação. Eram um perigo latente, a cada vez que saíamos do BC12, e, por horas da noite adentro - noites cheias de sombras e de alguns medos! -, acautelávamos a segurança das populações, até que a madrugada nascesse. 
A comunidade civil, apupava-nos, vaiava o nosso esforço e até a nossa dignidade. Criticava, principalmente a população branca. Cuspia, quando passávamos!
A um qualquer dia que a memória não retém (nem dele tenho apontamentos) fomos chamados para uma escolta muito especial: o transporte de valores da delegação uígense do Banco de Portugal. E não foi só o PELREC. Outros grupos de combate foram chamados e posicionados ao longo do percurso, até ao aeroporto. Aprudentou-se segurança e mais segurança, para se evitar um assalto. Dizia-se, à boca fechada, que os malões levavam milhões de contos - em dinheiro, ouro, diamantes, peças raras, objectos e documentos! Não sei, nunca saberemos.  
A carrinha blindada chegou, de não sei onde! O carregamento foi rápido e rápida foi a saída em direcção ao aeroporto. Aqui, entrou na pista e gente que nunca víramos carregou os malões para um avião, que voou para Luanda. Porventura, nunca nós, Cavaleiros do Norte, estivemos tão próximos de tão grande fortuna!

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