Fátima e José Bernardino Resende (com as filhas), Albano
Resende, furriel Viegas (à civil) e capitão Domingues (primo e Fátima) em Luanda (1975)
Resende, furriel Viegas (à civil) e capitão Domingues (primo e Fátima) em Luanda (1975)
O Julho de 1975 não foi nada fácil por Carmona (como por aqui tem sido lembrado), mas muito mais dramático foi por Luanda - onde, durante semanas, se travaram intensos combates entre os três movimentos. Falava-se, avulsamente, da chegada de milhares de cubanos, para apoiar o MPLA e a cidade esvaziava-se.
É dos primeiros dias do mês um desenfianço meu a Luanda, onde queria entregar a Fátima Resende a aparelhagem de som, que ainda hoje adorna a minha sala de estar, sem, já funcionar. Ela vinha a Portugal e dispunha-se a ser portadora da «encomenda». Tinha de a lá ir levar e, por via terrestre, era (quase) impossível, devido às barricadas da estrada do café, principalmente no Caxito (onde se sabia haver garvíssimos combates) e no Cacuaco. Ora não deixava passar a FNLA, porque íamos para uma zona do MPLA; ora este, porque íamos de zona da FNLA. A solução foi arranjar boleia aérea e assim foi. Já em Luanda, não seria fácil sair do aeroporto, mas enganei-me. Os graves incidentes da capital tornavam o tráfego inseguro e perigoso e a minha habitual boleia local, não pôde ir. E os taxistas, cadé? Não arriscavam atravessar a zona do Prenda, até à Maianga, de onde facilmente se chegava à baixa.
A ponte aérea assoberbava o aeroporto, onde milhares de pessoas esperavam viagem para Lisboa, havia menos gente nas ruas e até as casas nocturnas se esvaziavam. Haviam medos na gravidez das noites luandinas, restaurantes a fechar por falta de alimentos, prateleiras vazias nas lojas - antes cheias de tudo. A inflação estava cada vez mais incontrolável e «vendiam» escudos europeus a 100, 500, 1000%. mos mercados (negros, ilegais e avulsos) das ruas de Luanda.
Lá cheguei a casa dos Resendes, perto da praça de touros - onde se dizia que, todos os dias, se assassinavam dezenas, centenas ou milhares de pessoas. A aparelhagem lá veio para Portugal, embalando algumas garrafas de wiskyie.
Depois de várias semanas de combates, Luanda ficou controlada por forças do MPLA, a 15 de Julho de 1975. Já eu estava em Carmona, em patrulhas, escoltas, serviços e instrução de tiro aos militares que formariam o futuro exército angolano. Exército que nunca chegou a ser.
Eu regressei à Metropole em 4 de setembro de 1974, cerca de 1 anos antes. Deixando para traz a C. Cav. 8453, que nessa altura ainda permaneceu junto à fronteira norte, por mais alguns meses.
ResponderEliminarManuel Aldeias