sábado, 3 de agosto de 2013

1 751 - A chegada ao Grafanil, 3 de Agosto de 1975...


Monumento ao Soldado Português, no Grafanil (em cima) e entrada do Campo Militar


Agosto de 1975, dia 3. Um domingo! Duas levas de um DC6 e dois Nordatlas, transportaram a CCS e a 1ª. CCAV. 8423, de Carmona para Luanda, de aeroporto para aeroporto. Depois, em berliets, para o Campo Militar do Grafanil, onde ocupam o Batalhão de Intendência. Abandonado e sujo! Sem comida para os (mais ou menos) 300 homens que chegam. É a primeira etapa da saída definitiva das NT de Carmona e do Uíge.
Manda a tropa desenrascar e cada qual desenrascou-se como pôde. Parte dos furriéis foi parar à messe de sargentos de Luanda, na avenida dos Combatentes -onde fomos recebidos como extra-terrestres, entre exclamações e perguntas: «São vocês o batalhão de Carmona?». O do «cavaleiro branco», assim era conhecido o comandante Almeida e Brito. Éramos já o último batalhão, em Angola, com formação militar pré-25 de Abril. Disciplinado, sem baldas!!! Não entendíamos a forma como se «vestiam» os militares que achámos por Luanda, mal uniformizados, desabotoados, misturando roupa civil, de chinelos, mal aparentados!
O comunicado da 5ª. Divisão  do Estado Maior General das Forças Armadas, em Lisboa, dava conta que «a situação em Luanda está absolutamente estacionária».Mas falava do conflito estendido a Benguela e Lobito, onde «é a primeira vez que alastra àquela zona». Do BCAV. 8423, nem uma linha. E estava em plena operação de retirada de Carmona.
Fala, isso sim, do «estado psicológico das populações branca e negra», nomeadamente em Luanda, que considera «francamente mau», e regista que «neste momento é tremendamente difícil, senão impossível, conseguir que as pessoas tenham estabilidade para se manterem em Angola».
A onda de violência que se espalhava por Angola, levou a 5ª. Divisão a, no seu comunicado de 3 de Agosto de 1975, falar em «saques, roubo, violações, toda uma onda de violência que temos tentado controlar o mais possível, tendo-o efectivamente conseguido em determinados locais, nomeadamente em Luanda».  Mas, acrescenta o comunicado das 19 horas de 3 de Agosto, «há outros locais onde a nossa tropa já não está e,  portanto, quando lá chega, já essas acções de verificaram, condicionando, assim, uma instablidade muito grande».
«As populações estão tremendamente traumatizadas, pelo que se afigura extremamente difícil que continuem aqui», frisava a 5ª. Divisão, admitindo que «neste momento, poderemos encarar a hipótese de haver pelos menos 250 000 pessoas que regressam a Portugal» - através de uma ponte aérea.
A noite de Luanda, soubemos depois, foi tempo para «intenso tiroteio, em pleno centro, pouco depois das 22 horas» - uma situação imediatamente controlada pela Polícia e Exército portugueses. Foi neste quadro e neste dia que, há precisamente 38 anos, chegámos a Luanda.

1 comentário:

  1. Quando cheguei ao Grafanil,para preparar a chegada dos restantes Camaradas, encontrei o sítio onde era e tinha de ser o refeitório, com a última refeição de quem lá já tinha partido, gaijos porreiros como nós, cozinharam, comeram e depois foda-se, nós vamos para o Puto, quem vier que lave a loiça.Lembram-se daqueles atrelados do unimogs, foi carregar de pá aquele lixo todo,até cogumelos, já tinham nascido, nos restos da comida,hoje seria considerada uma horta biológica, mas limpar aquilo tudo, lavar tachos e panelas, pratos e Cª Lda, foi trabalho de coluna. Quando chegou a 1ª Companhia aquilo estava em condições de o pessoal comer, embora a comida fosse pouca, ou limitada ao que tinha-mos ,mas ninguém comeu ração de combate, penso eu porque elas continuavam,mesmo no centro de Luanda, a comida era restrita.

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