sexta-feira, 2 de agosto de 2013

1 750 - Dia de véspera do adeus a Carmona...

O PELREC, no Quitexe, 1974. Foi e regressou sem baixas. Felizmente!

A 2 de Agosto de 1975, hoje se passam 38 anos, véspera do nosso adeus definitivo a Carmona, cirandei pela cidade, com o Neto e outros, no tempo que sobrou das nossas obrigações militares. A guarnição, principalmente concentrada no BC12, estava tranquila, serena, ansiosa. 
Fiz a minha revisão dos 14 meses que, até aí, me tinham transportado ao chão uíjano, por terras de Quitexe e Carmona, com saltos a outras localidades - aonde nos mandou a jornada angolana. Senti uma enorme tranquilidade, uma imensa paz - emoções que foram partilhadas com os companheiros mais próximos, os furriéis milicianos e os bravos e sempre solidários companheiros do PELREC (foto).
Ao outro dia, 3 de Agosto de 1975, vamos para uma Luanda onde, nessa mesma tarde (soube-se depois), tinham sido feitos disparos contra os emissores da Base Aérea nº. 9. Descolaram dois helicópteros, para o que desse e viesse, mas não chegaram a actuar. 
A comissão coordenadora do MFA esteve reunida todo o dia. Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho estavam na capital angolana desde finais de Julho e lá chegou o brigadeiro Sacramento Marques, com mandato do Conselho da Revolução. E falava-se na saída do alto-comissário, o general Silva Cardoso.
A 5ª. Divisão, em Lisboa, dá conta, na véspera (dia 1 de Agosto), que «as acções de fogo parece não terem atingido as proporções dos dois últimos dias», com Luanda e Caxito sem «modificações visíveis». Mas assinala «acções de fogo na Quibala e Gabela, onde a situação se agravou esta manhã». Na Gabela, estavam os meus familiares Cecília e Mário (irmãos) e os conterrâneos Clemente e Anacleto, com as respectivas famílias.
Malanje continua a ser palco de acções de fogo, «embora sem o volume dos últimos dias», mas «a situação da cidade é muito crítica, face à falta de água e as riscos de epidemia», devido à existência de muitos cadáveres não sepultados. Também há notícias de cadáveres abandonados nas ruas de Luanda.
Carlos Fabião, na capital, a 31 de Agosto, diz que «não seria permitida à FNLA a ocupação de Luanda», o que, em Carmona, irrita os dirigentes deste movimento, que despejam ódios sobre as NT. O estranho da consulta agora feita às notícias então publicadas pelo Diário de Lisboa (de que nos socorremos) é que raríssimamente há referências a Carmona - confirmando o que então se pensava e o comandante Almeida e Brito nos confirmou anos depois, em Coimbra: o BCAV. 8423 estava esquecido no norte de Angola. Esquecido pela RMA, pelo COPLAD, por todos, e «perigosamente alvo das queixas e ataques da FNLA, nomeadamente reivindicando os desequilíbrios de outros locais».
- RMA. Região Militar de Angola.
- COPLAD. Comando Operacional de Luanda.
- NT. Nossas Tropas.
Ver TEXTO sobre 2 de Agosto de 1975


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