Cruz e Viegas, na avenida do Quitexe, frente à messe de oficiais e casa dos Furriéis.
Atrás, o bar dos praças. Em baixo, Holden Roberto, presidente da FNLA (1975)
Atrás, o bar dos praças. Em baixo, Holden Roberto, presidente da FNLA (1975)
Aos 20 dias de Março de 1975, eu e o Cruz já nos apressávamos a dizer adeus (até amanhã...) a Carmona, para as férias que esperávamos há muito tempo. Amigos do peito, da mesa, da conversa e do gosto, que se mantém hoje (39 anos depois....), programámos uma digressão turística por Angola, em vez das convencionais férias no "puto".
Eu, tinha uma mão-cheia de familiares e amigos espalhados por Angola. De Luanda a Nova Lisboa e Gabela. O Cruz, idem, idem, pelo Lobito e Benguela. Acertámos um plano que nos levaria (e levou) a todas essas cidades (e outras), incluindo uma (para nós) histórica viagem no comboio do Caminho de Ferro de Benguela, a partir de Nova Lisboa, e um regresso aéreo a Luanda, para o adeus até... Carmona.
Foi de Luanda que, neste dia de 1975, me chegaram notícias (da véspera), pelo "correio" do meu saudoso amigo Alberto Ferreira: "O Holden Roberto, da FNLA diz que quer ganhar as eleições, li hoje no Diário de Luanda", escrevia o antigo cabo especialista da Força Aérea, meu amigo de escola e adolescência, que uma brutal doença já levou do nosso convívio.
"O homem - acrescentou ele, no aerograma que releio e então recebi no BC12 - diz que o movimento dele se implanta nas camadas populacionais com sucesso que ultrapassa as previsões". E mais: "Estenderemos a nossa audiência, nos próximos meses, por todo o país". Era o que dizia Holden Roberto, em Kinshasa, admitindo, todavia, "entrar num governo de coligação totalmente angolano".
"Tudo dependerá das nossas relações com os ouyros partidos", disse o presidente da FNLA.
Sabe-se, hoje, que não seria bem assim. E assim se ia fazendo a história do país novo.
- CRUZ. António José Dias Cruz, furriel miliciano rádio-montador.
Natural de Cardigos, é aposentado da Câmara Municipal de Lisboa
e mora na Póvoa de Santo Adrião.
- PUTO. Designação do Portugal europeu, na gíria militar.
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