Estrada entre Carmona e Quitexe. Foi algures, perto da Fazenda
Pumbaloge, que se deu o trágico acidente de que resultou a morte de Spínola (na
foto de baixo). Mais abaixo, o mapa da zona, onde se vê que Pumbaloge era
relativamente perto do Quitexe, na direcção de Carmona
foto de baixo). Mais abaixo, o mapa da zona, onde se vê que Pumbaloge era
relativamente perto do Quitexe, na direcção de Carmona
ALFREDO COELHO (BURAQUINHO)
TEXTO
Nesse dia 2 de Julho de 1975, fui de Carmona ao Quitexe, numa Renault 4L, vermelha, com o empregado do Chop-Chop, para “comprar” cubicagens aos militares que não precisavam delas.
Encontrei-me, no Quitexe, com o Spínola e ele perguntou se era possível uma boleia para Carmona. Era e disse-lhe para estar à porta do Bar do Rocha, às 18 horas. Faltavam 10 minutos, quando me veio dizer que podia ir para Carmona, que ele ia com o Sidónio - o empreiteiro das estradas, que andava a alcatroar as ruas do Quitexe.
Então eu, mais um militar da 3ª. Companhia, de Santa Isabel (ao tempo ainda no Quitexe) - não me lembro do nome dele -, seguimos com o empregado do Chop-Chop, para Carmona.
O Spínola foi com o empreiteiro Sidónio, também numa Renault 4L, da mesma cor. Ultrapassaram-nos na passagem da Pumbaloge e, ao chegarem à curva da fazenda, apareceu de frente e contra a mão, uma ambulância Land Rover, que tinha sido roubada na Delegacia do Quitexe. Era conduzida por um guerrilheiro da FNLA e embateu com o carro em que o Spínola seguia.
Nós só tivemos tempo de parar, de repente. Ainda vi o Spínola a ir pelo ar e a cair no chão. Corri e agarrei-me à mão dele. Chameio-o: “Spínola!”.
Ele apertou-me o dedo polegar da mão direita e só disse: “Hei!!!...”.
Ficou morto no local, com um guerrilheiro chefe da FNLA, que ia com ele de boleia, este no meio da estrada. O Sídónio ficou estendido no alcatrão, com a cabeça aberta, mas vivo. Todos foram cuspidos da viatura, após o embate.
A ambulância roubada da Delegacia do Quitexe levava um guerrilheiro da FNLA e uma criança, que ficou com uma fractura exposta na perna, e uma senhora, todos de raça negra.
Metemos o Spínola e o Sidónio na bagageira da nossa viatura e fomos até à Delegacia do Quitexe. Fui à procura do capitão Paulo Fernandes e dei-lhe notícia da morte do Spínola mas ele disse que eu estava maluco, porque minutos antes tinha estado a falar com ele. Então, perguntou-me pelo corpo e disse-lhe que estava na delegacia. Foi esta a triste história da morte do Spínola.
Que Deus o tenha no eterno descanso. A foto que existe, encontrei-a no bolso do camufulado dele.
ALFREDO COELHO
(BURAQUINHO)
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