quarta-feira, 16 de julho de 2014

2 114 - A FNLA queria armas dos Cavaleiros do Norte

Furriéis Cavaleiros do Norte: Viegas, Mosteias e Neto, na 
messe de Carmona, há 39 anos. Em, baixo,  Machado e Cruz



A 15 de Julho de 1975, a guarnição de Carmona acordou em pesadelos. Eu estive de ronda na cidade, galgando ruas, na noite, com o Marcos, o António e o Breda (que conduzia), e fervilhavam boatos sobre a entrega de material de guerra à FNLA. Na antevéspera, dia 13, no Negage, a uns poucos 40 kms., o movimento de Holden Roberto tinham exigido as armas da CCAÇ. 4741 e agora não havia canto ou esquina onde não se ouvisse o sussurro ameaçador de que tal iria acontecer em Carmona, no BC12. Queriam as armas do antigo aquartelamento da PIDE/DGS.
A história, no essencial, já AQUI foi lembrada, em postagem de 15 de Julho de 2010. Vale a pena acrescentar-lhe o que a memória refrescou. 
Chegaram os furriéis na carrinha verde, da messe do Montanha Pinto e, no café matinal do bar, o assunto ganhou fresquíssima actualidade. Que não podia ser, concluíamos todos. Que  tínhamos de fazer alguma coisa, dar armas ao inimigo é que não.
Muito impressivo, o Machado defendia uma imediata reunião com o comandante Almeida e Brito. Aplaudiram e anuíram o Neto e o Mosteias, muito determinados. Mais cautelosos, o Cruz e eu: o que íamos dizer? E fazer?
Disse o Machado, já no gabinete do comandante, que achámos a sair do bar de oficiais, mesmo ao lado, no primeiro andar do edifício do comando. E sem cautelas ou meias palavras: «O nosso comandante não lhe pode dar armas». E todos «ajudámos à missa». Que não, que não e que não senhor!!
«O nosso comandante não vai dar armas a quem nos ameaça...», disse eu, puxado a brios de honra. E todos concordavam. 
A FNLA, na antevéspera (domingo, dia 13), tinha realizado um comício ameaçador. A 14, cercara o quartel do Negage e queria armas. No mesmo dia 13, tinha impedido uma saída do MVL para Luanda, sem  tropa estar autorizada a reagir pelo fogo. Então?!!!
Descansou-nos Almeida e Brito, que, como soube anos depois (de boca dele), negociava com  os comandantes da FNLA: «Não se preocupem!!! Eu sei o que estamos a fazer...", disse o comandante. 
Sabia e fez. O lote de armas que «negociava» não tinha munições e as que havia operacionais seriam semanas mais tarde, queimadas no Grafanil. Com milhares e milhares de balas de G3, FN e FBP!
- CRUZ. António José Dias Cruz, furriel miliciano rádio-montador. 
Aposentado da Câmara de Lisboa, vive na Póvoa de Santo Adrião.
- MACHADO. Manuel Afonso Machado, furriel, miliciano mecânico 
de armamento, Quadro da EDP, reside em Braga.
- MOSTEIAS. Luís João Ramalho Mosteias, furriel miliciano sapador. 
faleceu a 5 de Fevereiro de 2013, de doença, em Vila Nova de Santo André.
- NETO. José Francisco Rodrigues Neto, furriel miliciano de 
operações especiais (Rangers). Empresário aposentado, mora em Águeda. 

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