domingo, 7 de setembro de 2014

2 267 - O último domingo da CCS em terras de Angola


Oficiais dos Cavaleiros do Norte: tenente Luz, alferes Ribeiro e Hermida, tenente Mora, alferes Cruz, capitão Oliveira e os médicos Honório (alferes) e Leal (capitão).Em baixo, os furriéis Neto, Viegas e Monteiro


Domingo 7 de Julho de 1975!!! É o nosso último dia de Angola!! Na manhã seguinte, sairemos do Campo Militar do Grafanil e viajaremos para o aeroporto de Luanda. Em berliets! Partiremos de lá, para Lisboa! Daqui, para as nossas casas, as nossas famílias, os nossos chãos e cheiros! É o adeus à guerra de Angola, que medra, que esfacela e dilacera vidas, que mata!
Eu, o Monteiro e o Neto, madrugámos na saída da casa de Viana, para deixar malas no Grafanil e, no Daihatsu da FRAL, irmos ao um último passeio por Luanda, pela baixa, com um salto à ilha, já sem procurar restaurantes para almoço, que não há. Fazia tempo que, em Luanda, procurar alimentação era um drama de todos os dias. Não havia, os restaurantes fechavam, uma das nossas últimas refeições 8a sério) foi no Apolo, em bicha que nos apanhou pelo meio. Menos afortunados, o Pires (de Bragança) e o Rocha, ficaram na bicha sem direito a entrar. Tinha acabado a comida.
A cidade, a grande metrópole luandina, tinha  pouco trânsito, nem perto dos templos católicos, para as missas dominicais. Tinha um ar marcial, que não se via, mas se sentia! Aqui e ali, passavam patrulhas militares portuguesas - que nos pareciam desmotivadas. Também jeeps com tropas do MPLA, impantes, quase desdenhosas.
O alto-comissário Leonel Cardoso tinha chegado dois dias antes, com queixas de Lisboa, onde ninguém se despedira dele. Nem «uma palavra de despedida, de simpatia e de encorajamento», disse ele, em Luanda, afirmando, todavia, que esse desconforto não o iria esmorecer. 
MPLA e UNITA continuavam sem se entender e Jonas Savimbi, na véspera (dia 6), anunciava não reconhecera nomeação de Leonel Cardoso e exigia a saída da tropa portuguesa do sul de Angola, que acusava de não garantir a segurança dos desalojados. 
De Lisboa, outras menos boas notícias para as guarnições que expectavam regressar, depois de cumpridas as suas missões: havia companhias que se recusavam a embarcar para Angola.
Ao fim da tarde, voltámos ao Grafanil. Eram essas as ordens, para concertar as últimas horas de Angola e preparar a partida para o aeroporto. Pastéis e vinho branco, arranjados pelo familiar de um «PELREC» (cujo nome não consigo recordar) foram a nossa última refeição em Angola. A noite foi passada a conversar, a medir as horas para as seis e pouco da manhã, que foram longas mas se aproximaram!
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