terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

3 301 - Chegada do alferes Meneses e a guerra civil de 1976

Quitexe, a avenida, ou rua de baixo. O bar dos praças está indicado pela 
seta vermelha (à esquerda). Ficava em frente à messe de oficiais. 
A enfermaria, à direita (seta verde)


O 1º. sargento José Claudino Luzia
no encontro de Águeda, a 09/091995


O dia 9 de Fevereiro de 1975 foi domingo de Carnaval e, no Quitexe, terra uíjana dos Cavaleiros do Norte, foi tempo de se dar uma olhadela, ao vivo, pelas tradições angolanas deste dia - muito diferentes das do nosso chão europeu. Por ser domingo, deu até para, apeada e depois bem regada de marufo, dar uma saltada às aldeias vizinhas da vila e conhecer os sons dos batuques e a cor das danças africanas, com homens e mulheres em bailação bem sensual, uns e umas de caras pintadas, outro(a)s de máscaras muito artesanais. 
O saracoteio de
Alferes Meneses Alves
ancas desnudadas das mais jovens raparigas da sanzala, de peitos soltos e olhos rasgados de cio, entusiasmaram os nossos olhares, gulosos de ver os corpos de ébano que se abanavam em danças intermináveis e eram novidade apetitosa ao nosso novo conhecimento.
A vida pelo aquartelamento quitexano continuava tranquila e, da política - da angolana e da portuguesa... - nem nos chegavam novidades. O que era bom sinal. Bom sinal pelo Quitexe, onde jornadeavam a CCS e a 3ª. CCAV. 8423; por Vista Alegre e Ponte do Dange (1ª. CCAV. 8423) e Aldeia Viçosa (2ª. CCAV. 8423). Aqui, por data indeterminada desse mês de Fevereiro de 1975, a maior novidade foi a apresentação do alferes miliciano Manuel Meneses Alves, atirador e vindo de Cabinda. Aqui, tinha sido oficial miliciano do Batalhão de Caçadores 4519, rodando para os Cavaleiros do Norte há 41 anos.
A primeira página do Diário de Lisboa
de 9 de Fevereiro de 1976, com notícia
da vitória do MPLA em Nova Lisboa
Um ano depois, na Angola independente, o Diário de Lisboa noticiava a vitória do MPLA, depois da conquista do Huambo (Nova Lisboa), «libertada às 2,50 horas da madrugada de ontem». dia 8 de Fevereiro de 1976. A norte, tinha sido tomada Santo António do Zaire, o que «culminou o controlo do MPLA de todo o litoral, desde Novo Redondo até ao rio Zaire».
As FAPLA controlavam o leste, com «a cidade do Luso cercada» e, na zona central, expectavam a tomada de Silva Porto, até porque a UNITA estava, ao tempo, «privada do apoio dos seus aliados sul-africanos» e recuava, face à ofensiva do MPLA. A sul de Novo Redondo, as forças do MPLA cercavam Lobito e Benguela e esperava-se que a libertação ocorresse nessa semana. Mais a sul, «as tropas racistas sul-africanas», como o DL as designava, estavam a ser «fortemente contestadas pelos guerrilheiros do MPLA, que desenvolvem acções constantes contra os invasores e seus aliados angolanos».
A UNITA estava numa «situação desesperada» que já nem Jonas Savimbi escondia. Em declarações a imprensa, admitia que «a situação é muito crítica» e culpava americanos e sul-africanos, por terem decidido «sacrificar Angola». Dispunha-se a abandonar a capital do Bié, onde tinha instalado o seu Estado Maior. A norte, o DL dava conta na edição de faz hoje 40 anos, da «derrocada da FNLA», onde, sublinhava, «os próprios mercenários recrutados à pressa por Holden Roberto são impotentes para alterar a situação e sofrem desaires sucessivos».
- MENESES. Manuel Meneses Alves, alferes miliciano 
atirador. Natural de Cortes, em Leiria, onde era empresário 
do sector das carnes e faleceu, de doença a 15 de Maio de 2013.
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