quarta-feira, 6 de abril de 2016

3 358 - Cavaleiros em férias e Luanda com... indecisões!...


Viegas e Cruz, dois furriéis milicianos dos Cavaleiros do Norte, em férias 
angolanas, há precisamente 41 anos. À esquerda, a messe de oficiais; à 
direita, a Casa dos Furriéis do saudoso Quitexe

Luanda à noite, em foto de Henrique Oliveira (net).
Os desafios das casas de diversão eram muitos, ao apetite
dos jovens militares em férias, há 41 anos...

Domingo, 6 de Abril de 1975!!!
É domingo e, num almoço de amigos, fala-se dos incidentes de Luanda, dias antes. 
Quantos mortos? 
Quantos feridos? 
Falava-se em mais de uma centena de vítimas mortais, e muitos mais feridos, muitos mais..., mas ninguém sabe com rigor, nem as autoridades oficiais. Os números falados na imprensa pode(ia)m ser especulativos e, pela certa, pecando por defeito. A comunidade branca, a que vive na cidade do asfalto, a mais urbana e cosmopolita (principalmente europeia, ou dela originária...) começa a sentir-se inquietada. E engravidada de dúvidas!!! Para tal tinha boas/más razões! 
O Katekero, onde se hospedaram o furriéis
Viegas e o Cruz nas férias luandinas de 

Abril de 1975. Há 41 anos!!!
As confrontações militares (mães de muito sangue e lutos) são entre a FNLA e o MPLA, e «sobra(va)» a UNITA, cujas posições não se conheciam muito bem mas que, por estratégia ou casualidade (vá lá saber-se...), andava mais ou menos fora dos conflitos armados. Os militares dos dois outros movimentos, apesar do cessar fogo e do protocolo acordado, ainda não tinham deixado a cidade - até aumentavam os seus efectivos... - e começaram a circular panfletos a incitar distúrbios nas zonas habitadas pelos brancos. Levedavam medos entre estes, que começaram a enviar bens para Portugal. 
«Será que isto vai dar para o torto?...», perguntou Albano Resende, o civil, amigo e conterrâneo, nesse almoço domingueiro do Abril de 1975. 
Eu não sabia responder, é verdade, mas, a olho nu, era visível a fricção mortífera entre FNLA e MPLA - através dos seus braços armados, respectivamente o Exército de Libertação Nacional de Angola (o ELNA) e as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).
Jonas Savimbi, em digressão pelas capitais africanas, angariava apoio para a sua UNITA - movimento que, aparentemente, ganhava fôlego político no processo de descolonização. Melo Antunes, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, chegou a comentar, por essa altura, que a aliança MPLA/UNITA seria uma boa e a melhor solução. Isto é, a UNITA (que tardiamente tinha sido reconhecida pela Organização de Unidade Africana, a OUA) acabava por começar a ser o pêndulo da causa fratricida que enlutava Angola 
Em Dar-es-Salam, os presidentes da Zâmbia, da Tanzânia e do Zaire, reunidos para apreciar a situação em Angola, tentavam «encontrar uma solução pacífica», alertando os movimentos de libertação para «divergências que tornam possível manobras do inimigo no país». 
O rebocador "Quitexe", ancorado na baía
de Luanda, fez-nos por momentos recordar a já
então (Abril de 1975) vila que nos aquartelou entre
Junho de 1974 e Março de 1975.

Foto de Henrique Oliveira
O estado de tensão mantinha-se em boa parte do território e era para este (para Nova Lisboa) que eu e o Cruz preparávamos malas, já com bilhete de avião marcado para daí a dois dias! O final da tarde desse domingo (6 de Abril de 1975) foi de encontro ajantarado com o Alberto Ferreira (cabo especialista da Força Aérea) e o furriel comando Nuno Neves (ambos de Fermentelos, a vila da Estalagem da Pateira, ponto de encontro dos Cavaleiros do Norte), seguido de «digressão» nocturna ao Embaixador, para banhos de espumas, cores de luzes, músicas e danças que aceleravam os cios quentes de jovens com fome de vida!!! 

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