quinta-feira, 7 de abril de 2016

3 359 - O bacalhau do Vilela, tiroteios e rebentamentos...

A cidade de Luanda e a baía, vendo-se (no fundo, à esquerda) a cúpula da
sede do Banco de Angola. A capital angolana era atraente, moderna,
viva e próspera. Tinha vida permanente, não «dormia»!
Mário Matos, António Artur Guedes e
José Fernando Melo (de pé), António Carlos
Letras, José Gomes e António Cruz, furriéis
milicianos da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa



A 7 de Março de 1975, com viagem aérea marcada para Nova Lisboa (no dia seguinte) as «despedidas» de Luanda foram no popular Vilela, restaurante especializado em bacalhau, para as bandas do bairro da Cuca - que já conhecia das férias de Setembro e de alguns «desenfianços», do Quitexe à capital.
O tempo, depois de uma tarde de saboreio dos prazeres da praia da Ilha de Luanda, foi de confortar os estomâgos, é verdade, mas também de lavar a alma de emoções, as que todos por lá íamos sentindo, baralhados com a dimensão e pujança da Angola que caminhava para a independência e as lutas fratricidas que dividiam os (seus) movimentos de libertação.
Não imaginávamos, mas o regresso à baixa e ao Katekero, foi «abrilhantada» pelo som (ainda assim distante) de fartos tiroteios e rebentamentos - que mais tarde viemos a saber terem sido contra delegações partidárias e até contra um avião Boeing 707 da South Africa Airways (SAA) - que, por isso, deixou de voar para Luanda. 
O avião aterrou normalmente, apesar de tudo, depois de sobrevoar o Bairro Popular, mesmo ao lado do aeroporto, e tinha 287 passageiros a bordo. Fazia a viagem  Joanesburgo-Londres, com escalas em Salisbúria e Luanda.
Praia das Ilha de Luanda, com a mata,
a baía e a cidade ao fundo (da net)
O Toyota do Albano Resende voou pela cidade fora, passando por um grupo armado (da FNLA, do MPLA?) no bairro de S. Paulo e dele se alheando, quando nos fez sinal para pararmos. Não parámos! Ainda nos refrescámos na esplanada da Biker, já sem som de disparos a atroar na noite, já sem o suor dos medos que sempre levedam nestes momentos, e fomos para o Katekero, no Largo Serpa Pinto - de onde acabámos por subir ao Danúbio Azul, ali bem perto, para repousar os olhos nas raparigas que por ali desnudavam os corpos e nos «davam» as atenções que procurávamos para divertir a noite.
Novidade do dia era, afinal, não ter sido assinado o acordo preliminar sobre a banca, por a FNLA, à última hora, ter apresentado uma proposta alternativa. Da véspera, dia 6 de Abril de 1975, havia notícia,  do Diário de Lisboa, de «novos incidentes, embora pouco numerosos, pelo que é ainda de tensão o ambiente da capital».
Era segunda-feira e véspera de eu e o Cruz continuarmos a digressão turística pela imensa Angola. De férias, num território a caminho da independência mas em... guerra!

2 comentários:

  1. Nessa altura já tinha regressado a Lisboa, vim em final de Agosto de 1974. Estive a estudar em Luanda onde vivi apenas 11 meses. Pene a guerra civil e pena terem entregado Angola apenas ao MPLA, em Portugal instalava-se o comunismo. Lembro-me de tudo o descrito, faltou a menção ao Baleizão, como os deliciosos gelados. Na Restinga comia belas açordas de marisco" em Luanda vivia como príncipe, abundância, vida barata e não havia TV, confraternizava-se muito mais! Pena os musseques, aí vivia-se como hoje, na pobreza!

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  2. Nessa altura já tinha regressado a Lisboa, vim em final de Agosto de 1974. Estive a estudar em Luanda onde vivi apenas 11 meses. Pene a guerra civil e pena terem entregado Angola apenas ao MPLA, em Portugal instalava-se o comunismo. Lembro-me de tudo o descrito, faltou a menção ao Baleizão, como os deliciosos gelados. Na Restinga comia belas açordas de marisco" em Luanda vivia como príncipe, abundância, vida barata e não havia TV, confraternizava-se muito mais! Pena os musseques, aí vivia-se como hoje, na pobreza!

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