terça-feira, 31 de maio de 2016

3 413 - Partida dos «Zalala´s» e véspera da guerra de Carmona

Grupo de Cavaleiros do Norte da Fazenda de Zalala, «a mais rude 
escola de guerra», onde esteve aquartelada a 1ª. CCAV. 8423
Zalala, um eirado de café e as boas
vindas à «mais dura escola de guerra»

A 1ª. CCAV. 8423 (a da Fazenda de Zalala) saiu de Lisboa a 31 de Maio de 1974 e desembarcou no dia seguinte em Luanda, dois dias depois da CCS (a da vila do Quitexe) e dois e três, respectivamente, antes da 2ª. CCAV. (a de Aldeia Viçosa) e da 3ª. CCAV. 8423 (a da Fazenda Santa Isabel). Antes destas chegadas, já tinham desembarcado o comandante Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, o capitão José Paulo Montenegro Mendonça Falcão (oficial adjunto) e o alferes miliciano José Leonel Pinto de Aragão Hermida (oficial de transmissões). 
Almeida e Brito, à esquerda, como
major e oficial de operações
do BCAV. 1917, em 1968
Foi após a sua chegada que «finalmente o BCAV. 8423 teve conhecimento do seu local de destino», o Quitexe, que o Livro da Unidade identifica(va) como «terra promissora de Angola, capital do café e vila-mártir de 1961». Deste destino vinham a saber as Companhias, nas suas chegadas ao Grafanil.
Almeida e Brito já lá tinha estado, como oficial de operações do Batalhão de Cavalaria 1917, em 1968. A 27 de Maio de 1974, com o capitão José Paulo Falcão, esteve no Quitexe «onde foi recebido pelo comandante do BCAÇ. 4211, que iria ser substituído na ZA pela nossa Unidade». Recebido para «os primeiros contactos, os quais foram muito superficiais», dado já lá ter estado. Mesmo assim, ainda visitaram as Fazendas Zalala e Santa Isabel e Aldeia Viçosa, «locais onde se instalariam as nossa subunidades». «Foi decidido que a 1ª. CCAV. entraria em Sector na Fazenda Zalala, a 2ª. CCAV. em Aldeia Viçosa e a 3ª. CCAV. na Fazenda Santa Isabel, ficando a CCS no Quitexe», lê-se no Livro da Unidade.
A 29 de Maio, o comandante regressou a Luanda, para «receber as subunidades, que começara a chegar à capital angolana em 30 de Maio», reporta o Livro da Unidade.
Enquanto isso, o presidente do MPLA, Agostinho Neto, afirmava em Brazzaville que «enquanto dezenas de camaradas nossos estiverem detidos pela FNLA em Kinshasa, não haverá quaisquer negociações» como movimento de Holden Roberto.
O restaurante Escape, em Carmona
(indicado pela seta). Foto da net
Um ano depois, um sábado, a imprensa dava conta de algum desanuviamento da tensão dos dias anteriores e adiantava que Agostinho Neto e Jonas Savimbi (presidente da UNITA) se iriam encontrar no Luso (no leste angolano), para negociar as condições de realização da cimeira dos três movimentos.
Carmona aparentava a calma do costume e, não estando de serviço, recordo que eu, o Neto e o Monteiro fomos jantar ao Escape - restaurante que, a esse tempo, era a nova moda de gastronomia local. 
As ruas da cidade tinham o bulício dos costume, com as esplanadas cheias de gente - a bebericar e conversar. As patrulhas militares passavam tranquilamente pelas ruas da cidade, a Polícia de Unidade (PU) fazia as vezes da convencional PM (Polícia Militar) e ninguém «adivinhava» o que iria acontecer ma madrugada seguinte: os sangrentos combates (urbanos) entre as forças militares da FNLA e do MPLA. 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

3 412 - A CCS já no Grafanil e os Zalala´s a voar para Luanda


Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala. Aqui, no encontro
de 1 de Junho de 2914, em Fátima. Partiram para Angola a 30 de Maio de
1974, hoje se fazem 42 anos!






Os Cavaleiros do Norte da CCS chegaram a Luanda no abrir da manhã de 30 de Maio de 1974. Há 42 anos! No dia seguinte (31) e de Lisboa, com o mesmo destino, voaram os companheiros da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala.
O anexo da Ordem de Serviço nº. 153, de 2 de Julho de 1974, refere, erradamente, que o voo foi a 28 de Maio - mas todos os embarques do BCAV. 8423 foram adiados, três dias no caso da 1ª. CCAV. 8423. Esta, comandada pelo capitão miliciano Davide de Oliveira Castro Dias, que pelo Uíge seria assessorado pelo alferes miliciano Mário Jorge de Sousa Correia de Sousa - que meu companheiro fora no curso de Operações Especiais (Rangers) em Lamego. Meu, como instruendo, assim como do Francisco Neto e do José Augusto Monteiro (CCS), Manuel Pinto (1ª. CCAV.) e António Carlos Letras (2ª. CCAV.). E dos então cadetes e agora alferes milicianos António Manuel Garcia (da CCS, a do Quitexe), João Francisco Machado (2ª. CCAV., a de Aldeia Viçosa) e Augusto Rodrigues (3ª. CCAV., a de Santa Isabel).  O 1º. sargento era Alexandre Joaquim Fialho Panasco que, de doença oncológica, faleceu a 28 de Junho de 2005, em Carnaxide e aos 70 anos. Outros Cavaleiros do Norte de Zalala já falecidos, os três também por doença são (foram furriéis milicianos) Manuel Dinis Dias, mecânico-auto (a 20 de Outubro de 2011, em Lisboa) e os atiradores de Cavalaria Eusébio Manuel Martins (a 16 de Dezembro de 2014, em Belmonte) 
A Ordem de Serviço com a partida
da 1ª. CCAV. 8423 para Luanda
e Jorge António Eanes Barata (a 11 de Outubro de 1997, 
em Alcains). 
O dia, em Luanda e à chegada da CCS, estava exageradamente quente e húmido para os nossos hábitos europeus e logo nos despimos da casaca verde da farda nº. 2 e procurámos «matar» a sede nascida, com as inevitáveis... Cuca´s, a cerveja angolana de que tanto já ouvíramos falar. Apanhadas as bagagens, logo foi tempo de viajarmos em Berliets para o campo Militar do Grafanil, onde nos «hospedámos» até ao dia 6 de Junho, quando partimos para a vila do Quitexe.
O trajecto, ainda que muito apressadamente, deu para «descobrir» uma cidade moderna, de largas avenidas e enormes arranha-céus, lindos espaços ajardinados e uma metrópole enorme e cheia de luz, como a enormíssima maioria de nós nunca tinha visto! Uma grande capital! E deu também para observar os musseques que ladeavam a grande urbe, olhados com curiosidade quando já a coluna galgava já a larga e movimentada estrada que passava ao gigantesco Jumbo e ao cemitério Catete e para Viana, até ao Grafanil.
Curiosidade (desportiva) desse dia 30 
de Maio de 1974 tinha a ver com o
Cartaz do Mundial de Hóquei
em Patins, o Luanda 74
 Mundial de Hóquei em Patins, que estava marcado para Luanda. O Comando Chefe das Forças Armadas em Angola garantia toda a segurança da prova, mas havia resistência espanhola, segundo a imprensa do dia. A Federação Portuguesa de Patinagem assegurava que o campeonato iria mesmo «disputar-se em Luanda, com ou sem a participação da selecção espanhola». 
«Espera-se que essa atitude (a garantia de segurança) ponha termo a alguns receios, porquanto está satisfeito o desejo demonstrado por quase todos os delegados», relatava o Diário de Lisboa, acrescentando que «só a Espanha parece estar com pouca vontade de ir a Luanda» e que a imprensa catalã (de Barcelona) tinha levantado uma campanha «pretendendo que o Mundial não seja disputado em Luanda».
Mundial que, apesar de todas essas garantias (de resto também solicitadas por outros países participantes) acabaria por não se realizar em Luanda, como sabemos. Estava previsto para os dias 19 a 28 de Julho desse ano de 1974. Repare-se no cartaz do evento: em «XXI Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins * Portugal | Angola | Luanda». O presidente da Federação portuguesa de Patinagem José Castelo Branco, bem garantira, numa reunião em Barcelona, que «está tudo em ordem para que o torneio decorra na capital de Angola».
Um ano depois, o
O 1º. sargento Fialho Panasco e a esposa no
 encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995.
Faleceu a 28 de Junho de 2005, em
Carnaxide, aos 70 anos e de doença oncológica 
Exército Português ameaçava intervir, devido ao agravamento da situação em Angola, nomeadamente na área do Caxito - na estrada de Luanda para Carmona, onde se aquartelavam os Cavaleiros do Norte. Aqui, segundo o Livro da Unidade, «verifica-se uma enorme dificuldade em fazer vingar o papel de árbitro, atribuído como prioritária missão às NT». A sua actuação, ainda segundo o Livro da Unidade, «viu sempre escolhos diversos a vencer, viu e sentiu ameaças, foi alvo de vexames, mas sobretudo foi sempre apelidada de partidária e, consequentemente, viu as suas actividades mal aceites, ainda que não suscitem quaisquer dúvidas quando à sua isenção». Isto, ainda citando o Livro da Unidade, «não esmorecendo, expondo os seus problemas, mas cumprindo», mas, porém, «começou a verificar-se desautorizada, o que levou a publicamente se afirmar «viver-se numa ilha no mar da FNLA, com todas as inconvenientes posições que daí advém».
O dia 30 de Maio de 1975 foi uma sexta-feira. Mal sabiam os Cavaleiros do Norte o que os esperava, e às gentes de Carmona, na madrugada do domingo seguinte - o trágico dia 1 de Junho. E seguintes dias!

domingo, 29 de maio de 2016

3 411 - O dia da partida, há 42 anos, da CCS para Angola!!

Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação (PELREC) já no Quitexe e momentos antes da partida 
para uma operação: De pé: Almeida (1º. cabo, falecido a 28/02/2009, de doença e em Penamacor), 
João Messejana (já falecido a 27/11/2009, de doença e em Lisboa ), José Neves, Fernando Soares (1º. cabo), 
Augusto Florêncio, Francisco António, João Marcos. João Pinto (1º. cabo), Raúl Caixarias e Victor Florindo 
(1º. cabo enfermeiro). Em baixo, Jorge Vicente (1º. cabo, falecido a 21/01/1997, de doença e em Vila Moreira, 
Alcanena), Viegas (furriel), Victor Francisco, Manuel Leal (falecido a 18/06/2007, no Pombal), Luís Oliveira 
(1º. cabo de transmissões), Augusto Hipólito(1º. cabo), Aurélio Júnior (Barbeiro), Francisco Madaleno e 
Francisco Neto (furriel miliciano)


O dia 29 de Maio de 1974 acordou meio escuro. Sem chuva mas algo frio, frio para o tempo..., abrindo com o café nas muito usadíssimas chávenas de alumínio da messe dos sargentos do RC4. Manhã adentro, foram chegando os futuros Cavaleiros do Norte que, pelo adiamento de 27, foram mais dois dias para as suas casas. 
Anexo da Ordem de Serviço nº. 152, do RC4
e com a relação dos militares da CCS embarcados
para Luanda a 29 dee Maio de 1974 - hoje se fazem 42 anos!.
Clicar nas imagens, para as ampliar
O movimento da manhã foi tranquilo, sem nenhumas pressas, conferindo-se as chegadas dos praças, cada furriel miliciano (já com divisas) e cada alferes miliciano (com o galão) «tomando conta» dos homens dos seus pelotões. A partida, em autocarros civis, seria (e foi) ao princípio da tarde - que viria a ser muito chuvosa, quase de tempestade. Muitos de nós (eu, incluído) íamos passar por Lisboa a primeira vez, viajar numa auto-estrada e andar de avião e de Figo Maduro partimos num voo dos Transportes Aéreos Militares (TAM), rumo a Luanda, transatlântico e de 9 para 10 horas.
E lá fomos!
As notícias do dia, dessa quarta-feira e do Diário de Lisboa que ao tempo sempre lia, davam conta ada apoteótica recepção, no Porto, ao general António Spínola e da progresso das negociações com o PAIGC - sobre as independências de Guiné-Bissau e de Cabo Verde.
Angola era notícia pela realização de uma manifestação, em Lisboa, a favor do MPLA -mas também da Frelimo e do PAIGC. Manifestação que reivindicava para o MPLA (de Agostinho Neto) o estatuto de «único representante do povo angolano», excluindo, de partida a FNLA (de Holden Roberto) e a UNITA (de Jonas Savimbi). Não vem ao caso, mas valeria a pena reportar a reportagem do DL sobre esta manifestação - ver AQUI.
Hoje, historicamente, reproduzimos, em fac-simile, as páginas 1 e 2 do Anexo à Ordem de Serviço nº. 152, do bRC4 e de 1 de Julho de 1974, com a «relação de oficiais, sargentos e praças que fazem parte do CMD e CCS do BCAV. 8423 que a 29 de Maio embarcaram em Lisboa a bordo dos TAM para Angola, com destino a reforço à Guarnição Normal daquela PU».
Felizmente, todos regressaram mas, entretanto, faleceram vários deles, já depois da jornada africana de Angola:

Cavaleiros do Norte do PELREC: Hipólito,
Monteiro (furriel). Almeida e Vicente (de pé),
Garcia (alferes), Leal, Neto (furriel) e Aurélio
Barbeiro. Almeida (28/02/2009), Vicente
(21/01/1997). Garcia (02/11/1979) e
Leal (18/06/2007) já faleceram
* 1 - Carlos José Saraiva de Lima ALMEIDA E BRITO. Tenente-coronel e comandante do Batalhão. Faleceu a 20 de Junho de 2003, durante um passeio em Espanha. Tinha 76 anos e era general. Não está nesta lista, pois tinha embarcado antes, com o capitão José Paulo Falcão e o alferes miliciano José Leonel Hermida.
2 - José Luís Jordão ORNELAS MONTEIRO. Era 2º. Comandante, mas não seguiu para Angola. Foi para a Guiné, convocado pelo MFA. Morreu a 16 de Julho de 2011, em Lisboa, aos 80 anos.
* 3 - António Martins de OLIVEIRA. Capitão e comandante da CCS. Em data e razão desconhecida. Era de Viseu e morava em Ovar. Atingiu a patente de major.
* 4 - João Eloy Borges da Cunha MORA.Tenente e Adjunto do Comandante da CCS. O tenente Palinhas. Faleceu a 21/4/1993, com 67 anos, vítima de doença, em Lisboa. Era do Pombal.
* 5 - António Manuel GARCIA. Alferes miliciano de Operações Especiais, comandante do PELREC. Faleceu a 2 de Novembro de 1979. Era de Carrazeda de Ansiães e morreu aos 27 anos, num acidente entre Viseu e Mangualde, quando, como agente da PJ, investigava o Caso Ferreira Torres e morava em Gaia.
6 - Luís Ferreira Leite MACHADO. Sargento Ajudante. Faleceu a 12 de Julho de 2000, em Évora. Tinha 80 anos, vítima de doença.
* 7 - Joaquim Augusto Loio FARINHAS. Furriel miliciano sapador, faleceu a 14 de Julho de 2005, de doença do foro oncológico. Aos 53 anos, em Amarante, de onde era natural. 
* 8 - Luís João Ramalho MOSTEIAS. Furriel miliciano aapador. A 5 de Fevereiro de 2013, aos 61 anos, de doença oncológica. Era de Cabeção, em Mora, e vivia em Vila Nova de Santo André.
9 - Joaquim Figueiredo de ALMEIDA. 1º. cabo atirador de Cavalaria, do PELREC. Faleceu a 28 de Fevereiro de 2009, aos 59 anos, de doença do foro oncológico. Era de Penamacor
10 - António Carlos Fernandes de MEDEIROS. 1º. cabo operador cripto.  Faleceu a 10 de Abril de 2003. No Porto, aos 51 anos.
* 11 - Jorge Luís Domingos VICENTE. 1º. cabo atirador de Cavalaria, do PELREC. Faleceu a 21/01/1997, por doença, aos 45 anos. De Vila Moreira (Alcanena).
12 - Carlos Alberto de Jesus MENDES. 1º. cabo mecânico electricista, do Parque-Auto. Faleceu a 21 de Abril de 2010, aos 58 anos. Morava em Lisboa, nos Prazeres.
13 - Jorge Manuel de Sousa PINHO. 1º. cabo escriturário. Faleceu de doença a 19 de Abril de 2003, no Porto. Aos 51 anos.
14 - José Adriano Nunes LOURO. 1º. cabo sapador. Faleceu a 23/7/2008, aos 56 anos. Era natural e residia Tomar. Semanas após a morte da esposa, de doença cancerosa, foi-lhe despistada igual doença e suicidou-se para, segundo deixou escrito, «não sofrer nem fazer sofrer a família». O testemunho é do filho, que é 1º. sargento do Exército
15 - Manuel Augusto da Silva MARQUES. 1º. cabo carpinteiro. A 1 de Novembro de 2012. Morte súbita, aos 60 anos, em Esmoriz (Ovar), de onde era natural e onde residia. Foi ao cemitério e ao abrir a porta de casa, caiu morto
16 - José Gomes COELHO. Soldado sapador. Faleceu em Maio de 2007, com 55 anos, vítima de doença cancerosa. Morava em Oldrões da Calçada, em Penafiel. O testemunho é de uma filha.
17 - ARMANDO Domingues Gomes. Soldado atirador, do PELREC. Morreu a 3 de Setembro de 1989, aos 47 anos, em Á-dos-Cunhados (Torres Vedras).
* 18 - Manuel LEAL da Silva. Soldado Atirador de Cavalaria, do PELREC. Faleceu a 18 de Junho de 2006. Doença súbita, em Pombal, aos 54 anos. Sentiu-se indisposto, não quis um chá oferecido pela mulher e deitou-se. Levantou-se e, de novo indisposto, caiu fulminado.
19 - Carlos Alberto MORAIS da Silva
Soldado cortador. Faleceu, por motivo desconhecido, a 12 de Janeiro de 1990, com 48 anos, em Santo Tirso.
20 - ALCINO Fernandes Pereira. Soldado cozinheiro. Morreu a 25 de Junho de 1994, aos 52 anos, por razão desconhecida, Morava em Idanha (Sintra).
21 - Manuel Augusto Nunes, o AMARANTE. Soldado sapador. Morreu a 24 de Maio de 2000. De doença, em Telões, de Amarante. Tinha 48 anos.
* 22 - João Manuel Pires MESSEJANA. Soldado atirador, do PELREC. Faleceu a 27 de Novembro de 2009, em Lisboa, de doença, aos 57 anos.
23 - Graciano do Purificação QUEIJO. Soldado clarim e colaborador da cozinha. Faleceu de doença cancerosa a 30 de Outubro de 2013. Sem família directa e originário de Vinhais, em Trás-os-Montes, morava num lar de Samora Correia, onde foi acolhido nos últimos dois anos de vida.
Outros terão falecido, mas deles não temos notícia.
Aqui os evocamos, com saudade. RIP

sábado, 28 de maio de 2016

3 410 - Véspera (definitiva) do embarque da CCS para Angola

Cavaleiros do Norte do Parque-Auto, com o alferes Cruz ao centro, na fila da frente. 
À sua direita, os 1ºs. cabos Teixeira (estofador, de tronco nu) e Breda (condutor); 
á esquerda, o Teixeira (pintor). O último, à direita, de mãos nas ancas, parece ser 
o Malheiro. Alguém ajuda a identificar os outros? Conhecem-se as caras, 
mas esquecem-se os nomes...


Alfredo Coelho (o 1º. cabo Buraquinho,
organizador do Encontro da CCS do
próximo sábado) e o Moreira, dois
Cavaleiros do Norte no Quitexe


A terça-feira de 28 de Maio de 1974 - há precisamente 42 anos!!! -, foi passada na tranquilidade dos deuses, no Regimento de Cavalaria nº. 4 (RC4), em Santa Margarida, e até envolveu um passeio de jeep militar a S. Miguel de Rio Torto, freguesia de Abrantes que ficava por ali relativamente perto e onde, durante o IAO, tínhamos refeiçoado num almoço de casamento - imediatamente após o 25 de Abril, como «convidados especiais» e quando as labaredas revolucionários punham os militares nos altares da maior popularidade e idolatria imagináveis. Daí e disso, o inusitado convite - que tão bem soube!
José Adriano Nunes
Louro, 1º. cabo
sapador da CCS
do BCAV. 8423
Por lá convivemos fartamente com alguns populares, num restaurante cujo nome se varreu da memória. Comemos e bebemos e ouvimos loas revolucionárias, que chegavam até a entediar-nos. 
Não foram muitos os Cavaleiros do Norte da CCS que ficaram pelo RC4, depois do adiamento do embarque (na véspera), para 29 de Maio. Alguns de nós, fomos nessa noite comer frango de churrasco a Abrantes, «desenfiados» do quartel - onde, aliás, ninguém se preocupava connosco.  Castigo maior já não poderíamos ter: mobilizados para Angola.
As notícias do dia davam conta do impasse das negociações de Londres, com o PAIGC. Argumentava este partido (e o seu governo rebelde, para os portugueses) que «por já ter sido reconhecido por 84 países - mais de metade dos membros da ONU - a auto-determinação está ultrapassada». E que a Guiné-Bissau já tinha «aderido à Organização de Unidade Africana», a OUA, que era presidida por Mobutu Sese Seco, do Zaire.
Mário Soares, ministro português dos Negócios Estrangeiros, comentou na altura e sobre Cabo Verde, que «a auto-determinação também se aplica às ilhas, base naval e aérea estratégica portuguesa no Atlântico Sul», mas que, segundo o Diário de Lisboa, «também eram reivindicadas pela Guiné-Bissau». Como se sabe, Guiné-Bissau e Cabo Verde tornaram-se (dois) países independentes.
Hoje, reproduzimos, em fac-simile, a parte da Ordem de Serviço nº. 61 do RC4, de 14 de Março de 1974, com a apresentação de mais um grupo de especialistas do BCAV. 8423, todos para a CCS:
Ordem de Serviço nº. 61, de 13 de Março
de 1974. Fac-simile da página 3, com a
apresentação de vários especialistas do
BCAV. 8423. Clicar na imagem,
para a ampliar
- Transferidos do Batalhão de Engenharia 3 (BE3), mesmo ao lado do RC4 e a 13 de Março: 1º. cabo Carlos Alberto Serra Mendes, bate-chapas, de S. João Baptista, em Abrantes; Domingos Augusto Teixeira, 1º. cabo estofador, do Bairro do Cerco, no Porto; e José Domingos da Encarnação Guerreiro, soldado mecânico-auto, do Sítio dos Lombos, em Lagoa (Algarve).
- Do Batalhão de Caçadores 5 (BC5), de Lisboa e a 13 de Março: Joaquim M. S. Pedreira, que não seguiu para Angola, por razões que desconhecemos.
- Do Grupo de Companhias de Trem Automóvel (GCTA), de Lisboa e a 12 de Março: Carlos Alberto de Jesus Mendes,  1º. cabo mecânico electricista, de Santa Isabel, em Lisboa.
- Do Regimento de Artilharia Ligeira nº. 1 (RAL 1), em Lisboa e a 13 de Março, todos 1ºs. cabos sapadores: Gabriel Alves Mendes, de Cortes do Meio, na Covilhã; José Adriano Nunes Louro, do Casal do Pinheiro, nos Casais (Tomar), e aqui falecido, de suicídio, a 23 de Julho de 2008; e Albino Jorge de Oliveira Pires, de Folgosinho, em Gouveia.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

3 409 - O dia do (não) embarque da CCS para Angola

Neto, Viegas, Matos (2ª, CCAV.) e Monteiro, quatro Cavaleiros do Norte
em Santa Margarida, no RC4, semanas antes do embarque para Angola


Há 42 anos, dia 27 de Maio de 1974, uma segunda-feira, acordei cedo e de mala aviada esperei, aí pelas 5 e tal da manhã, pelo pai do Francisco Neto, que no SIMCA 1100 aqui me veio buscar, para me juntar a ele e de Águeda seguirmos para Santa Margarida. E daqui para Lisboa, depois para Luanda. 
Era a nossa viagem aérea para o imenso território de Angola, um pouco mais de um mês depois da revolução do 25 de Abril, mas o destino quis que assim não fosse. Já no RC4, ficámos a saber que a partida tinha sido adiada por dois dias e por lá ficámos alguns de nós, outros regressando a suas casas. Fui dos que fiquei («alérgico» a novas despedidas...) e o Neto, com amigos por Lisboa, para lá se mandou, para a boa-vai-ela, com a garantia (cumprida) de que a nós se juntaria o dia 29 e no aeroporto.
A notícias do dia davam conta do cessar fogo na Guiné (futura Guiné-Bissau e Cabo Verde), enquanto decorriam negociações diplomáticas. Em Moçambique, havia transferência de unidades portuguesas, os ferroviários mantinham a greve e «continuava o clima de tensão e expectativa».
Angola, todavia, era o que nos interessava e de lá não chegavam boas notícias: as de mais mortes em combate. As do furriel miliciano Francisco José Nunes Gonçalves, natural de Vale de Santiago (concelho de Odemira), e dos soldados António José Duarte Silva, natural de Marmelede (concelho de Monchique), e João Carlos Mota Medeiros, do Pico das Canas, em Ponta Delgada (Açores). Nada animador, para quem para lá ia partir.
Hoje, recordamos a apresentação de mais um grupo de futuros Cavaleiros do Norte, que, segundo a Ordem de Serviço nº. 60, de 13 de Março de 1974, foram «nomeados para servir no ultramar». 
Os seguintes e para as respectivas companhias:
- CCS, a do Quitexe: Miguel Soares Teixeira (d Ramalde, no Porto), Vasco de Araújo de Sousa Vieira (Massarelos, no Porto), Emanuel Miranda dos Santos (da Gafanha da Boa Hora, em Vagos, e actualmente nos Estados Unidos), João Manuel Martins Pires (de Rio de Mouro, em Sintra), Jorge Manuel de Sousa Pinho (de Ramalde, no Porto, já falecido), todos 1ºs. cabos escriturários; José Gomes, auxiliar de enfermagem (de Meinedo, em Lousada), Alcino Fernandes Pereira, cozinheiro (de Cortegaça, em Mortágua) e Agostinho Pinto Teixeira, pintor (de Ramalde, no Porto) e os soldados António da Conceição Simões, mecânico-auto (de Figueiró dos Vinhos) e os clarins António Irineu Coelho de Sousa (de Castromil, em Paredes), José António Cardoso Caetano (S. Nicolau, no Porto) e Graciano da Purificação Queixo (de Vilarelhos, em Alfândega da Fé; faleceu de doença, a 30 de Outubro de 2013, no lar Padre Tobias, em Samora Correia - ver AQUI).
- 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala: Artur A. Costa e os clarins Fernando Manuel Dias dos Santos (da Urqueira, em Vila Nova de Ourém), José de Azevedo Moura (de Casal dos Corvos, em Alijó), Mário António Figueiredo da Costa (Amora) e João Nunes Marques (de Santo André dos Toseiros, em Castelo Branco).
- 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa: José António Ramos Pampim da Silva, 1º. cabo escreiturário (da Amadora), José Joaquim Pereira Freire, 1º. cabo clarim (de Loredo, em Paredes), soldados Alexandre dos Santos Oliveira (de  Lever, em Vila Nova de Gaia), Fernando José da Silva Gonçalves (de Podengo, em Macedo de Cavaleiros) e Alexandre José Morais Pereira (de Murça).
- 3ª. CCAV. 8433, a da Fazenda Santa Isabel: Aníbal Rui Rosado, 1º. cabo escriturário (de S. Sebastião, em Setúbal), Augusto António dos Santos Mota, 1º. cabo auxiliar de enfermagem (de Cristelos, em Lousada), Agostinho S. Oliveira (de ?), Abílio Pinto da Cunha, soldado clarim (de Santo Amaro, em Chaves), e Joaquim dos Santos, soldado atirador (de Cortes, em Leiria).
- LEGENDAS. Na foto de cima, os 1ºs cabos Miguel 
Teixeira, João Pires e Jorge Pinho, todos escriturários 
da CCS. Na segunda imagem, Graciano Queijo, 
que foi clarim da CCS e faleceu a 30 de Outubro de 
2013, em Samora Correia).


quinta-feira, 26 de maio de 2016

3 408 - Independências africanas na véspera do embarque

O comandante Bundula, da FNLA, os capitães José Manuel Cruz e José 
Paulo Fernandes, comandantes, respectivamente, da 2ª. CCAV. e 3ª. CCAV, 
com o aferes miliciano João Machado, que hoje faz 64 anos

Os futuros furriéis milicianos Monteiro,
Neto e Viegas, em Santa Margarida, poucos
dias antes do embarque para Angola

Domingo, dia 26 de Maio de 1974. É dia de missa na paróquia e, aqui mesmo ao lado, muitos conterrâneos me saúdam, na despedida cada vez mais iminente para Angola - estava marcada para a madrugada seguinte. Recordo que me sentia invulgarmente tranquilo! Iria (e fui) confiante e sem medos!!!
O Esgueira, com a esposa e madrinha, no
encontro dos Cavaleiros do Norte da CCS
de 2015, em Mortágua
As notícias do dia fazem saber que, em Londres, Portugal e o PAIGC negociavam, desde a véspera, a independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. «Pouco antes de se iniciarem as negociações, facto que se deu às 17 horas, o PAIGC ordenou às forças rebeldes que  interrompam todas as operações militares durante as conversações», reportava o Diário de Lisboa de 26 de Maio de 1974, que só chegava a Águeda a meio da tarde. Acrescentava que «a primeira sessão de conversações durou apenas duas horas».
E sobre Angola?
A mesma edição do DL dava conta que os presidentes Kenneth Kaunda (da Zâmbia), Mobutu Sese Seko (Zaire) e Julius Neyerere (Tanzânia) tinham reunido em Lusaka e que «apoia(va)m os vários  movimentos de guerrilheiros que combatem pela independência de Moçambique e Angola». E estavam «dispostos a encorajar essas organizações a abrirem um diálogo com as nova autoridades portuguesas, se os termos para uma independência forem justos em insofismáveis».
Iam assim, há precisamente 42 anos, no dia que era (e não foi) véspera da partida da CCS para Angola, a situação política nos futuros países da lusofonia de hoje. Dia, também, do meu adeus aos chãos da minha meninice e infância e da adolescência que se tinha desenvolvido sob o estigma da guerra. 
Ordem de Serviço nº.  67, do RC4, de
21 de Março de 1974, com a apresentação dos
condutores Henrique Esgueira e Manuel Moço
Hoje, para a memória dos Cavaleiros do Norte, recordamos a apresentação, a 19 de Março de 1974, de dois soldados condutores «nomeados para servir no ultramar, com destino ao BCAV. 8423». Foi às 20 horas desse dia, segundo a ordem de Serviço nº. 67, de 21 daquele mês, e, vindos da Escola Prática de Engenharia, foram os seguintes:
- CCS, a Companhia do Quitexe: Henrique Nunes Esgueira,de Figueira Redonda, em Tomar, e agora residente na Amadora.
- 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel: Manuel Agostinho da Silva Moço, de Azeitão, na freguesia de S. Lourenço, em Setúbal.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

3 407 - A antevéspera da partida, a cimeira e as aulas regimentais

Cavaleiros do Norte na messe e bar do Quitexe: Luís Capitão (falecido a 05/01/2010, de doença e em
Ourém), Cardoso, Almeida (1º. cabo cozinheiro), Lages (o soldado barman) e Flora. Na segunda
fila, Cruz (de óculos e meio tapado), NN (tapado), Costa (de boca aberta), Reino (bigode e garrafa
na mão) e Carvalho. À frente, Bento (de bigode e dedo a apontar), Grenha Lopes, José
Carlos Fonseca e Nelson Rocha. Salvo as duas excepções indicadas, todos furriéis milicianos


Furriéis milicianos e Cavaleiros do Norte de
Santa Isabel: Grenha Lopes (que foi monitor das aulas
regimentais em Santa Margarida) e Agostinho Belo
 (atrás) e Graciano Silva

A 25 de Maio de 1974 (há 42 anos!!!!...) o dia era de antevéspera da partida para Angola e, cá por casa, a pequena mala preta e o saco da TAP já estavam mais que prontos, arrumados e voltados a arrumar: as roupas e calçado na mala, artigos de higiene e um queijo flamengo no saco. Ambos - a mala e o saco - ainda hoje «moram» ali no sótão.
Andei a percorrer, em adeus, os sítios mais íntimos do chão da minha aldeia e conversei com vários familiares e amigos, todos encorajando uma comissão ultramarina que, apostavam eles, seria de certa duração. Foi de 15 meses!
As notícias do dia confirmavam a cimeira de Lusaka, na qual participou  o presidente da FNLA, Holden Roberto. Kenneth Kaunda, presidente da Zâmbia e anfitrião do encontro, comentou no final que «se Portugal aceitar o princípio da independência com base num governo da maioria, nesse caso a África não terá dúvidas e apoiar a efectivação das negociações de paz». Sublinhou também «a necessidade de unificação, unificação que, nomeadamente, tem faltado entre os movimentos de guerrilheiros que combatem em Angola». Referia-se a FNLA de Holden Roberto, ao MPLA de Agostinho Neto e à UNITA de Jonas Savimbi.
Hoje, das memórias do BCAV. 8423, venho recordar as aulas regimentais da 3ª. CCAV. 8423, que a partir de 6 de Fevereiro de 1974, ainda em Santa Margarida, passaram a ser monitoradas pelo 1º. cabo miliciano José Avelino Grenha Lopes.
A Ordem de Serviço nº. 71, de 26 desse mês, dá conta de terem sido matriculados 5 futuros Cavaleiros do Norte. Os seguintes:
- 1ª. Classe: Raúl M F da Silva.
. 2ª. Classe: Armindo Frazão da Silva, atirador, de Rio Maior; António Manuel da Silva Matias, atirador; José Manuel Neves Eusébio, atirador, de Gradil, da Costa de Barros, em Mafra ; e Manuel G Mateus.


terça-feira, 24 de maio de 2016

3 406 - Ir para Angola em 1974 e patrulhas no Uíge em 1975

Cavaleiros do Norte na entrada da messe de sargentos do Quitexe: os 
furriéis milicianos Bento (à esquerda) e Viegas, ambos da CCS, a ladear 
o Reino, da 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel

O clarim José António Cardoso Caetano, que
amanhã faz 64 anos, em VN de Gaia mas aqui em 

Santo Tirso, em 2013, com o «benjamim» da CCS: o 
mecânico Porfírio Malheiro


A 24 de Maio de 1974, uma sexta-feira e com o dia (27) da partida da CCS do Batalhão de Cavalaria 8423 cada vez mais próximo (seria adiado para 29), soube-se que Mobutu Sese Seko, presidente do Zaire e da Organização de Unidade Africana (OUA), ia reunir em Lusaka com Kenneth Kaunda, presidente da Zâmbia, para analisar a situação e o futuro de Angola. A Angola para onde iríamos embarcar, em jornada militar. 
Notícia do Diário de Lisboa de há 42
anos, sobre o futuro da Angola para
onde os Cavaleiros do Norte iam partir
O Diário de Lisboa desse mesmo dia - de que nos socorremos - admitia que Holden Roberto, presidente da FNLA, que se anunciava «poder estar em Lusaka», poderia «participar nas conversações»
A Luanda e nesse mesmo dia, chegou António Almeida Santos, o ministro português da Coordenação Inter-Territorial, que foi entusiasticamente recebido por «uma grande multidão, incluindo dirigentes, militantes, civis, políticos e homens de negócios, tanto brancos como negros».
Chegava de Moçambique e afirmou, já em Luanda, que «é preciso que todos nos ajudemos uns aos outros a construir os caminhos do futuro, que são necessariamente os caminhos da paz». Almeida Santos acrescentou que «na verdade, tanto Angola como Moçambique, merecem a paz».
Um ano depois, pelas bandas do Uíge - onde os Cavaleiros do Norte cumpriam a sua jornada africana de Angola, sabe-se lá com que sacrifgícios... - continuavam os «permanentes patrulhamento dos centros urbanos e nos itinerários». Mas principalmente em Carmona, a cidade capital do distrito uíjano e considerada «a área mais fulcral»
Os patrulhamentos, recordemos, eram mistos e, por isso mesmo, acarretavam sensibilidades muito particulares - resultantes da diferenças de causas que defendiam os homens armados dos movimentos. E exigiam (os patrulhamentos) uma brutal sobrecarga sobre os Cavaleiros do Norte - devido ao facto de o efectivo ser muito pequeno.
Hoje, neste fazer memórias do do BCAV. 8423, recordamos a apresentação do então 1º. cabo miliciano (futuro furriel miliciano) Armindo Henriques Reino.
O Reino, furriel miliciano de Operações
Especiais (
Rangers), agora aposentado
 da GNR e a viver dias felizes no Sabugal
Era de Operações Especiais (Rangers),  pertencia ao Esquadrão de
Comando e Serviços (ECS) do RC4 e foi transferido para a 3ª. CCAV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel.
O Reino apresentou-se a 1 de Março desse já distante ano de 1974, mas apenas a 13 a transferência saiu na Ordem de Serviço, a nº. 60. Actualmente (ver foto ao lado), é aposentado da GNR (carreira que seguiu depois da jornada africana de Angola) e reside no Sabugal, em Aldeia do Bispo, a sua terra natal.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

3 405 - Manifestação e desinteligências, chegada de transmissões!

Cavaleiros do Norte na avenida do Quitexe: o tenente Mora (de serviço), os 
furriéis Neto, Viegas (de serviço) e Monteiro, o 1º. cabo Miguel (todos da 
CCS) e os furriéis Reino e Aldeagas (da 3ª. CCAV. 8423)


António Letras e António Chitas,
dois furriéis milicianos da 2ª. CCAV.
8423, a de Aldeia Viçosa

A manifestação da União Nacional dos Trabalhadores de Angola (UNTA), de que ontem aqui falámos (e realizada a 22 de Maio de 1975), exigiu a demissão do Alto Comissário. A «destituição imediata», para sermos mais precisos, recuperando a notícia do Diário de Lisboa de hoje se fazem 41 anos.
A UNTA era afecta ao MPLA e a manifestação reuniu «intelectuais, estudantes e todas as camadas da população que exige a independência nacional e a via socialista para Angola». Todavia, «foi repudiada pela FNLA e pela UNITA». Outras exigências dos manifestantes eram «a expulsão inadiável dos ex-PIDE/DGS e explicações sobre os 100 000 contos levantados pelo Ministro da Saúde, Samuel Abrigada». Denunciaram a «sabotagem económica através da figa de técnicos» e afirmaram que só estariam com o Governo de Transição se «este estiver com os trabalhadores».
As notícias chegavam sempre com algum atraso a Carmona e ao Uíge, onde os Cavaleiros do Norte prosseguiam estoicamente a sua jornada africana - indiferentes, tanto quanto era possível, às «desinteligências existentes» entre os movimentos que ali queriam escrever a sua história e mobilizar habitantes para as suas causas. E também à crescente dificuldade em manter, e citamos o Livro da Unidade, «a razão de estar na zona de acção» - razão essencial que era, não esqueçamos, a segurança de pessoas e de bens!
Ordem de Serviço nº. 93 do RC4. Fac-simile
da página 6/703, com a apresentação de Costa e
Rodrigues, dois soldados de transmissões
Hoje, recordamos a apresentação, no RC4 de Santa Margarida e destinados ao Batalhão de Cavalaria 8423, de mais 2 futuros Cavaleiros do Norte «nomeados para servir no ultramar». Vinham ambos do Regimento de Infantaria nº. 1, em Tavira.
A Ordem de Serviço nº. 93, de 20 de Abril de 1974, indica as respectivas companhias:
- 1ª. CCAV. 8423, a da Zalala: Carlos Alberto dos Santos Costa, soldado de transmissões de infantaria, de Santos-o-Velho, avenida 24 de Junho, 70-2º. E, em Lisboa.
- 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa: Joaquim António Almeida Rodrigues, soldado de transmissões, do Beco dos Barbantes, de Camarate, em Loures.

domingo, 22 de maio de 2016

3 404 - Gigantesca manifestação em Luanda e moderação das NT!

Américo Rodrigues e Plácido Queirós, dois furriéis milicianos de Zalala, 
com Augusto, um civil contemporâneo da jornada angola do Uíge

José António Nascimento (vagomestre) e
Manuel Dinis Dias (mecânico), dois
furrieis milicianos da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala



A União Nacional dos Trabalhadores de Angola (UNTA), organização sindicalista afecta ao MPLA, organizou a 22 de Maio de 1975 «uma manifestação gigantesca», junto ao Cinema Império (em Luanda) e que decorreu sem incidentes. As repartições públicas e muitos estabelecimentos comerciais «fecharam ao público, em grande número». Ao contrário do expectável, «não se registaram recontros ou outros incidentes com a FNLA».
Notícia do Diário de Lisboa sobre os (não)
incidentes de Luanda, a 22 de Maio de 1975
O mesmo não aconteceu na zona envolvente do porto do Lobito, onde se repetiram recontros entre forças armadas do MPLA e da UNITA - que, uma vez mais, implicaram a intervenção do Exército Português «desempenhando um papel de moderador». Sem, felizmente, se registarem vítimas, mas com viaturas atravessadas de valas, junto às sedes dos dois movimentos.
Carmona, lá pelo norte, continuava aparentemente calma, nomeadamente porque, acudindo aqui e acudindo acolá, a tropa portuguesa ainda ia chegando para as encomendas. 
«A mentalização antecedente, a coesão criada e a disciplina vivida vão levando de vencida tais situações e assim se foi cumprindo o pedido», lê-se no Livro da Unidade.
Um ano antes, uma quinta-feira, estando os futuros Cavaleiros do Norte a preparar-se para o embarque do dia 27 de Maio desse ano (1974), o Comando das Forças Armadas Portuguesas desmentiu um comunicado do MPLA, segundo o qual teriam morrido 11 militares e 12 ficado feridos numa emboscada em Cabinda.
«Desde o dia 15 de Abril,as nossas forças tiveram apenas alguns (poucos) feridos naquele distrito, em resultado do accionamento de minas anti-pessoal e em três ocasiões diferentes», concluía o comunicado das Forças Armadas Portuguesas.
Ordem de Serviço º. 69, do RC4 e de 13 de Março
de 1974, com a apresentação de 4 novos Cavaleiros
do Norte, todos atiradores de Cavalaria e
todos para a 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala
Hoje, trazemos aqui a, citando a Ordem de Serviço nº. 60, de 13 de Março de 1974, a apresentação de quatro Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423. a de Zalala, todos atiradores de Cavalaria e oriundos do BC3, em Bragança:
- Mário Ventura Soares da Costa, de Face de Figueira, freguesia de S. João da Talha, em Loures.
- José Borges Martins, de Brações, em Figueiró dos Vinhos.
- Celestino Marques  Baptista da Eira, de Lousa, em Vila Real (Trás-os-Montes).
- Carlos Manuel Delgado Correia, de S. Salvador (Vivenda Vinagre), em Santarém.

sábado, 21 de maio de 2016

3 403 - Vésperas de embarque por cá e mortes por lá...

Cavaleiros do Norte no Quitexe. À frente e das esquerda para a direita, Monteiro, Machado 
(a fumar) e Costa, dos Morteiros (furriéis milicianos) e Carlos Lages (bar dos sargentos). 
Atrás e no mesmo sentido, os furriéis  Rocha (de bigode), Fonseca (de bigode e a fumar), 
Bento (de bigode),Viegas (de dedo apontado), Belo (de óculos e bigode) e Delmiro Ribeiro


Alberto Ferreira (que dia 23 de Maio de 2016 faz 64
anos, na Sobreda (em Almada),  João Pinto,
Francisco Madaleno e João Marcos, quatro
garbosos e corajosos atiradores de
Cavalaria do PELREC da CCS
O dia 21 de Maio de 1974!! Os Cavaleiros do Norte da CCS estão a pouco dias do embarque (no dia 27, mas adiado para 29) para Angola e todo o tempo é contado ao minuto, em despedidas de amigos e de família. É terça-feira e, por mim, dou-me em Águeda em circuito de abraços à dúzia de pessoas que sabia por lá encontrar e serem do meu círculo íntimo mais próximo.
«Vocês já não vão lá para fora...», era a expressão que mais ouvíamos, semeando-nos esperanças que sabíamos não valer a pena ter. Na esplanada do Zip-Zip, em conversas alongadas na tarde, fiz tempo para ao comboio das 7 (de regresso a casa) e de chegada dos jornais de Lisboa, os da tarde. O Diário de Lisboa era o meu preferido, a mais por ter palavras cruzadas brancas (ainda hoje as minhas preferidas) e, já no regresso a casa, dou com a notícia de mais três mortes em Angola. Em combate. Uma delas, de um conterrâneo da Trofa (Trofa de Águeda): o 1º. cabo José Augusto Machado da Costa, filho de Manuel Joaquim da Costa e de Gracinda Cerqueira Machado, deixando viúva Maria Madalena Pereira Martins.
Não o conhecia, nem a família directa, mas estas dores eram de todos, estes lutos eram dramas de muitas famílias e de muitos jovens que tinham crescido e galgado a sua infância e juventude com o estigma da guerra. E aí estava ela, na sua expressão mais dramática e trágica,mais cruel: a morte!!!
Hoje, recordamos, a chegada ao RC4 de 7 novos Cavaleiros do Norte, oriundos da Escola Prática do Serviço de Material (EPSM) e todos com  a Escola de Cabos.
A Ordem de Serviço era a nº. 60, de 1974, datada de 13 de Março, e os militares «nomeados para servir no Ultramar, com destino ao BCAV. 8423» era os seguintes, nas seguintes Companhias:
José Frangãos, o Cuba
- CCS, a do Quitexe: José das Dores Caeiro dos Frangãos (o Cuba, por ser da alentejana Cuba) e Rafael Serra Farinha (de Odivelas), ambos mecânicos-auto e com Escola de Cabos.
- 1ª. CCAV. 84212, a de Zalala: Dorindo Santos, com Escola de Cabos e natural e residente em Ílhavo; António Filipe de Louro Lucas, de Cardosas, em Arruda dos Vinhos; e Justino da Silva Azevedo, de Farilhe, em Canidelo, Vila do Conde. Todos mecânicos-auto.
- 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa: João Francisco Ribas Teodósio, mecânico-auto, com Escola de Cabos e de Almeirim.
- 3ª. CCV. 8423, a da Fazenda Santa Isabel: José Maria da Costa Carrilho, mecânico auto-rodas, com Escola de Cabos e natural e ao tempo residente na freguesia de S. João Baptista, em Campo Maior.