sexta-feira, 19 de agosto de 2016

3 493 - Cavaleiros em reserva e transporte de retornados


Cavaleiros do Norte num momento de pose fotográfica, no Quitexe: 
Mendes (?) e Domingos Teixeira, o estofador (atrás), João Monteiro 
(Gasolinas), Américo Gaiteiro e Porfírio Malheiro (sentados), Alípio 
Canhoto (com a arma na mão) e António Pereira (à direita)

O furriel miliciano Viegas (à direita) com familiares dos
Neves Polido, em Abril de 1975 e em Nova Lisboa:
Idalina, Fátima, Octávio Valter e Rafael
A 19 de Agosto de 1975 soube-se em Luanda de um comício em Lisboa, no qual os retornados exigiram «a intensificação do transporte de angolanos para a metrópole, através de todos os meios, incluindo (...) o fretamento de outras unidades e estudar, com urgência, a colocação dos desalojados nas respectivas empresas, formação de escolas ou criação de turnos especiais nas escolas e liceus para os filhos dos desalojados»
Transporte e carga de caixotes de retornados
no porto de Luanda, no  verão de 1975


Estas e outro tipo de situações tardiamente (e mal) chegavam ao conhecimento dos Cavaleiros do Norte e, na verdade, até pouco nos interessavam. Digamos que nos eram relativamente indiferente - muito embora cada um de nós por lá tivesse uma «bateria» de pessoas a pedir ajuda, nomeadamente para mandar património para Lisboa: mobiliários e equipamentos domésticos, automóveis, outro tipo de bens, tudo o que fosse riqueza pessoal. 
O BCAV. 8423 continuava como unidade de reserva da RMA, já por uma vez tínhamos sido chamados a intervir num problema no bairro do Saneamento (perto do Governo Geral de Angola), mas o essencial para nós, ao 14º. mês da jornada africana de Angola, era, na verdade, saber a data do nosso regresso. Quando seria?
Notícia do Diário de Lisboa de 19 de
Agosto de 1975, sobre o transporte de
desalojados (e carga) de Luanda para Lisboa
Coincidentemente, ou não, o Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais (IARN) já tinha aberto uma delegação em Luanda e preparava «acções de retorno de 300 000 cidadãos portugueses residentes em Angola», como noticiava o Diário de Lisboa desse dia. Inscrições até ao dia 31 de Outubro. E poderiam ser bem mais, admitia o jornal, citando o IARN, que informava estar «prevista uma margem de segurança para que aquelas acções possam, no mesmo período, atingir 350 000 pessoas».
O IARN adiantava, também, estar «planeado para o mesmo período um programa de transporte, por via marítima, de 170 000 metros cúbicos de carga pertencente aos referidos desalojados».
A esse tempo de há 41 anos, a grande «indústria» que se desenvolvia em Luanda (e porventura por toda a Angola) era a da construção de caixotes, nos quais, com mais ou menos cubicagem, os colonos procuravam enviar para Lisboa os seus bens - de que acima falamos. Muitos terão conseguido, outros nem tanto.
Por mim e também por esse tempo, procurava saber de familiares, conterrâneos e amigos espalhados por Angola: os Resendes, a Cândida, o José Martinho, o João Lopes e o Mário Coelho e a Benedita, a Fernanda (em Luanda), Clemente, Anacleto e Mário Neves (na Gabela), Cecília e Rafael Polido, Manuel, Abílio e José Viegas, os Mirandas, o Orlando Rino (em Nova Lisboa), Higino Reis (em Sanza Pombo), a Maria Rosa e o Manuel (Sá da Bandeira) e outros que a memória agora não lembra. Eram mais de uma centena de conterrâneos espalhados pelo imenso território de Angola!
Felizmente, por uma ou outra vias, todos regressaram a Portugal e à nossa aldeia. Muitas vezes, nas ocasionais conversas do dia-a-dia, nos lembramos destes dias de há 41 anos.

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