quarta-feira, 7 de setembro de 2016

3 512 - A véspera angolana do adeus dos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte da CCS reunidos em Águeda, a 12 de Setembro de
2009. Há precisamente 41 anos, estes e outros combatentes do BCAV. 8423
fizeram as malas para o adeus à Angola da nossa jornada africana 


Cavaleiros do Norte em momento despreocupado. Reconhe-
cem-se, o Coelho, sapador (a olhar para a mesa), os 1º. cabos
Oliveira (de cigarro na boca), Marques, o Carpinteiro (o sexto,
a rir) e Jorge Vicente (de cigarro na boca). Frente a este, 

de bigode, o 1º. cabo Farinha (mecânico-auto). Aqui à frente e 
também de bigode, os também 1ºs. cabos Vieira (sacristão) e 
Breda. O miúdo negro, à direita, será o Agostinho Papelino.
Quem ajuda a identificar os restantes?
Domingo, 7 de Setembro de 1975. A CCS dos Cavaleiros do Norte está já a menos de 24 horas de voar para Portugal e para o chão das suas terras e afecto de famílias e amigos. Tem de estar às 8 horas da manhã de segunda-feira no aeroporto internacional de Luanda. A saída do Grafanil será entre as 5,30 e as 6,30 e partida do voo por volta das 10. 
As instruções recebidas aponta(va)m para o aprudentar de emoções por todo esse dia, evitando entusiasmos que levassem a quaisquer exageros. Nada de precipitações. 
O Neto e eu demos uma última volta pela baixa de Luanda, no Daihatsu das Ferragens Reunidas - a empresa ferrageira do pai, com escritório na avenida D. João II e fábrica em construção, em Viana. Cedo chegámos ao Grafanil, ao fim da tarde, onde já tínhamos as malas trazidas da casa de Viana: a ideia era (e foi) estar cedo no quartel e passar a noite com os companheiros do PELREC. Mais ou menos, aconteceu o mesmo com outros pelotões da CCS. Juntos e solidários, os Cavaleiros do Norte assim estiveram até ao último momento da jornada africana de Angola.
Sem jantar garantido - nada havia para cozinhar, ou sequer para «enganar» a fome... -, valeu-nos o familiar de um Cavaleiro do Norte «pelrequiano» (não me recordo quem) que nos forneceu dúzias de pasteis e alguns garrafões de vinho branco. A vedeta da noite foi o papagaio do Francisco Bento, com o seu palrear asneirento -«ensinado» ao longo dos meses para «ofender» o domo e outros.
O dia, logo pela manhã, foi tempo de ataque e cerco do MPLA, por forças do seu Poder Popular, às posições da FNLA em Sassa e Morro da Cal. O mesmo tempo e na frente do Caxito, foi de ataque da Nona Brigada do MPLA às forças da FNLA, sob ordens do comandante N´Dozi e com apoio de oficiais cubano - segundo o livro «Segredos da Descolonização de Angola», de Alexandra Marques. A cidade caxitense viria a ser tomada no dia seguinte, 8 de Setembro de 1975, o da partida da CCS de Luanda para Lisboa.
O 1º. cabo Rodolfo Tomás, furriel António José Cruz.
1º. cabo António Lourenço Pais e António Silva, todos
rádios-montadores dos Cavaleiros do Norte
A Luanda que percorremos pela manhã e meia tarde - o Neto e eu... - era uma cidade aparentemente calma, sem perder o seu cosmopolitismo e movimento, embora com bichas nos estabelecimentos de restauração que (ainda) funcionavam. O Pires, de Bragança, e o Rocha, foram vistos na bicha, a quererem ser clientes do Pólo Norte - sem chegarem a entrar, porque lá acabou o que havia para servir. Fazia tempo que a cidade tinha falta de reabastecimentos. De tudo e mais alguma coisa.
As condições sanitárias do território também tinham decrescido visivelmente: para uma população estimada em 6 milhões de pessoas, havia apenas 250 médicos. A Cruz Vermelha Internacional e as Nações Unidas, perante «esta situação alarmante», como referia o Diário de Lisboa, «multiplicaram esforços e 10 médicos da ONU e 10 toneladas de medicamentos» chegaram a Luanda na tarde da véspera - dia 6 de Setembro de 1975.
A Cruz Vermelha fez deslocar equipas para Luanda, Nova Lisboa e Carmona (a «nossa» Carmona!...), cada qual formada por um cirurgião, um médico de clínica geral e um anestesista, para além de duas enfermeiras.

Sem comentários:

Enviar um comentário