terça-feira, 6 de setembro de 2016

3 511 - A antevéspera do regresso dos Cavaleiros do Norte

Cavaleiros do Norte nas oficinas do Quitexe: o furriel miliciano mecâni-
co-auto Norberto Morais, ao centro, ladeado pelos 1º.s cabos Agostinho
(pintor), Domingos Teixeira (estofador), à esquerda, e, à direita, Rafael
Farinha (mecânico-auto, que hoje faz 64 anos) e Serra Mendes (bate-chapas)

Os furriéis Neto (à direita e de perfil) e Viegas (o
segundo, da direita) com os conterrâneos Carlos
Sucena e Gilberto Marques (de pé) na casa de
Viana, nos últimos dias de Angola, há 41 anos

O 6 de Setembro de 1975, antevéspera do regresso da CCS, foi sábado e tempo das primeiras declarações do novo Alto-Comissário. «A construção de um país não pode ser obra de uma dúzia de dirigentes, mas, sim, de um povo inteiro», disse o almirante Leonel Cardoso, oferecendo «total e incondicional dedicação à missão» que, sublinhou, «procurarei cumprir com justiça e isenção».
Os alferes milicianos António Albano Cruz (da CCS, mecâ-
nico-auto) e Mário Jorge Sousa (da 1ª. CCAV. 8423,
de Operações Especiais, os Rangers) à saída de Zalala
O almirante queixou-se de ter partido de Lisboa «sem o conforto da presença, no aeroporto, de qualquer responsável político ou militar, ou seus representantes», para lhe levar «uma palavra de despedida, de simpatia ou de encorajamento», mas afirmou que «não será esse facto, talvez único na história dos embarques de dezenas de pessoas a quem alguma vez coube a honra de gerir os destinos de Angola, que fará esmorecer a sede de que venho animado e me levou a aceitar a missão que ninguém queria».
Almirante Leonel Cardoso, o
último Alto-Comissário de
Portugal em Angola
Os Cavaleiros do Norte faziam as suas despedidas, embora permanentemente atentos a todas as questões de segurança que a situação político-militar impunha. Faziam os seus últimos serviços no Campo Militar do Grafanil e havia rigorosas instruções no sentido de não andarem em grupos de menos de 3/4 militares, quando se passeassem pela cidade. E de regressarem ao aquartelamento antes da meia-noite. 
A cidade de Luanda, sem perder a sua exuberância e beleza, aparentava calma mas continuava com recolher obrigatório e minguada de abastecimentos. E as carreiras aéreas montadas para a evacuação de refugiados tiveram visível diminuição nesse fim de semana, o que suscitou protestos de muitos portugueses que ali esperavam embarque para Lisboa. 
Testemunhei isso, ao final dessa manhã de há 41 anos, quando uma vez mais estive no aeroporto para tentar encontrar conterrâneos civis de outras partes de Angola, de quem não se sabia o paradeiro. Poderia estar ali, entre os milhares que aguardavam viagem para Lisboa. Mas sem nada conseguir.
A tarde, começou com uma ida à Emissora Oficial de Angola, para pedir a emissão de mais um pedido de localização desses amigos civis - num programa que era especialmente produzido para esse efeito. Também sem êxito algum.
O MPLA era o «senhor» de Luanda e outras capitais do território angolano, apenas lhe escapando o Zaire e o (nosso) Uíge). O ELNA, seu braço armado, estava acantonado no Caxito e lograra chegar ao Morro da Cal, a apenas 24 kms. de Luanda - enquanto o MPLA retomara a central hidroeléctrica das Mabubas e Sassa, nas redondezas caxitenses. Não sabíamos, mas estava iminente novo ataque das FAPLA ao reduto do movimento de Holden Roberto.

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