segunda-feira, 12 de setembro de 2016

3 517 - O Portugal que, há 41 anos, encontraram os Cavaleiros do Norte

Grupo de Cavaleiros do Norte das Transmissões, ainda no Quitexe: 
1º. cabo José Mendes, António Soares, furriel José Pires, 1º. cabo Luís 
Alberto Oliveira e José António Costa. Em baixo, NN (quem é?), Humberto 
Mora Zambujo e 1º. cabo Jorge Raposo Salgueiro 


Furriéis milicianos Melo, Guedes e Letras. Atrás,
o alferes milicianos João Machado. todos Cavaleiros
do Norte da 2ª. CCAV. 8423, a de Aldeia Viçosa

Os Cavaleiros do Norte vieram encontrar, há 41 anos, um país muito diferente do que deixaram 15 meses antes - pouco mais de um mês depois do 25 de Abril. Consultando a imprensa nacional de 12 de Setembro de 1975,  é possível recordar que a situação política estava «prestes a sair de um impasse», originado dificuldades em formar o VI Governo Constitucional mas que era «praticamente certo que a sua constituição possa ser anunciada amanhã», ainda que «nem todas as pastas sejam distribuídas, para já». 
O 1º. sargento Fialho Panasco e os furriéis
milicianos Américo Rodrigues e Plácido Queirós,
da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala

 
O  novo 1º. Ministro era o almirante Pinheiro de Azevedo, que substituía Vasco Gonçalves e continuava «contactos com os três principais partidos políticos» - o PS, o PPD (actual PSD) e o PCP - sendo já certo que o PCP «não caucionará uma viragem à direita». O Conselho de Revolução, reduzido para 19 elementos (eram 24), fez saber que «Spínola será preso se tentar entrar em Portugal». 
A NATO anunciava-se «mais satisfeita com  situação em Portugal» e, internamente, os «trabalhadores corticeiros entraram em greve de zelo», para negociarem um contrato colectivo vertical. Por outro lado, 40 comissões de trabalhadores da cintura industrial de Lisboa «prepara(va)m ofensiva popular (...) contra as forças reaccionárias e pelas conquistas já alcançadas». Havia «uma «guerra» aos prédios inacabados» e nos Açores, titulava o Diário de Lisboa, «o terrorismo da FLA contra a emancipação de um povo». FLA era a Frente de Libertação dos Açores.
Os furriéis milicianos José Lino, Agostinho
Belo e António Luís Gordo, da 3ª. CCAV.
8423, a de Santa Isabel 
Um assalto ao Banco Português do Atlântico (BPA), em Lisboa (S. Sebastião da Pedreira) «rendeu 5 080 050$00 - o equivalente, hoje, a qualquer coisa como 701 768,67 euros. Uma boa fortuna. 
Em Lisboa, o comandante da Polícia Militar (PM), major Campos de Andrade, participou num plenário da unidade, que protestou «o aproveitamento partidário das suas lutas». 
O Diário de Lisboa de há 41 anos,
12 de Setembro de 1975
Notícia de Angola davam conta que «o MPLA sustenta uma ofensiva em duas frentes: uma, a sul, contra a UNITA, que pretende desalojar de Nova Lisboa; outra, a norte, contra a FNLA e em direcção às cidades de Ambriz e Carmona». As suas tropas estavam a 90 quilómetros da primeira (a ocidente) e a 10 da segunda, a leste - a «nossa» Carmona. 
«A relativa facilidade com que tomou Caxito - foi coisa para poucas horas - avivou o optimismo do MPLA», considerava o Diário de Lisboa de há 41 anos, dia 12 de Setembro de 1975. O seu objectivo era claro: «Expulsar o seus adversários de Ambriz de de Carmona»
A sul, o MPLA controlava Sá da Bandeira «há várias semanas» e era daqui que preparava «o assalto a Nova Lisboa e Silva Porto». Nova Lisboa era a segunda cidade de Angola e dois dias antes o MPLA já conquistara Caconda, a meio do caminho para Sá da Bandeira. A UNITA «reagiu violentamente, atacando o Luso, a leste, com blindados, segundo o MPLA», noticiava o Diário de Lisboa. E os combates «prosseguiam ontem à tarde», com a cidade ainda controlada pelo MPLA.
Iam assim, há 41 anos, Portugal e Angola, há 41 anos, à procura dos seus caminhos. Os Cavaleiros do Norte adaptavam-se à nova realidade nacional, no conforto dos seus lares e com afecto dos seus familiares e amigos, depois da épica jornada angolana.

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