domingo, 27 de novembro de 2016

3 593 - A rotação do dispositivo militar, Daniel Chipenda e o Enclave de Cabinda

Quitexe. O que, de data desconhecida, restava do edifício do Comando do BCAV. 8423, no gaveto da
 Rua da Igreja (ao fundo) com a avenida. As duas coberturas que se vêem à direita estão onde era a parada,
 mas não são do tempo dos Cavaleiros do Norte. À esquerda e depois da parede branca e à frente da
 árvore mais alta, vê-se o telhado da missão católica - onde o padre Albino Capela esteve vários anos

Momento de boa disposição de um grupo de Cavaleiros
 do Norte da CCS, no Quitexe: NN (de barbas, quem é?),
 alferes Ribeiro, Almeida (cozinheiro), civil (de cor), João Mes-
sejana (que faleceu a 27 de Novembro de 2009, de doença e
 em Lisboa, hoje se fazem 7 anos), Florêncio (de barbas) e
 alferes António Garcia (f. a 2 de Novembro de 1979, de aci-
dente, era de Carrazeda de Ansiães e morava no Porto)
O Comando do Sector do Uíge reuniu a 27 de Novembro de 1974, em Carmona. A rotação do dispositivo militar foi certamente ponto da agenda. Segundo o Livro da Unidade, «preparada do antecedente (...), começou a ser efectivada à custa de verdadeiros sacrifícios, dada a carência de meios auto que permitissem a materialização desses movimentos, os quais envolviam não uma simples mutação, mas, sim, a extinção de aquartelamentos». 
Estrada do Café (ou Rua de Cima), no Quitexe: a
 farmácia (porta azul) e o Bar Camabatela (vermelha)
e  sala de jogos (azul), dos Irmãos Santiago
Era o caso do Batalhão de Cavalaria 8423 (BCAV. 8423), quanto às suas sub-unidades das Fazendas de Zalala (a 1ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano Davide Castro Dias) e do Liberato (a CCAÇ. 209/RI 21, do capitão miliciano Victor), já concluídas, e a de Santa Isabel (a 3ª. CCAV. 8423, do capitão miliciano José Paulo Fernandes), que se preparava para, nos primeiros dias de Dezembro, rodar para o Quitexe. 
CCAÇ. 4145/72, de Vista Alegre, substituída pela 1ª. CCAV. 8423, mas tinha chegado a receber a CCAÇ. 4145/74, que esteve por Vista Alegre apenas dois dias e logo rodou para Luanda.

Independência 
de Angola

Ao tempo, e soube-se por lá a 27 de Novembro de 1974, a Comissão Nacional de Descolonização criou o cargo de Alto-Comissário para Angola, depois de uma reunião que demorou cerca de... 7 horas. Rosa Coutinho era o indigitado e abandonou a reunião no momento de se votar o respectivo decreto-lei.
Rosa Coutinho que era o presidente da Junta Governativa e, reagindo às declarações de Agostinho Neto (apontando 1975 como o ano da independência), afirmou que «o processo tem de ser negociado».
«Os movimentos de libertação tem de ser ouvidos e como tem todos têm as mesmas ideia sobre o processo é necessário, primeiro, que as ajustem e encontrem uma plataforma comum, sem a qual a formação do Governo de Transição é impossível», disse Rosa Coutinho, sublinhando que «Angola é um país, vigoroso, potencialmente rico e com ânsia de independência» - ânsia que, do seu ponto de vista, «se verifica a todos os níveis», a ponto de considerar que «poderei dizer que 99,9% da população de Angola, se consultada a esse respeito, é favorável à independência».
Daniel Chipenda, ao centro, aqui como secretário ge-
 ral da FNLA, presidida por Holden Roberto (à direita)

Os casos FLEC, 

FUA e PCDA 

O caso FLEC continuava na ordem do dia e o almirante admitiu que «como organização política, digamos como associação política, já existia antes do 25 de Abril» e acrescentou que

«pretendemos que continue como tal».
«Dado o nosso reconhecimento da liberdade de associação política, pois, consideramos que a FLEC tem o direito de existir como associação política. Não tem direito a existir como movimento armado. Movimentos armados apenas reconhecemos a existência de três», disse Rosa Coutinho, considerando que «ainda por cima, a FLEC tomou a atitude oportunista de aparecer como movimento armado a exigir, ou a pedir, um reconhecimento de uma independência separada para Cabinda, que é contrária não só aos interesses de Angola e de Portugal mas ainda às determinações e recomendações internacionais, pela ONU e pela OUA».
Era curioso o entendimento de Rosa Coutinho sobre as posições políticas dos três movimentos de libertação: a FNLA mais à direita, a UNITA ao centro e o MPLA de tendência mas progressista, à esquerda. Assim e por isso, considerava não serem necessários mais partidos.
Quando à Frente Unida de Angola (FUA) e Partido Cristão Democrata de Angola (PCDA), fundados após o 25 de Abril, Rosa Coutinho considerava-os «associações políticas» que, explicou, «podem perfeitamente continuar a existir e até são úteis porque Angola, tal como em Portugal, precisa que o seu povo comece a viver a política, comece a ser politizado».

Daniel Chipenda


O caso Daniel Chipenda, dirigente e combatente ao tempo dissidente do MPLA e que Agostinho Neto dissera estar ao serviço da FNLA e fora «expulso do MPLA», foi tema de opinião do almirante, comentando que «os problemas internos dos  movimentos não são da nossa competência».

«Neles não devemos imiscuir-nos», disse Rosa Coutinho.

Atirador João Messejana

O atirador de Cavalaria João Manuel Pires Messejana (foto ao lado) foi um bom companheiro do PELREC, o pelotão operacional da CCS dos Cavaleiros do Norte.
Discreto e sempre disponível, regressou a Portugal e à sua Lisboa, onde morava na Rua Augusto Machado e onde fez vida. Que nem sempre lhe correu bem e o enfermou de doença que o levou a falecer, precisamente há 7 anos: a 27 de Novembro de 2009.
Hoje o recordamos com  saudade. RIP!!!

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