O alferes António Garcia e o furriel Viegas no Quitexe, momentos antes da saída para uma operação militar pelas picadas e matas do Uíge |
A cidade de Luanda acordou a noite de 8 para 9 de Agosto de 1975 com o som estridente dos violentos combates do bairro do Saneamento - de onde o MPLA queria expulsar a FNLA.
Um grupo de Cavaleiros do Norte, ao tempo aquartelados no Campo Militar do Grafanil, foi chamado ao local, logo ao abrir da manhã.
«Violento tiroteio de armas ligeiras e pesadas fazia-se ouvir hoje de manhã,
1º. cabo Ezequiel Silvestre |
O MPLA exigia a saída da FNLA do Governo de Transição, alegando que «perdeu o direito de participar, por via do Acordo do Alvor». Governo de Transição que, de resto, mal funcionava: já não participavam os ministros e secretários de Estado da FNLA e os da UNITA preparavam-se para abandonar Luanda.
A situação era dramática, muito perigosa (perigosíssima...), a maioria das representações diplomáticas fechou os seus escritórios de Luanda e o Consulado Americano aconselhava os seus compatriotas (uns 120) a «abandonarem Angola o mais rapidamente possível». E já se tinham retirado 50 franceses e 30 ingleses. No dia seguinte e via porto do Lobito, a República Federal da Alemanha ia evacuar uma centena dos seus cerca de 800 cidadãos instalados em Angola.
Cavaleiros do Norte do PELREC: 1º. cabo Ezequiel. Silvestre e al- feres Garcia. Serão mesmo eles? |
Cavaleiros do Norte no
Bairro do Saneamento
O BCAV. 8423 foi chamado a intervir e, nesse sábado, foi muito apressadamente formado um grupo de combate, comandado pelo alferes Garcia, à base de militares que estava no extinto Batalhão de Intendência - desde a rotação de Carmona, ali chegados (os da coluna terrestre) às 12,45 horas de 6 de Agosto de 1975.
O Diário de Luanda, jornal da tarde desse mesmo dia - que o Rodolfo Tomás me fez chegar às mãos (ver o recorte, na imagem) - publicou uma fotografia onde se parecem reconhecer o alferes miliciano António Garcia e o 1º. cabo Ezequiel Silvestre, ambos do PELREC. Poderão ser.
A legenda da foto é esta: «Tropas do Exército Português controlam a operação de retirada dos elementos do FNLA do Bairro do Saneamento, onde, sexta à noite e sábado de manhã, se registaram confrontos armados. os elementos do ELNA foram transferidos para fora da capital».
Infelizmente, o alferes António Garcia não pode dar-nos o seu testemunho. Faleceu a 2 de Novembro de 1979. O 1º. cabo Ezequiel Silvestre lembra-se de ter ido, mas não fixou pormenores.
Ainda relativamente a Luanda e nesta data, confirmou-se a retirada das forças da UNITA - para Nova Lisboa e Lobito. Em Luanda, apenas ficaram os seus dirigentes políticos. A cidade ficou «por conta» do MPLA. Apenas lhe faltava expulsar os FNLA´s que se acantonavam no Forte de S. Pedro da Barra.
Jonas Savimbi, presidente da UNITA |
Ataque à UNITA na
Av. dos Combatentes
O dia foi também de confrontos na Avenida dos Comba-
tentes, onde foi atacada a sede da UNITA, por homens armados e desconhecidos. «Não identificados», relatava a imprensa do dia, referindo que o tiroteio provocou pelo menos 3 feridos, entre os defensores do espaço do movimento de Jonas Savimbi.
O local foi de grande concentração e movimento de carros pesados, como que confirmando a saída da UNITA para o sul - onde procuraria «concentrar forças». O objectivo seria «assumir uma posição de força», a pretexto de um pretenso atentado ao avião pessoal de Jonas Savimbi - que estaria a ser preparado em Silva Porto, cidade que era controlada pela UNITA, depois de um acordo com o MPLA, que aceitou retirar, lá deixando apenas uma delegação política.
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