Férias de há 45 anos. O furriel Viegas (segundo, à direita)
com o capitão Domingues (da ZMN e familiar de Fátima)
e a família Resende: Fátima e José Bernardino (com duas
filhas) e Albano (ao centro)
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Segunda-feira, 31 de Março de 1975! Saímos do Katekero (eu e o Cruz) para o mata-bicho na Portugália, ainda não eram 8 horas da manhã e fazia um calor intenso, quase sufocante.
A leitura da imprensa do dia ocupou-nos o tempo de matabichar e fazer horas de espera para a chegada do conterrâneo Albano Resende (às 10). Depois, caminhámos pela marginal, embrulhados no bulício de uma baixa que estava longe dos incidentes entre os movimentos - que eram lá para a alta
O edifício onde era a mítica Portugália, na baixa de Luanda e local de culto da tropa portuguesa, aqui em imagem de 22 de Setembro de 2019 |
e para os bairros suburbanos.
Passámos frente aos Correios e ocorreu-me a loucura de telefonar a minha mãe, que por aqui (onde agora escrevo, em Óis da Ribeira, município de Águeda) fazia o luto da morte de meu pai (um ano e pouco antes) e da minha jornada africana de Angola, na guerra colonial.
Era dia de visita pascal na aldeia! Um segunda-feira, como era tradicional. O não acontece, nos tempos modernos.
Telefonar para a Europa, ao tempo, não era vulgar e muito menos fácil - era quase um atrevimento. Não era como agora, na era dos telemóveis, em que ligamos na hora e na hora falamos. Tínhamos de pedir a ligação à operadora de serviço e aguardar que tal acontecesse. O que poderia levar horas. No caso concreto, a «loucura» não foi bem sucedida, pois a chamada não apanhou a mãe em casa. Tinha ido beijar a cruz a casa de familiares.
A vizinha Celeste Tavares, era dela o telefone, aproveitou para pedi notícias de uma irmã radicada em Luanda e de quem fazia tempo não ter notícias - a Benedita (que faleceu em 2016). Naquele tempo, existiam 7 telefones na minha aldeia - público, um deles!
Luanda e o Pólo Norte (à esquerda), «templo» dos bons gelados e de boas e namoradeiras conversas, lá pelos anos 70 do século XX! |
A possibilidade
de novos incidentes
O diário «Liberdade e Terra», jornal afecto à FNLA, noticiava a visita do ministro Almeida Santos a Kinshasa, onde reuniu com Holden Roberto (presidente da mesma FNLA) e, depois, com Mobutu Sese Seko (presidente do Zaire).
A situação político-militar evoluía: «Nas últimas 48 horas, houve violação do acordo entre os três movimentos de libertação e o Governo português, mas estas ocorrências não prejudicam o regresso à normalidade, ou à quase normalidade, embora se pressinta um estado latente de tensão», reportava José António Salvador, o enviado especial do Diário de Lisboa, que citamos.Almeida Santos, entretanto chegado a Lisboa, ido de Kinshasa, comentava «a possibilidade de novos incidentes» e de estes «degenerarem numa guerra civil» angolana. Admitiu a possibilidade mas manifestou a convicção de «não esperar tal probabilidade» e, por outro lado, «a certeza da neutralidade portuguesa».
«Mas nem sempre a neutralidade é possível, mesmo quando a desejamos», disse Almeida Santos, sublinhando, da actualidade angolana, uma nota positiva: «O modo como, pela primeira vez, a ordem de recolher obrigatório foi prontamente acatada», revelando, assim, «uma escalada de civismo altamente positiva».
Almoço e cerveja
no Floresta !
O almoço do dia, com o furriel António Cruz e o Albano Resende, civil meu conterrâneo e vizinho, foi no restaurante Floresta, bem perto da Sé de Luanda e do Estádio dos Coqueiros, numa rua que reencontrei em Outubro de 2019 (fechado).
A refeição foi bem comida e melhor regada de fartos «canhangulos» - como por lá se chamava às canecas de cerveja, cada qual pr´aí com um litro da dita. Boas férias, bem começadas pela luandina capital de Angola!
O final da tarde e a noite iam ter o saudoso Alberto Ferreira com «anfitrião». Antigo companheiro de escola, na Escola Industrial e Comercial de Águeda, por Luanda jornadeava ele, com cabo especialista da Força Aérea.
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