quinta-feira, 18 de junho de 2020

5 091 - O cessar-fogo de Nairobi e o banho de mangueira do Quitexe

Grupo de Cavaleiros do Norte da CCS do BCAV. 8423, na parada do Quitexe
e em Setembro de 1974, há quase 46 anos!
Flora e Fernandes, furriéis milicianos da 3ª. CCAV.
8423, a de Santa Isabel, com uma pacaça, da caçada
do dia. Quem (re)conhece o condutor?

Aos dias 18 de Junho de 1975 e pelos tempos da nossa jornada africana do Uíge angolano, a notícia maior chegava de Nairobi, onde os três movimentos de libertação se preparavam para encerrar a cimeira: «O cessar-foi foi ordenado ontem, no seguimento de um pré-acordo preparatório a que haviam chegado ainda na véspera da conferência», noticiava o Diário de Lisboa.
O jornal vespertino da capital portuguesa  acrescentava que «a cimeira pode terminar ainda hoje», dia 18 de Junho de 1975, com o anúncio do cessar-fogo
O DL de há 45 anos
falava do futuro 

Exército de Angola
também «a declaração da integração, num só Exército, da Forças Armadas dos três 
movimentos de libertação de Angola».
A notícia foi o melhor que se poderia esperar e desejar por aquele tempo de passagem do primeiro ano de jornada dos Cavaleiros do Norte por terras de Angola e do Uíge. Lá pelo norte e muito esquecidos pelas autoridades militares de Luanda, continuavam «verdadeiramente imbuídos do sentido de grandeza», que, de acordo com o livro «História da Unidade», era «de consciente, desinteressado e leal desejo de cumprir a missão que lhe está sendo imposta no processo de descolonização».
Custasse isso o que custasse. E custou!
Os furriéis milicianos Fernandes e Viegas, na 
Avenida do Quitexe (Rua de Baixo) em 1975

O banho de mangueira
ao furriel Fernandes !

A história é do Quitexe de 1975, já lá vão 45 anos..., e foi lembrada pelo ex-furriel miliciano António Fernandes, da 3ª. CCAV. 8423, a de Zalala: um banho de mangueira, após uns copos bem bebidos (em excesso) e vómitos na cama.
«Estivemos  beber na messe, a beber cervejas 
Os furriéis Viegas e Fernandes
 no Encontro da Mealhada,
a 2 de Junho de 2018
atrás de cervejas, tu estavas de serviço e foste fazer a ronda, era para aí meia noite, e quando dei por ela estavas a dar-me banho de mangueira, a lavar-me os vómitos no balneário das casa dos furriéis», lembrou-se o Fernandes, apontando para o Viegas, de sorriso rasgado e acrescentando que «foste o primeiro homem a dar-me banho; e o único..., tal eu estava».
Memória avivada, há mais pormenores da história: o Fernandes cambaleou até ao quarto, sozinho, atirou-se para cima da cama e, aos arranques de garganta, vomitou-a toda. E a ele mesmo. De volta à Casa dos Furriéis, depois da ronda, o Viegas deu com ele naquele estado (e a cama), despiu-o e arrastou-o uns metros, para debaixo do chuveiro. Só que o Fernandes, mal  acordado, não se segurava de pé e foi a jacto de água de mangueira que o lavou dos vómitos, foi enxugado e vestido de roupa limpa.
«Eh pá..., até a cama me fizeste, com lençol lavado..., só dei por ela quando acordei», recordou o Fernandes, entre fartas gargalhadas, repartidas com o Flora, o Ribeiro e o Querido, na mesa do encontro da Mealhada.
O Fernandes entrava de serviço às 8 horas, de sargento de dia, e foi o Viegas quem, prolongando o seu, com a complacência do oficial de dia, creio que o alferes Jaime Ribeiro, o substituiu pela manhã fora, até que se curou da noite mal dormida - já por depois do almoço.
Noites destas, houve, ou parecidas, pelos saudosos tempos da jornada africana dos Cavaleiros do Norte por terras do Uíge angolano! Tempos de crescimento e formação! E de saudade!

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