sábado, 21 de novembro de 2020

5 254 - O dia dos 22 anos de um «Ranger» dos Cavaleiros do Norte do BCAV. 8423!

O furriel Viegas na avenida do Quitexe,
no dia dos seus 22 anos. Atrás, a cantina
dos praças e a cobertura da escoa,
regimental. Já lá vão 46 anos!
68 anos!!! Uff!!!
Quem diria!

Aos idos tempos de 21 de Novembro de 1974, estava eu no uíjano Quitexe e riscando do dias no calendário da nossa angolana jornada africana. E fiz 22 anos!
Creio bem, foi a primeira vez que dei alguma importância a tal dia. Cá por casa, pouca importância se dava a efemérides deste tipo, os meios não eram fartos, era modesta a família, e crescíamos com o desejo e gosto de receber um par de meias como prenda, quando muito!
Lá pelo distante e saudoso Quitexe, foi diferente!! Talvez porque o moinho da saudade nos fazia mais nostálgicos, porque mais e melhor levedava o sentido de paixão e afecto pelas nossas gentes mais próximas, mas que estavam a milhares e milhares de quilómetros e nós em teatro de guerra.
O dia correu bem, pois a sementeira de cumplicidades do grupo era grande - e a colheita maior!!! - e todos nos sentíamos irmãos, família e «amantes», diria! 
Hoje, 46 anos depois e neste meio de tarde de que passa, voltei a reler algum correio da data, recebido pelos dias mais próximos desse tempo de 1974, e dou conta que alguns amigos, por esta ou outras razões, «desapareceram» do nosso palco diário. É a vida! Não que falecesse a amizade e o carinho, mas as fronteiras do mundo separaram os nossos dias.

Viegas e Rocha, furriéis mili-
anos: a primeira foto do  
Quitexe, em Junho de 1974


Dia de anos e em
serviço de ordem

Há 46 anos, fiz a «festa» com amigos Cavaleiros do Norte e hoje, pelo dia fora, muitos dos companheiros da nossa jornada africana do Uíge angola me tem refrescado a memória desse tempo.
A jantarada desse dia foi no Pacheco, com os apaparicos gastronómicos de D. Maria Lázaro, a cozinheira cabo-verdeana que fabricava sabores novos com as especiarias de lá. Mais as «bocas» dos dois Pires (Cândido e Zé), do Rocha, do saudoso Mosteias, do Cruz, do Machadinho, do Morais e do Lopes, do Monteiro, sei já lá de quantos.
Ao tempo e para «variar», estava de serviço, de sargento-dia ao BVBCAV. 8423, e naturalmente muito longe de adivinhar que, 46 anos depois, ainda por andamos, ainda que tragicamente confinados. Mas sem esquecer, nunca, os companheiros que, desta terra «confinada» já se pariram,  mas continuam imortais nas nossas memórias e para sempre!
Hoje e aqui os recordamos com saudade! 
O furriel Viegas na praia da Ilha de
Luanda, em Setembro de 1974

Prisões, mortes e
feridos em Luanda!

O dia, em Luanda, foi de mais 6 presos, «com as mãos atadas atrás das costas, alguns deles feridos e apresentados à imprensa estrangeira» pelo MPLA. 
Tinham sido capturados pelas Comissões de Vigilância do partido de Agostinho Neto, nos musseques. Um deles, acusado de assassínio; outro, de extorquir dinheiro em nome do MPLA; os restantes, de roubos - «todos acusados de se intitularem, falsamente, militantes do MPLA».
A FNLA, do seu lado da barricada, denunciava que «19 pessoas foram forçadas, recentemente, a abandonar os seus lares, no (bairro do) Catambor». Estavam «protegidas pelas Comissões da FNLA» e os seus dirigentes deixavam entender, segundo o Diário de Lisboa, que «teriam sido forçadas a abandonar as residências, na semana passada, por aderente armados de um movimento rival - cujo nome não quis revelar»
As Forças Armadas Portuguesas, por sua vez, anunciaram «um africano morto a tiro» e também «dois negros e dois brancos feridos com armas de fogo, na segunda e terça-feira» - dias 17 e 18.
As negociações em Argel, entre o ministro Melo Antunes, de Portugal, e Agostinho Neto, presidente do MPLA, decorriam em «clima de autêntica fraternidade», como disse o ministro sem pasta de Portugal.

Foi assim o meu dia de 22 anos, já lá vão 46!
O tempo voou!

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