segunda-feira, 12 de abril de 2021

5 397 - A redescoberta da Nova Lisboa de 1975, a bela Huambo de 2019!

 

O furriel Viegas junto da estátua de Norton de Matos, em Nova Lisboa, no decorrer
 da visita de saudade que lá fez em Setembro de 2019. As outras estátuas são de
 portugueses ligados à história de Angola

O furriel Viegas, em Setembro de 2019, frente à casa (amarela)
que foi do tio-avô Joaquim Viegas, em Nova Lisboa (a actual
cidade de Huambo)

A 12 de Abril de 1975, um sábado e depois de uma manhã no jardim zoológico e de um salto ao bairro de Santo António, fomos (eu e o Cruz, furriéis milicianos da CCS do BCAV. 8423) ao miradouro da Senhora do Monte, perto da Caála, e fizemos refeição por ali perto, farta e bem regada, com marisco chegado do Lobito e num pic-nic preparado pela Cecília e marido - o Rafael.
Um grande luxo, para os tempos de 
A casa de Joaquim Viegas, em Nova
Lisboa, construída nos anos 40 e 
«achada» em 2019 (foto de cima)
então!!! Férias eram férias e Nova Lisboa, a bela Nova Lisboa!!!, oferecia-nos bem-estar, qualidade vida e segurança.
Lá voltei em Setembro de 2019, em viagem de memórias da nossa jornada africana do Uíge angolano que, por exemplo, me fizeram achar, na agora Huambo, a casa de meu tio-avô Joaquim Viegas (ver imagens), o Hotel Bimbe (que foi da familiar Cecília Neves), a praça central e as avenidas largas e floridas, cheias de verdes e cores, a zona escolar, os bairros de gente saudável e segura, redescobrindo uma cidade feita jardim, limpa, arejada e iluminada, aberta e desafiadora do futuro, de gente de sorriso largo e olhares felizes, reconstruída dos trágicos tempos de guerra civil que tanto sangue fez cair nos seus chãos e lutos criou na comunidade  - o que me surpreendeu, de alguma maneira, e deixou emocionado.
O furriel Viegas num jardim de
Nova Lisboa, em Abril de 1975


«A nossa terra é aqui!!! 
Nós, ficamos cá!!!...»

Há 46 anos, quando por lá passei e me surpreendi com a modernidade novalisbonense, de lá liguei para Carmona, para saber novidades - que o Neto nos deu.
Sabíamos nós (eu e o Cruz) da calma local, embora temperada dos já habituais incidentes entre MPLA e FNLA, ambos a quererem marcar terreno no chão uíjano - onde, recordemos, o movimento de Holden Roberto tinha larga predominância.
A noite de 12 de Abril foi de jantar em casa do primo Manuel Viegas, onde a mulher Ondina nos presenteou com comida da nossa aldeia, embora com alguns condimentos angolanos - o que resultou numa apetecível refeição, acompanhada de vinho tinto (o Teobar). Falámos do futuro e o meu «conselho» foi no sentido de se prepararem para o regresso a Portugal. Mas por Nova Lisboa ninguém acreditava que a luta fratricida do norte e do leste, de Luanda e de outras cidades, alguma vez chegasse ao planalto huambano.
«A nossa terra é aqui!!!... Ficamos cá!!!...», por várias vezes exclamou Manuel, indiferente à recomendação do jovem militar de 22 anos, filho de seu primo e procurador, meu pai! A noite e a viagem de regresso ao Hotel Bimbe (onde nos levou) foi de memórias da nossa aldeia e das nossas gentes!
«E fulano? E beltrano?!...», perguntava ele, matando as saudades com as respostas que lhe oferecia à sua curiosidade. Há 46 anos!


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