quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

1 498 - Mensagem do Natal de 1966 dos Artilheiros do Quitexe

Sede do Batalhão de Artilharia 786, no Quitexe (1966)

O Natal de 2012 está à porta, embrulhado em frio e com o (des)entusiasmo de uma época de crise sem precedentes, que nos torna (portugueses) menos felizes e mais pobres. Há 46 anos, pelo Quitexe, a guarnição era de artilheiros (gente que nos antecedeu e abriu caminho) do Batalhão 786.
O comandante era o tenente-coronel Dagoberto Graça que, ao tempo, emitiu esta mensagem de Natal (que nos foi enviada pelo então furriel miliciano José Lapa):
«É este o segundo Natal que, por imperativo da nossa missão, passamos nesta ubérrima região de Portugal, espiritualmente unidos numa grande Família - a do BART 786 - a que nos orgulhamos de pertencer.
Dezoito meses são decorridos sobre a chegada a Angola, dezoito meses são passados numa actividade reconhecida de mérito por quem tem autoridade para a apreciar. Longo período, durante a qual se cimentaram entre todos os componentes desta grande família, laços de amizade, compreensão e de entre-ajuda, que perdurarão pela vida fora.
Hoje, como ontem, continuamos cientes de que o cumprimento da nossa missão nesta província exige sacrifícios, coragem, determinação, resistência física e confiança, mas conscientes da sua necessidade e moralizados pela certeza de que a nossa presença é indispensável, não regateamos novos esforços que nos sejam exigidos e continuaremos teimosamente a defender e a manter o elevado conceito em que somos tidos como um dos melhores Batalhões da ZIN.
O esforço que se nos pede é árduo e difícil e grande é também o sacrifício de estarmos afastados dos entes queridos, pais, esposas, filhos ou noivas, nesta quadra festiva, mas sentimo-nos orgulhosos por estes esforços e sacrifícios serem colocados generosamente no Altar da Pátria ameaçada.
Volto a afirmar a todos que servem comigo neste Subsector, como o fiz há um ano, que reconheço, aprecio e agradeço o zelo e a dedicação e a lealdade com que têm actuado, como agradeço também a coragem e a resignação, além da elevada compreensão, com que os nossos familiares sofrem o afastamento e suportam os perigos e dificuldades que a cada passo se nos deparam.
Daqui vos desejo um Natal Feliz e peço a Deus que continue a auxiliar-nos como até agora, a todos proporcionando um Ano Novo cheio de venturas e prosperidade.
Comando em Angola, 25 de Dez 66
O comandante

- NOTA:                                                      
O comandante Graça faleceu com o posto 
de general. Eu, que lidei diáriamente com ele, 
tenho do nosso comandante a ímagem de um 
grande militar,humanista e que impunha 
a sua autoridade sem exageros .
Um abraço
J. Lapa


1 comentário:

  1. Caro Viegas:
    Vi a dita mensagem no próprio dia e por momentos vi-me no Quitexe e na presença do meu Cmdt.
    Saudades desses tempos e principalmente dos 22 anos.
    Um abraço.
    J.Lapa

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