terça-feira, 28 de julho de 2015

3 204 - Cavaleiros a fazer malas e tensão em Carmona

O BC12, em Carmona, vista aérea. O pavilhão em baixo era o da cozinha e refeitório, 
a seguir as oficinas e a parada, com casernas e serviços 
de ambos os lados. Ao fundo, de cobertura vermelha, o edifício do comando. 
A estrada para cidade (para a direita) e o Songo (esquerda)

Quitexe, a Estrada do Café. A placa
indica que Carmona (Uíge) fica
a 39 quilómetros. Centenas
de vezes que os Cavaleiros do Norte
 por aqui passaram, em 1974 e 1975


28 de Julho de 1975! É domingo e, em Carmona, os Cavaleiros do Norte estão cada vez mais próximos do dia da rotação para Luanda. Já se sabe que a CCS e a 1ª. CCAV. 8423 vão de avião, directamente para Luanda, para o aquartelamento do Batalhão de Intendência de Angola, no campo Militar do Grafanil.
A preparação da gigantesca operação «não de adivinhava fácil» e sabia-se que a 2ª. CCAV. (a de Aldeia Viçosa) e a 3ª. CCAV. 8423 (a de Santa isabel, depois do Quitexe e agora em Carmona) vão em coluna terrestre, com apoio de uma Companhia de Comandos e outra de Paraquedistas. 
A FNLA «reina» no Uíge e repete embaraços às NT «perigosamente alvo das queixas e ataques da FNLA, nomeadamente reivindicando os desequilíbrios de outros locais», como se lê no Livro da Unidade. O ambiente é pesado e os Cavaleiros do Norte, com instruções operacionais rigorosas, tudo vão suportando, com rigor, com coragem, sacrifício e dor.
A mesma FNLA, no Caxito, continua sem avançar sobre Luanda, «apesar das sucessivas ameaças». Na verdade, lê-se no Diário de Lisboa desse dia, «o MPLA organizou um cerco às forças da FNLA e começou a sabotar pontes». A de Porto Quiri já estava cortada pelas FAPLA´s e o MPLA «iniciou a concentração de forças para desencadear um ataque à FNLA», admitindo-se que fosse «utilizar artilharia e mísseis terra-ar».
Notícia do Diário de Lisboa de 29 de Julho
de 1974, há 41 anos, sobre a cimeira e acordo
do MPLA com a FNLA
Em Kinshasa, um comunicado da FLEC (que reivindicava a independência do Enclave de Cabinda, dava conta do não reconhecimento do Governo Revolucionário Provisório, anunciado por Nzita Henriques Tiago. «Embora vice-presidente da FLEC, Nzita Henriques Tiago não pode comprometer o nosso movimento sem autorização do presidente Luís Fanque Franque. Esta sua iniciativa é, portanto, demagógica e das mais graves consequências», considerou o comunicado, adiantando que Luizi Mailu, indicado como Ministro dos Negócios Estrangeiros do GRP, «já foi demitido das funções que tinha na FLEC» e que «seja como for, as populações de Cabinda reconhecem um só líder - Luís Ranque Franque».
Assim ia, há 40 anos, o processo de independência de Angola. 
Um ano antes, em Bukavu, no Zaire, MPLA e FNLA (sem a UNITA) «concordaram em estabelecer uma frente comum para negociar com Portugal a independência de Angola». O acordo foi assinado depois de dois dias de conversações e entraria em vigor logo depois do congresso do MPLA, dias depois. O presidente Agostinho neto foi «violentamente criticado durante a cimeira» e o Diário de Lisboa de 29 de Julho de 1974 admita mesmo que se teria demitido. Este facto, todavia, «não foi oficialmente confirmado».

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