quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

3 281 - Dia de anos no Quitexe e Agostinho Neto em Lisboa

O PELREC da CCS dos Cavaleiros do Norte: 1º. cabo Joaquim Almeida, João Messejana (falecido a 
27/11/2009), José Neves, 1º. cabo Fernando Soares, Augusto Florêncio, 1º. cabo Ezequiel Silvestre (que hoje
 festeja 64 anos), João Marcos, 1º. cabo João Pinto, Raúl Caixarias e 1º. cabo Victor Florindo (enfermeiro). Em 
baixo, 1º. cabo Jorge Vicente (falecido a 21/01/1197), furriel Viegas, Victor Francisco, Manuel Leal (falecido 
a 18/06/2007), 1º. cabo Luís Oliveira (transmissões), 1º. cabo Augusto Hipólito, Aurélio Júnior (Barbeiro), 
Francisco Madaleno e furriel Francisco Neto

A Igreja da Mãe de Deus do Quitexe. A
árvore e a cobertura da direita
estão no espaço que era o aquartelamento
do BCAV. 8423. A foto é de 2012. Repare-se
na modernidade da iluminação pública

Há 41 anos, dia 20 de Janeiro de 1975, fazia 54 anos a senhora minha mãe, a quem hoje vamos soprar as velas dos 95. Era uma segunda-feira e no correio da véspera, domingo e via SPM, recebi aerograma dela, lamentando-se de estar sozinha e nem vontade ter se se lembrar dos anos «quanto mais de os festejar». No espaço de 9 meses, entre Agosto de 1972 e Abril de 1973, a nossa casa tinha ficado reduzida a ela: pela morte de meu pai, os casamentos de minhas duas irmãs e a minha ida para a tropa.
Era sofrido, mas corajoso e incentivador o aerograma. Que agora reli. Emocionado. A dor do luto de uma mãe, nela, sempre me foi escondida - embora a adivinhasse e a sentisse como minha. E sabia que as suas orações e a sua fé me eram dedicadas. «Deus te ajude a cumprires o teu dever e que voltes são e salvo, sem defeitos...», escrevia minha mãe, lembrando que «já deves ser o último da nossa terra a vir da guerra» - o que, não custa a imaginar, mais lhe enlutava a alma.
A mãe Viegas (Maria Dulce) no dia de hoje,
20 de Janeiro de 2016, quando completou 95 anos!
«Já chegou o teu primo de Moçambique e o outro da Guiné e já vieram há meses os filhos da Nilzalima e da Cidalina e por aí andas tu, não sei por onde nem como. Tu bem dizes que está tudo bem, mas o meu coração sente outras coisas, é um negrume, não penses que me iludes», releio, no aerograma de há 41 anos e certo que não era bem assim como ela pensava. E por Angola ainda estava outro conterrâneo: o sapador Custódio Ferreira, que veio pouco depois. Filho de Ermezinda, dela amiga, mas a sua dor era pelo filho. Entende-se.
O 1º. cabo Ezequiel Silvestre, que hoje
festeja 64 anos. Aqui, em pose no jardim
do Quitexe, em 1974
Por lá, fazia 22 anos o Ezequiel Maria Silvestre, bravo Cavaleiro do Norte do PELREC que, porém, não era atirador de cavalaria: era 1º. cabo de reconhecimento de infantaria, o que ia dar no mesmo. É alentejano do Cercal do Alentejo e, reformado, mora em Vale de Figueira, na Sobreda, em Almada. Rijo como o aço, como ainda há momentos me disse.
Agostinho Neto, já em Lisboa - e depois de passagens pelo Porto e Coimbra -, vestiu a bata de médico na visita ao Hospital de Santa Maia, onde trabalhara em 1962, durante alguns meses, antes de entrar na clandestinidade. "Vou-me embora amanhã, mas vou em condições muito mais favoráveis do que há 14 anos», comentou o presidente do MPLA, que visitou enfermarias e doentes, «muitos dos quais o reconheceram e saudaram» - como noticiava o Diário de Lisboa desse dia.
«Angolanos e portugueses, temos um longo caminho a percorrer. Encontramo-os hoje, mas ao longo do caminho voltaremos a estar juntos muitas vezes», disse Agostinho Neto, que iria deixar Lisboa no dia 21 desse Janeiro de 1975, para, no dia 31 estar em Luanda para a posse do Governo de Transição.

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