segunda-feira, 7 de março de 2016

3 328 - A chegada dos especialistas e os medos da guerra

Furriéis milicianos Cruz e Viegas no ajardinado de separação da Avenida
do Quitexe (a Rua de Baixo), em Dezembro de 1974. Atrás e à direita, o bar 
dos praças. Em frente, a messe de oficiais, casa dos furriéis e secretaria da CCS

Encontro de Águeda, a 9 de Setembro de 1995: os
furriéis milicianos João Aldeagas (de pé) e João Dias (de
dedo no queixo), Jorge Barreto (de pé) e Américo Rodrigues,
todos da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala
Santa Margarida, 7 de Março de 1974, há 42 anos: chegam mais especialistas ao Destacamento do RC4, onde se forma o Batalhão de Cavalaria 8423. É quinta-feira e com ar muito sério, a cofiar o bigode e cara de poucos amigos, apresenta-se o já furriel miliciano Cruz, mecânico rádio-montador. É o mais velho de nós todos e a especialidade «durou-lhe» um ano, em Paço de Arcos. Viria a ser um dos meus maiores companheiros da jornada africana. Até em férias, quando em Abril de 1975, corremos a enorme Angola, de Luanda ao sul, sentindo-lhe os seus cheiros e deslumbrando-nos com as suas cores.
Ao jantar, ficámos na mesma mesa e daí cresceu a amizade que, levedada pelo tempo, dura até aos dias de hoje. Na hora do café, a conversa virou-se para o futuro: o que nos esperará em Angola? As notícias do dia não são das melhores. O comunicado oficial do Serviço de Informação Pública das Forças Armadas dá conta de mais mortos: dois em combate (na Guiné e em Angola), um de acidente de viação, na colónia do nosso destino. Em combate, o 1º. cabo  Samuel Silva de Faria Quinta, madeirense da Ribeira Braga (em Angola) e Bacar Demba, do recrutamento da Guiné. De acidente e em Angola, o furriel ,miliciano António dos Reis Morais, do Barco, na Covilhã.
Viegas e Cruz,  em Lisboa, num dos seus
frequentes encontros. Este, 40 anos depois de se
terem conhecido em Santa Margarida (a 7 de
Março de 1974)
Falámos do fatalismo da guerra e do estigma com que crescemos, desde os nossos 8/9 anos, galgando a adolescência e a juventude com a certeza de que o nosso destino já estava marcado na agenda das nossas vidas, para esses trágicos anos de combates, de dores e medos. 
Agora, nesse tempo de 1974, aí estávamos nós, jovens de 21 para 22 anos, operacionalizados na exigente instrução militar e em vésperas do embarque para a África onde, pelas juras da Pátria, iríamos defender o património político e territorial que aprenderamos a conhecer na escola: o do Portugal que vai (ia) de Minho a Timor!

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