sábado, 30 de abril de 2016

3 382 - Morteiros no céu de Luanda e avião que voltou à pista...

O furriel Viegas (segundo, à direita) com o capitão Domingues (da 
ZMN) e a família Resende, em Luanda: os irmãos Albano e José Bernardino - o 
segundo, à esquerda, com a esposa Fátima e duas filhas. Há 41 anos!


Francisco Miranda, um Cavaleiro do Norte
do PELREC que venceu a Volta a Portugal
em Bicicleta de 1980

As malas estavam feitas da véspera, demos a última volta pela baixa de Luanda e, nessa manhã de 30 de Abril de 1975, ainda almoçámos na Mutamba, meio a correr e, de táxi, fomos (eu e o Cruz) para o aeroporto - a que, na véspera, tínhamos regressado, após uma meia hora de voo sobre os céu de Luanda, por onde troavam morteiros, canhões e rajadas de metralhadoras ligeiras e pesadas, dos combates entre movimentos.
O voo não
PELREC. Augusto Hipólito (em França), José
Monteiro (Paredes), Joaquim Almeida (falecido a
28/02/2009, de Penamacor) e Jorge Vicente (de Vila
Moreira, falecido a 21/01/1997). Em baixo, António
Garcia (de Carrazeda de Ansiães, falecido a 2 de
Novembro de 1979, de acidente), Leal (falecido a 18/06/2007, 

no Pombal e de doença), Francisco Neto (Águeda) e
Aurélio Júnior (Barbeiro, de Ferreira do Zêzere) 
seguira para Carmona e, nessa noite de 29 de Abril de 1975, fomos «despejados» numa pensão, sem comida que tivemos de procurar já depois do recolher obrigatório e com todos os perigos que isso representava. A cada momento, podámos ser alvejados. O Diário de Lisboa do dia seguinte (dia 30 de Abril de 1975) dá conta de «um reencontro entre forças da FNLA e da UNITA, que já vinham de segunda-feira» - dia 28, apesar de o Diário de Lisboa de 30 (hoje se fazem 41 anos) referir que «não estão determinadas as forças envolvidas nos recontros», sendo certo que «os primeiros incidentes registaram-se entre o MPLA e a FNLA».
Certo foi que «(...) as ambulâncias percorreram as ruas da cidade em direcção aos estabelecimentos hospitalares, desconhecendo-se, no momento, o número de mortos e feridos, não sendo de excluir que ande já pelas dezenas».
Custódio Pereira Gomes,
professor e advogado
em Carmona
Há 41 anos, nessa manhã em que eu e o Cruz descemos para a Mutamba, à procura de almoço, «registaram-se alguns incidentes, que ultrapassaram já os limites dos musseques» e houve tiroteio nas Avenidas do Brasil (próximo da sede da FNLA) e dos Combatentes - onde ficava a messe de sargentos (portuguesa).
A cidade, de resto, acordara ao som de tiroteios, de variadas origens e com armas de diversos calibres, e o Diário de Lisboa acrescentava que «pode dizer-se que ninguém dormiu». Bem o sabíamos. Mas lá fomos para o aeroporto, onde nos reencontrámos com o dr. Custódio Pereira Gomes - professor e advogado em Carmona, ao tempo já viúvo de minha conterrânea Maria Augusta Tavares, que em Carmona fora professora. Na véspera, indo no mesmo avião, também voltou a terra e por essa altura nos identificámos.
Hoje, estes 41 anos
A Ordem de Serviço 61 do RC4,
com a transferência de vários futuros
Cavaleiros do Norte do PELREC.
Clicar, para a ampliar
passados, dou conta da transferência, da 3ª. Companhia de Cavalaria 8423 (a futura da Fazenda Santa Isabel) para a CCS (e futuro PELREC), de Fernando Soares, João Pinto, Ezequiel Silvestre, José Manuel Cordeiro, Albino Ferreira e Augusto Hipólito (depois, todos eles promovidos a 1ºs. cabos), Francisco Miranda, Raúl Caixarias, João Marcos e Francisco António. Da 2ª. CCAV . 8423 (a a de Aldeia Viçosa) e também para o PELREC, Jorge Vicente (1º. cabo, falecido de doença a 21 de Janeiro de 1997, em Vila de Moreira, Alcanena), José Neves, Virgílio Caretas (de quem nunca nada soube, não foi para Angola), Carlos Cardoso (idem), Augusto Florêncio, Dionísio Baptista, Aurélio Júnior (o Barbeiro) e João Messejana (falecido, de doença, a 27 de Novembro de 2009 e em Lisboa). Todos a 15 de Março de 1974. A 28 de Fevereiro do mesmo, já fora transferido Joaquim Almeida (futuro 1º. cabo, falecido a 28 de Fevereiro de 2009, vítima de doença e em Penamacor, na sua terra natal). Vinha do 1º. Esquadrão de Instrução (EI).
O soldado atirador Francisco Alves Miranda, embora mobilizado para o BCAV. 8423, não foi para Angola - rendido por um outro militar. Era ciclista do Sporting e viria a ganhar a Volta a Portugal em Bicicleta de 1980 - entre outras provas nacionais. Em 1979, venceu o Grande Prémio JN, que ocasionalmente acompanhei. 
Ver AQUI




sexta-feira, 29 de abril de 2016

3 381 - A 2 dias do fim de férias, Luanda de boas coisas...

Grupo de Cavaleiros do Norte no jardim das piscinas de Carmona:  Nelson 
Rocha, Pedrosa de Oliveira, Manuel Machado, José Lino e António Cruz. 
Todos furriéis , menos o alferes P. Oliveira (o segundo, da esquerda, de branco)


O furriel Viegas, no penúltimo dia de férias militares.
A 29 de Abril 
de 1975, na ilha de Luanda e com

o Toyota do conterrâneo (civil) Albano Resende. 
Há precisamente 41 anos. Hoje se fazem!

A 29 de Abril de 1975, há precisamente 41 anos, eu e o António Cruz já antecipávamos o fecho de malas para, de Luanda e de um mês de férias, regressarmos a Carmona, onde jornadeavam os Cavaleiros do Norte e por onde, mais incidentes menos incidente, as coisas iam mais ou menos tranquilas.
Tínhamos almoço combinado com o (meu) conterrâneo Albano Resende (civil) e por ele esperámos na Mutamba, para galgarmos a marginal e, por escolha dele, irmos à ilha mariscar o almoço. Foi a caminho e ao final da manhã, já passando perto da Portugália, que nos cruzámos com uma comitiva da UNITA, onde ia Jonas Savimbi.
O Diário de Lisboa dessa tarde dava conta que tinha dado uma conferência de imprensa e «levava a ombro uma carabina ligeira automática e era flanqueado por dois guarda-costas». Os homens, vimos; não vimos a carabina. Na conferência de imprensa, confirmara que era «imperativo a realização da cimeira dos três partidos, antes que seja demasiado tarde»
Jonas Savimbi, presidente da UNITA (net)
O presidente da UNITA sublinhou também a «necessidade de escolher um gabinete que governe o país, após a independência de Novembro», mas observou que «não podíamos prever que qualquer dos movimentos obteria uma maioria absoluta». A «única solução», do seu ponto de vista, seria «o vencedor da consulta às urnas traçar linhas gerais do futuro político do pais, que estaria nas mãos de uma coligação de unidade nacional, formada pelos três partidos».
Jonas Savimbi, sobre uma eventual guerra civil, considerou-a «uma impossibilidade prática». Isto porque, sublinhou, «cada um dos movimentos que a desencadeasse, teria de lutar com os outros dois e, além disso, nenhum dos vizinhos desejaria a guerra».
«Os três movimentos de libertação devem procurar uma força (um exército) verdadeiramente nacional o mais depressa possível», disse Jonas Savimbi, notando que «o futuro exército não necessita de ser muito grande, visto não precisarmos de um exército desse género».
A mariscada do almoço na ilha saciou todos os nossos apetites. Bem regada - acho até que com vinho verde, se a memória me não atraiçoa -, bem farta e apetitosa. A imensa metrópole luandina oferecia tudo o que havia de melhor. E nós não desperdiçávamos oportunidades. Bons tempos!!!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

3 380 - Comandante no Quitexe, Savimbi, Cruz e Viegas em Luanda

Grenha Lopes (que amanhã comemora 64 anos), Viegas, António 
Fernandes (de bigode) e Delmiro Ribeiro (de óculos): quatro furriéis 
Cavaleiros do Norte à porta da Casa dos Furriéis, no Quitexe


Campo  Militar de Santa Margarida. O RC4 (assinalado
no hexágono amarelo), a capela (seta) e o Destacamento
onde, há precisamente anos, estava o BCAV. 8423.
Clicar na imagem, para a ampliar


Os dias de Abril de 1975 iam passando, Luanda fervia em boatos e incidentes, desentendiam-se os movimentos e Jonas Savimbi, presidente da UNITA - ali chegado dois dias antes, no sábado (estávamos na 2ª.-feira, dia 28) - reafirmava a sua disponibilidade para a cimeira entre os três movimentos.
Savimbi fora «recebido no aeroporto de Luanda por uma multidão entusiástica e ruidosa»,  porém (e ainda bem) «não se tendo registado quaisquer distúrbios». Manifestou «todo o apoio ao Governo de Transição» e sublinhou que «é imperioso que os três movimentos de libertação coexistiam pacificamente». Quanto à cimeira, «poderia realizar-se em Angola ou no estrangeiro», acrescentando Jonas Savimbi «ter a certeza que ela reduziria a tensão entre os movimentos de libertação». Referiu, também ter estado com Agostinho Neto em Lusaka, mas recusou-se a comentar a reunião.
O comandante Almeida e Brito e o capitão
José Paulo Falcão no Encontro de Águeda, a 9
de Setembro de 1995, 20 anos depois do
regresso de Angola
O dia, pelas bandas do Uíge, foi de visita do com,andante Almeida e Brito à 3. CCAV. 8423, ao tempo ainda no Quitexe - o nosso saudoso Quitexe. Tinha lá estado dois dias antes (a 26 de Abril), nesta altura fazendo-se acompanhar do oficial adjunto - o capitão José Paulo Falcão.
Um ano antes e por terras de Santa Margarida, o BCAV. 8423, que se havia preparado para fazer o IAO (Instrução Altamente Operacional, ou Instrução de Adaptação Operacional) nem sequer o começou - devido ao 25 de Abril.  «A instrução foi novamente interrompida, face ao Movimento das Forças Armadas», relata o Livro da Unidade. 
A mobilização, essa era certo ser para Angola, muito embora «desconhecendo-se ainda o local do destino na RMA». Todavia, «foram marcadas as datas de embarque do batalhão, para fins de Maio, princípios de Junho», como assinala o Livro da Unidade.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

3 379 - Aos 27 dias de Abril de 1974!! E de 1975!!!...

Cavaleiros do Norte do Parque-Auto. De pé, Teixeira (estofador), Malheiro, 
Frangãos (Cuba), Marques (Carpinteiro, falecido a 1 de Novembro de 2011), 
Pereira (condutor), Gaiteiro e Teixeira (pintor). Em baixo, Monteiro (Gasolinas), 
Pereira (mecânico), Celestino, Gomes (condutor, que hoje faz 64 anos), 
Mendes (bate-chapas) e Miguel

Furriéis milicianos de Zalala com penteados bem avançados,
para o tempo: Américo Rodrigues (Famalicão), Eusébio
Martins (de Belmonte, falecido a 16/04/2014), Jorge António
Barata (de Alcains. falecido a 11/10/1997) e
Plácido Jorge Queirós (de Braga)

Há 42 anos, dia 27 de Abril de 1974, os portugueses viviam a explosão revolucionária resultante do 25 de Abril e, por todo o país, multiplicavam-se manifestações. De Angola chegavam notícias, nomeadamente do Comando-Chefe das Forças Armadas, dando conta que até às 16 horas de 26 de Abril «não foi recebida qualquer comunicação oficial sobre os acontecimentos da metrópole».
O Diário de Lisboa de 27 de Abril de 1974,
apenas dois dias depois da revolução.
Há 42 anos!!!
O Comando-Chefe estava interinamente a cargo do general Francisco Rafael Alves e, no comunicado, sublinhava que «as Forças Armadas que prestam serviço em Angola tê, como é natural, uma missão a cumprir no teatro de operações ponde actuam», pelo que continuariam a «assegurar o melhor desempenho da missão a todos comum, dentro dos princípios militares (...), de acordo com as directivas dos órgãos hierarquicamente superiores».
O Governador Geral de Angola, o engº. Fernando Augusto Santos e Castro, emitiu nesse dia um comunicado de demissão: «Às 23 horas e 30 minutos do dia 26 do corrente foi-me entregue uma mensagem da Junta de Salvação Nacional, que me demite das funções de Governador Geral de Angola. Amanha, sábado, ás 12 horas, entregarei o Governo-Geral de Angola ao encarregado do Governo que me foi indicado, o excelentíssimo secretário geral». Tratava-se do então tenente-coronel Soares Carneiro - que anos depois seria candidato a Presidente da República. 
Agostinho Neto, em Montreal (no Canadá), afirmava que «uma federação como a que foi proposta pelo general Spínola, isto é uma federação onde Portugal terá a última palavra, não nos convém». «O MPLA luta, desde sempre, por uma independência completa (...). A luta multiforme do nosso povo continuará até à liberdade», disse o presidente Agostinho Neto, acrescentando que «o MPLA declara-se pronto a negociar com Portugal o problema do nosso país».
Um ano depois, eu e o António Cruz continuávamos em Luanda, a quase fechar as nossas férias angolanas, divertindo-nos na imensa metrópole, tão cheia da atracções e desejos - que por lá satisfazíamos tardes e noites adentro, geralmente depois do «mata-bicho» matinal, na Portugália, e da leitura dos jornais do dia, que o Rebelo Carvalheira (jornalista do A Província de Angola) connosco dividia: o próprio Província, o Comércio, o ABC, a revista Notícia (quando saía) ou até o Diário de Luanda da véspera e alguma imprensa de Lisboa, naturalmente atrasada.
Grandes e utílimas conversas ali tínhamos, sobre a actualidade angolana e portuguesa, expectando o futuro mais próximo. Querendo adivinhá-lo!

terça-feira, 26 de abril de 2016

3 378 - O dia seguinte, há 42 anos, do 25 de Abril!!!

Uma coluna da CCAÇ. 209/RI 21, a do Liberato, a caminho do Quitexe,
por uma das «famosas» e muito perigosas picadas do norte de Angola

Nogueira (do Liberato) e Viegas, em Lisboa,
com a cidade em fundo, em dia (20 de Abril de 2016)
de encontros com Cavaleiros do Norte


O João Nogueira foi condutor do Liberato e tem sido «investigador» do Cavaleiros do Norte, pelo lado de além-Tejo, por onde moram (e ele descobriu) o Fernando Soares, o Ezequiel Silvestre, o Alberto Ferreira e o Dionísio Baptista, pelo menos, quatro garbosos combatentes do PELREC. Um destes dias (20) da semana passada, por lá andámos em busca deles! E do Mendes, do restaurante Travessa - na zona de Alcântara e ao pé do Palácio das Necessidades.
Monumento dos Mortos, na Fazenda do
Liberato, onde esteve a CCAÇ. 209, do
RI 21 de Nova Lisboa
O Nogueira é oriundo de Tomar, mas foi criança para Angola - onde o pai, técnico dos Caminhos de Ferro de Benguela, assentou arrais no Lobito. Quando chegou o tempo de tropa, fez recruta e especialidade e marchou para a guerra, mobilizado para o norte e «acampando» na Fazenda do Liberato, na CCAÇ. 209, do RI 21 de Nova Lisboa - a mesma que nos primeiros dias de Outubro de 1974 se revoltou e quis avançar sobre Carmona.
Reformado da Carris, divide-se entre a Tomar natal e a Cova da Piedade, por onde se instalou depois de chegar de Angola - já depois da mulher, grávida de um dos seus filhos (um casal). É, por afinidade, um garboso Cavaleiro do Norte!
Há 42 anos, uma sexta-feira e depois do 25 de Abril, os (futuros) Cavaleiros do Norte foram dispensados para fim de semana, depois do almoço, e rapidamente viajámos para Águeda, no SIMCA 1100 do Francisco Neto - que em Coimbra «apanhou» um manifestação de milhares de pessoas, entre a ponte do rio Mondego e a avenida Fernão de Magalhães, a certo ponto o povo conseguindo mesmo levantar a viatura, quando nela descobriram militares. Nós, ali feitos heróis da revolução!!!
O Diário de Lisboa de há 42 anos, dia 26
de Abril de 1974, anunciando a libertação
dos presos da PIDE/DGS
Aqui, na aldeia e procurando minha mãe, achei-a a trabalhar na sacha de um campo. «Estás cá, rapaz?!...». Estava, claro que estava. «O que é que se passou lá por Lisboa? Vocês sempre vão lá para fora?...», perguntou-me.
A euforia popular levara a que muita gente pensasse, crédula, que mais ninguém iria para a guerra colonial. Fora o que ela ouvira falar, nas vozes da rua - pois, ao tempo, muito pouca gente tinha televisão, poucos tinha rádio e não havia as modernidades comunicacionais de hoje. 
«Segunda-feira, volto para o quartel. Vou na mesma para Angola...», respondi eu.
Ouviu-me em silêncio e sem retirar os olhos da sacha, continuou o trabalho e mandou-me ir ao cabeceiro da terra, buscar uma qualquer alfaia agrícola.
O MPLA, a partir de Brazaville, fazia saber estar disponível rara negociar com Portugal, ou «aumentar a luta armada contra a tropa portuguesa, se a nova Junta Militar em Lisboa não modificar a sua política colonial». O alto dirigente Lúcio Lara, falando à Agência Reuter disse mesmo que se não e registasse qualquer mudança política «aproveitaremos a vantagem de situação em Portugal para resolver a questão de Angola, vibrando ainda golpes mais duros no Exército Português».
Era para esta Angola que iriam seguir (e seguiram) os garbosos soldados, sargentos e oficiais do Batalhão de Cavalaria 8423! Faltava saber o dia!!! Um ano depois, era a vez do adeus definitivo a Aldeia Viçosa - onde a 2ª. CCAV. 8423, a do capitão miliciano José Manuel Cruz, de lá saída a 11 de Março, ainda mantinha um pequeno grupo operacional, nesta data se desactivando o quartel.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

3 377 - Onde estavam os Cavaleiros do Norte no 25 de Abril?!

Grupo de Cavaleiros do Norte do PELREC, no encontro do Pombal, 
em 1996: Madaleno, (ex-furriéis milicianos) Monteiro, Viegas e Neto, 
Caixarias, (1º. cabo) Pinto e Cordeiro. Há quase 20 anos!


O 25 de Abril de 1974 na 1ª. página do Diário
Popular, vespertino de Lisboa. repara-se no rodapá: «Este
jornal não foi visado por qualquer comissão de censura»


Onde estavam os Cavaleiros do Norte no dia 25 de Abril de 1974?! 
Estavam em Santa Margarida, no RC4, em instrução operacional, recomeçada a 22 e depois dos 10 dias de mobilização - a chamada Licença de Normas que, marcada para entre 18 e 28 de Março, foi sucessivamente ampliada. 
Era 5ª.-feira e, de minha parte e como era habitual, levantei-me cedo, para as operações de higiene, como sempre ouvindo rádio num pequeno transistor - nessa manhã com (surpreendentes) marchas militares. Até que foi (re)lido o comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA) e compreendi (?) o que se passava. A correr, fui acordar a malta toda e todos nos interrogámos sobre as dúvidas do momento. Fomos impedidos de sair do RC4, para o Destacamento onde estava a guarnição, e só pelas 10 para as 11 horas e pela voz do comandante Almeida e Brito soubemos verdadeiramente o que estava a acontecer. O BCAV. 8423 «não tinha sido contactado para a efectivação do Movimento, nem tão pouco algum ou alguns dos seus oficiais», mas, como sublinha o Livro de Unidade, «de imediato (...) todo o Batalhão se sentiu como parte integrante». De resto e pelo comandante Almeida e Brito, «foi explicado a todo o pessoal o que o MFA pretendia, em palestras orientadas especificamente para oficiais, sargentos e praças».
Capa do jornal «A Província de Angola»,
com a notícia do 25 de Abril de 1974
Um ano depois, estávamos (eu e o Cruz) em férias na capital angolana e por lá passámos tranquilamente o dia, alheios ao processo eleitoral que decorria por todo o Portugal e, obviamente, também por lá.
o votámos (como ir votar a Carmona?) mas passámos o dia curiosos, expectando sobre o que se passava em Portugal. Que partido ganharia as eleições? Os ecos que nos chegavam apontavam para a vitória da esquerda, com o PS à frente - seguido do PPD (actual PSD). Depois, o PCP e o CDS. Mas a contagem de votos não tinha a rapidez de hoje e teríamos de esperar mais algum (largo) tempo para conhecer os resultados finais.
Em Carmona, onde os Cavaleiros do Norte tinham montado as necessárias assembleias de voto para o histórico acto eleitoral, «verificou-se a ida às urnas de todo o pessoal que o quis fazer».
O dia, porque era o primeiro aniversário do 25 de Abril, foi assinalado com «cerimónias simples e singelas», no Comando Territorial de Carmona, onde se realizou «o içar da Bandeira Nacional, com as melhores honras militares e a presença de todos os oficiais do CTC e BCAV. 8423». Há 41 anos!!!

domingo, 24 de abril de 2016

3 376 - Véspera de eleições em Luanda e preparação em Carmona

A 1ª. CCAV. 8423, os Cavaleiros do Norte de Zalala, saiu de Vista Alegre e 
Ponte do Dange a 24 de Abril de 1975 - hoje se fazem 41 anos. Um grupo de 
TRMS: Lago e Raposo (de pé), Coelho, Hélio, Lourenço, Aires e Carlitos

O (ex-1º. cabo) José da Fonseca Mendes, á esquerda e ao
telefone com o (ex-furriel miliciano) José Pires, ambos de
transmissões. Aqui, com o (ex-furriel miliciano Viegas.
A  20 de Abril de 2016, em Lisboa 


A 24 de Abril de 1975, andávamos (eu e o Cruz) a laurear o queijo por Luanda, matando os últimos dia de férias e, não sabíamos mas, pelo norte de Angola - no nosso querido e saudoso Uíge!!!... - e nesse mesmo dia, os Cavaleiros do Norte também estavam em fase de adeus. Adeus a Vista Alegre e a Ponte do Dange, terras da jornada africana dos Cavaleiros do Norte de Zalala (os da 1ª. CCAV. 8423, do capitão miliciano Davide Castro Dias).
Desactivados estes aquartelamentos, rodou a 1ª. CCAV. 8423 para o Songo, «com um Destacamento temporário em Cachalonde». O 2º. comandante do BCAV. 8423, o capitão José Diogo Themudo, fez questão de, por isso mesmo e neste dia 24 de há 41 anos, se deslocar a Vista Alegre.
A primeira página do Diário de Lisboa de
há precisamente 41 anos: dia 24 de Abril
de 1975, véspera das primeiras eleições
pós-25 de Abril
As primeiras eleições realizavam-se no dia seguinte (a 25) e essa véspera foi tempo de mais uma palestra de esclarecimento, lá em Carmona e segundo o Livro da Unidade, «orientada por oficiais do Comando Territorial de Carmona (CTC) e do BCAV. 8423, ambos delegados do MFA».
Foi também tempo de anúncio da compra de dois Boeings 730-200 para os TAAG e de um contrato de 17,3 milhões de dólares com a mesma empresa americana, para «melhoria do controlo do tráfego aéreo em 10 aeroportos do país». Eram tempos de grande confiança mo futuro.
A imprensa de Lisboa dava conta da mensagem eleitoral do Presidente Costa Gomes, com «esperança no pluralismo do socialismo português», e publicava últimas indicações sobre o modo como iria (deveria) decorrer o acto eleitoral, «entre as 8 e as 19 horas» de 25 de Abril, quqndo se fazia um ano de revolução. As rádios e a televisão mobilizaram grandes equipas de reportagem para o grande dia e expectavam-se 30 horas consecutivas de TV, para cobrir o grande acontecimento.
A norte de Angola e no Uíge, os Cavaleiros do Norte, «dando colaboração ao processo revolucionário de Portugal», foram encarregados da «montagem das assembleias de voto em Carmona». Por Luanda, e indiferentes a isso, e eu e o Cruz passeávamos os «últimos cartuchos» das nossas férias, na serenidade dos deuses e nos vícios dos homens!
Há dias, a 20 de Abril de 2016 e em plena capital do ex-império, achei-me com um Cavaleiro do Norte da CCS: o 1º. cabo de transmissões José da Fonseca Mendes, agora empresário do restauração, no Travessa - bem perto do Palácio das Necessidades, em Lisboa. É ele, na imagem do topo deste post e dele falaremos dentro de dias.

sábado, 23 de abril de 2016

3 375 - Carmona preparou eleições e Angola sem lei para elas...

Oficiais dos Cavaleiros do Norte na avenida do Quitexe e em frente ao 
edifício do comando: os alferes Jaime Ribeiro e António Garcia e os tenentes 
Acácio Luz e João Mora - que faleceu há 23 anos, a 21 de Abril de 1993! RIP!!!

O ex-furriel Viegas e  o ex-1º. cabo Soares, dois Cavaleiros
do Norte do PELREC que se abraçaram 41 anos depois
da jornada africana do Uíge angolano, agora (dia 20 de
Abril) «achados» do outro lado de Lisboa, em Almada!
Carmona e o BC12 foram palco, a 23 de Abril de 1975, de uma nova palestra sobre  as eleições do dia 25 (seguinte), as primeiras da era democrática e que elegeriam (como elegeram) os deputados que viriam a elaborar e aprovar a Constituição.
O objectivo era, como facilmente se imagina, esclarecer o pessoal da guarnição sobre o acto eleitoral, que era absoluta novidade para toda a gente - não só para os militares, como também para os civis. Como seria, como não seria!...
O dia foi de viagem aérea, minha e do António Cruz, do Lobito para Luanda, a bordo de um avião dos TAAG (Transportes Aéreos de Angola) e com um grande «cagaço» na chegada à capital, ao sobrevoar Catete, quando a aeronave «caiu» num poço de ar e nos sentimos (todos os passageiros) pendurados por onde não digo. Mas lá aterrámos e, logo depois, pousámos malas no Katekero e «voámos» para a baixa, à procura de «matar» a fome.
Recorte da Ordem de Serviço nº. 77, do RC 4 (de 4
de Abril de 1974) com a transferência interna de alguns
1ºs. cabos milicianos Cavaleiros do Norte para a 1ª.
CCAV. 8423, a (futuramente) de Zalala: Manuel Pinto,
Mota Viana, José Louro, Américo Rodrigues, Eusébio
Martins (falecido a 16/04/2014), Baldy Pereira, João
Aldeagas, Victor Costa, Jorge Barata (falecido a
11/10/1997), Plácido Queirós e João Dias
Luanda, à imagem de semanas antes - quando por lá começamos as férias abrilina desse 75 de há 41 anos!... - aparentava calma, mas ficámos a saber que, afinal, as eleições (previstas para Outubro) poderiam ser adiadas. 
«Podem ser canceladas...», admitia Agostinho Neto, presidente do MPLA, falando em Dar-Es-Salam, e citado pela agências ANI e AP.
A legislação ainda não tinha sido elaborada, muito menos aprovada e sequer regulamentada. A «falha» era do Governo de Transição e Agostinho Neto falou do projecto de lei que, para o efeito, o MPLA tinha apresentado, assegurando, por outro lado, que o seu movimento/partido «continuaria a fazer a sua campanha». E falou também dos (então) recentes incidentes em Angola, oferecendo-se para «uma reunião dos presidentes dos três movimentos» - o MPLA, a FNLA e a UNITA. 
«Em vez de nos alvejarmos uns aos outros, em vez de usarmos a violência, poderíamos discutir os nossos problemas» , disse Agostinho Neto.
Agora, a 20 de Abril de 2016, dois Cavaleiros do Norte do PELREC (o ex-furriel Viegas e o ex-1º. cabo Soares) reencontraram-se no Laranjeiro, em Almada - a terceira vez, depois do regresso de Angola.
A «viagem» foi feita com o prestabilíssimo João Nogueira, condutor da Companhia do Liberato, e a memória avivou-se, lembrando muitos nomes e personagens da nossa jornada africana do Uíge angolano. Por sorte (ou azar), não achámos o Ezequiel Silvestre (a trabalhar), o João Pinto (mudou de residência) e o Dionísio Baptista (na Suíça). Um dia os «acharemos», para rebobinarmos a vida e fazermos história do tempo em que fomos companheiros os Cavaleiros do Norte.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

3 374 - Cavaleiros do Norte em troca de prisioneiros em Úcua

Úcua, em foto de Carlos Ferreira, da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala - a 12 de
Dezembro de 2012. Aqui, os Cavaleiros do Norte participaram num patrulhamento
de que resultou uma troca de prisioneiros, a 22 de Abril de 1975. Há 41 anos!

O bem-bom tranquilo das férias
angolanas de há precisamente 41 anos. Em
Nova Lisboa, em cima...
Lobito e Benguela, pelo dia 22 de Abril de 1975, continuava a ser chão das nossas férias angolanas, mas já a fazer malas para a viagem aérea para Luanda, no dia seguindo - o 25 de Abril das primeiras eleições nacionais, para a Assembleia Constituinte. 
O fim da tarde dessa 3ª.-feira abrilina de há 41 anos foi tempo para um faro encontro gastronómico, a matar saudades de Águeda e com o meu particular amigo Zé Ferreira, o furriel miliciano de Operações Especiais (Rangers), meu antigo companheiro de escola de Águeda, depois contemporâneo de Lamego (eu já instrutor, ele ainda instruendo...), ainda hoje amigo e... de sempre. 
... e em Benguela (foto de baixo)
O jeito do adeus foi regado numa esplanada da Restinga benguelense, com umas boas pratadas de camarão. Só podia! E com bife com batatas fritas e ovo a cavalo, com vinho tinto, coisa rara por aqueles tempos! Uns verdadeiros luxos!
Ao tempo não sabíamos mas, pelo norte de Angola - no nosso querido e saudoso Uíge!!!... - e nesse mesmo dia, os Cavaleiros do Norte também estavam em fase de adeus. Adeus a Vista Alegre e a Ponte do Dange, terras da jornada africana dos Cavaleiros do Norte de Zalala (toda 1ª. CCAV. 8423, do capitão miliciano Davide Castro Dias.
Desactivados estes aquartelamentos, rodou a 1ª. CCAV. 8423 para o Songo, «com um Destacamento temporário em Cachalonde». O 2º. comandante do BCAV. 8423, o capitão José Diogo Themudo, fez questão de, neste dia 24, se deslocar a Vista Alegre.
Realizando-se as primeiras eleições no dia 25, essa véspera foi tempo de mais uma palestra orientadora, segundo o Livro da Unidade «orientada por oficiais do Comando Territorial de Carmona (CTC) e do BCAV. 8423, ambos delegados do MFA».
Ao tempo não
Patrulha mista na cidade de Carmona (imagem
da primeira semana de Junho de 1975). A
foto é de Alfredo Coelho (Buraquinho)
sabíamos mas, pelo norte de Angola - no nosso querido e saudoso Uíge!!!... - e nesse mesmo dia, os Cavaleiros do Norte estiveram envolvidos num patrulhamento a Úcua «com vista a fazer-se uma troca de prisioneiros, que, sem êxito, já tinha sido tentada em 21 de Abril», na véspera.
Vivia-se «a procura de obter para o Uíge uma calma aparente e o entendimento entre todos os movimentos», tarefa que não se ofereceu fácil. Os problemas que pela altura se viviam, na, recordemos, «ressaca dos incidentes de Luanda e Salazar», justificaram a «procura de encontrar soluções», nomeadamente, como refere o Livro da Unidade, «através de reuniões semanais, primórdio de Estado Maior unificado».
A esse dia 22 do mês de Abril de 1975, hoje se fazem 41 anos e «no resultado de uma delas, veio a realizar-se uma reunião a nível mais elevado com elementos do Gabinete Militar Misto» - da qual acabou por resultar a troca de prisioneiros em Úcua.
A tensão crescia, lá pelas andas do norte, onde jornadeavam os Cavaleiros do BCAV. 8423! Piores dias estavam para chegar!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

3 373 - Viegas e Zé Ferreira, dois furriéis «rangers» em Benguela!!!

O furriel miliciano Viegas há 41 anos, quando passava férias angolanas. Aqui, 
no Lobito, com o porto de mar em fundo. Era o segundo maior de Angola...

O Viegas e o Zé Ferreira, furriéis
milicianos de Operações Especiais
(Rangers), encontraram-se há
41 anos em Benguela (Angola)
O Zé Ferreira era furriel miliciano de Operações Especiais (os Rangers), do curso que se seguiu ao nosso (o dos iguais dos Cavaleiros do Norte), por Lamego amargurou as dores da instrução e a nós se juntou em Santa Margarida, também mobilizado para Angola, mas para Maria Fernanda. Uma rotação, levou a sua Companhia (independente) para a paradisíaca terra de Benguela, com quartel colado à praia - dela separado por uma rede de arame farpado. Lá o fui achar!
Tinha preparada a surpresa de lhe aparecer e uma (idiota) «partida», pré-anunciando-lhe, em dramático aerograma, ter sido vítima de um acidente de guerra. Uma estupidez! Quando lhe apareci, dormia ele um pesado sono de sesta, acabei por lhe pregar um (bom) «susto» - que, para tudo acabar em bem, foi regado a boa cerveja Cuca (bem fresca) - ou foram Nocais, Ekas, ou N´Golas?!!!... - e uns saborosos camarões que acabámos por ir «devorar» a uma popular cervejaria da Restinga.
Estávamos instalados (e magnificamente!...) em casa dos familiares do António Cruz (que por lá reencontrou uma antiga namorada!...) e o nosso tempo era todo para a borga. Bons tempos!!! 
Foi tempo, também, para bons passeios pelas praias e locais de culto turístico da região - incluindo Benguela e Catumbela, as salinas e a famosa SBELL, produtora de bebidas alcoólicas e principalmente o popular whisky do mesmo nome. 
O dia, lá pelo norte onde aquartelávamos (e nos esperava dentro de dias), foi de um patrulhamento a Úcua, «com vista a fazer-se uma troca de prisioneiros». Sem êxito, o que levaria a que se repetisse no dia seguinte.
A outro nível, o capitão José Diogo Themudo, 2º. comandante dos Cavaleiros do Norte, deslocou-se ao Songo, para «tratar da instalação da 1ª. CCAV. 8423» (a de Zalala, mas ao tempo em Vista Alegre e Ponte do Dange e que estava em preparação) e, segundo o Livro da Unidade, «o BCAV. foi honrado com a presença do brigadeiro comandante do Comando Territorial de Carmona, acompanhado do seu Estado Maior». Foi «recebido no aquartelamento com formatura geral do Batalhão de Cavalaria 8423».
 - O Ferreira que fazia a tropa 
numa praia de Benguela
Ver AQUI

quarta-feira, 20 de abril de 2016

3 372 - Domingo de viagem angolana, no comboio de Benguela!!

A última fotografia da férias da Nova Lisboa huambana, com parte 
dos elementos da Família Neves/Polido: a Idalina, a Fátima, 
o Valter e 
o Rafael, com o furriel Viegas. A 19 de Abril de 1975

Capa do Livro «História da Unidade», em que se
fundamenta parta da história dos Cavaleiros do Norte
que há 7 anos aqui vem sendo narrada. E a bota
do encontro de 9 de Setembro de 1995


Aos 20 dias de Abril de 1975, eu e o Cruz viajámos no Caminho de Ferro de Benguela, de Nova Lisboa para esta cidade do litoral angolano. E daqui ao Lobito, onde ele tinha família. Dissemos adeus ao planalto huambano e à excelente gente que por lá nos recebeu em enorme mar de afectos, a caminho já do último terço das nossas férias angolanas. E eu também, para um abraço ao Zé Ferreira, um «Ranger» de Águeda, ali aquartelado (rodado de Maria Fernanda), antigo companheiro de escola e amigo até aos dias de hoje.
O Caminho de Ferro de Benguela atravessa todos o centro de
Angola, ligando países do interior africano ao porto do Lobito.
Tem 1344 kms. e está ligado ao sistema ferroviário da RD
Congo e Zâmbia. Por estas, à Beira (Moçambique) e
 Dar-es-Salam (Tanzânia) , junto ao Índico. E. por estas e
indirectamente, à África do Sul.
A viagem, por largas horas de uma madrugada/manhã inteiras - que envolveu uma refeição no vagão/restaurante... -, foi feita numa imensa mistura de sons e de cheiros novos, cantares, idiomas e saracoteios das centenas e centenas de populares que viajavam - brancos, eu e o Cruz e muito pouco mais! Viajavam e mercadejavam todo o tipo de mercadoria, a cada paragem da enorme composição, levadas em todo o jeito de transporte: em sacos, em embrulhos improvisados, em malas envelhecidas, em cestos, em todo o tipo de trouxas, produtos alimentares de produção própria, roupas, cigarros,  sei lá que mais...
O Lobito não me surpreendeu! Já lá tinha estado em Setembro de 1974, numa alongada viagem com o Orlando Rino, e a cidade mostrava-se moderna, cheia de vida, cosmopolita, com futuro!
Na véspera, Agostinho Neto, presidente do MPLA e falando em Lusaka, acusava que «Angola está a ser invadida por soldados  vindos do Zaire». 
«Esses soldados são militantes da FNLA me são por conseguintes considerados patriotas angolanos.Entram e em grande número e muito bem equipados. Estão até melhor equipados do que estavam durante a guerra contra o colonial português», disse Agostinho Neto, comentando que «estamos a levar a efeito um inquérito, para sabermos as origens de alguns desses soldados», numa evidente alusão à probabilidades de não serem angolanos, mas zairenses. 
Notícia do Diário de Lisboa: «Zairenses
invadem Angola - afirmou Agostinho0
 Neto». Há 41 anos!
«Só quando tivermos provas suficientes, diremos se são de facto todos soldados angolanos», disse o presidente do MPLA; que responsabilizou a FNLA «pelos recentes confrontações sangrentas de Luanda», durante as quais, segundo disse, «morreram centenas de pessoas».
Chegados ao fim da viagem, e bem hospedados, fomos principescamente recebidos pelos familiares do António Cruz, surpreendidos ao abrir da porta e dando de frente com o então jovem furriel miliciano mecânico rádio-montador dos Cavaleiros do Norte - o António José Dias Cruz, de Cardigos e agora aposentado da Póvoa de Santo Adrião, nos arredores de Lisboa. 
O jantar foi de horas, farto de mesa e grávido de fluída conversa sobre a vida! Estes momentos, eram, na excelência das férias que muito felizes levávamos pelo chão de Angola, eram os melhores, os de afecto maior, os mais sentidos e vivos! A guerra andava lá por longe!!! 
Por Carmona, o comandante Almeida e Brito, acompanhado do capitão José Diogo Themudo, esteve na CCAÇ. 4741, aquartelada no Negage. O dia, por coincidência, registou um incidente (ligeiramente citado no Livro da Unidade), o que «obrigou à realização de uma reunião conjunta com a FNLA, de modo a obter uma mentalização do que deverá ser a missão das NT e dos Exércitos de Libertação, neste período que decorre até à independência».
O Uíge começava a «aquecer»!






terça-feira, 19 de abril de 2016

3 371 - Adeus a Nova Lisboa e Facção Chipenda na FNLA

Cavaleiros do Norte no futebol. De pé, Grácio (1º. cabo sapador), Gomes, 
Miguel Teixeira (1º. cabo escriturário), Botelho, Miguel Santos (furriel 
paraquedista), Gaiteiro e Soares (1º. cabo). Em baixo, A. Teixeira (?, pintor), 
Mosteias (furriel sapador), António Lopes (furriel enfermeiro), NN, José 
Monteiro (furriel «Ranger») e Domingos Teixeira (1º. cabo estofador) 

Férias do furriel Viegas em Nova Lisboa, há 41 anos, no
miradouro da Senhora do Monte - perto da Caála.
Ao fundo, vê-se a cidade de Nova Lisboa

A Facção Chipenda foi dissolvida, aderiu à FNLA e foi integrada no movimento presidido por Holden Roberto a 17 de Abril de 1975, mas foi em Nova Lisboa que, dias depois (a 19 e através da imprensa), eu e o Cruz disso tivemos conhecimento. Não nos surpreendeu...
Dirigida por Daniel Chipenda e dissidente do MPLA, também conhecida por Revolta do Leste, a Facção assinou o acordo em Kinshasa, a capital do Zaire do presidnete Mobutu Seso Seko (cunhado de Holden Roberto). 
Daniel Chipenda (à esquerda), líder da
Facção Chipenda, ou Revolta do Leste.
Aderiu à FNLA a 17 de Abril de 1975
O acordo previa que Daniel Chipenda (antigo jogador de futebol do Benfica e da Académica de Coimbra) fosse membro do Conselho Nacional da Revolução e do Gabinete Político, assumindo simultaneamente a função de secretário geral adjunto da FNLA. 
Os principais elementos da facção dissolvida passavam a ocupar postos de relevância na estrutura política da FNLA e os seus militares a integrar os quadros das unidades do Exército Nacional de Libertação de Angola (o ELNA) - a força armada do movimento/partido presidido por Holden Roberto.
Adosinda Soares da Costa
O adeus a Nova Lisboa e à boa gente que nos anfitrionou (a mim e ao António Cruz) foi gradualmente feita, mas os «finalmente» foram a 19 de Abril de 1975. Hoje se fazem 41 anos!!! Ainda houve ocasião para nos encontrarmos com dois amigos de escola, lá radicados, os irmãos Miranda (o Óscar Alberto e o Nelson Manuel, com os pais) e darmos uma saltada à fazenda do primo José Viegas (o Zé Mau), nos arredores da capital huambana. E de mais uma tentativa, sem êxito, para encontrarmos uma senhora conterrânea, a Adosinda Costa - que (não) estaria numa pensão do centro da cidade. Só por curiosidade, faleceu a 1 de Março deste ano, com 92 anos e depois de uma vida que a levou por vários sítios do mundo.
As malas ficaram feitas para a viagem ferroviária do Caminho de Ferro de Benguela, da estação de Nova Lisboa (com partida ao princípio da madrugada do dia seguinte) até ao Lobito!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

3 370 - Cavaleiros a servir em hotel e a rodar no Uíge

Grupo de Cavaleiros do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de Zalala mas aqui 
no Natal de Vista Alegre. NN (a sorrir), Santinhos e, de cabeça levantada e 
a sorrir, lá atrás, o furriel Queirós. À esquerda dele (direita de quem olha), 
o furriel Barreto, seguido do Ferreira e do Dorindo (1ºs. cabos, de bigode). 
E os outros, quem são?

Alferes milicianos dos Cavaleiros do Norte: Jaime
Ribeiro, António Albano Cruz (que há 41 anos foi a
Vista Alegre e Quitexe, com o capitão José Diogo
Themudo, 2º. comandante), António Manuel
Garcia e José Leonel Hermida


A 18 de Abril de 1985, a Agência Nacional de Informação (ANI) dava conta de mais uma reunião, em Luanda, entre os Estados Maiores do MPLA, da FN LA e da UNITA, para uma «análise exaustiva da situação política e militar do país» - que tinha independência anunciada para 11 de Novembro. 
Outro ponto da agenda de trabalhos foi a aplicação das medidas aprovadas na reunião anterior e tendentes à «organização das forças de prevenção e das forças integradas»
Os responsáveis militares dos três movimentos reconheceram, segundo o relato da agência, que «os inimigos da independência do povo angolano, não tendo compreendido o momento histórico, persistem em manobras na sombra, preparando-se mesmo para desencadear conflitos em Luanda, entre 15 e 30 de Abril»
Os três EM, por isso mesmo, «lanç(ar)am uma advertência solene à reacção, para que cesse mediatamente tais manobras». Por outro lado, apelaram à população para que mantivesse «calma e vigilante».
O Diário de Lisboa publicou a notícia da ANI,
sobre a denúncia da reacção, feita em Angola
pelo MPLA, pela FNLA e pela UNITA
O 18 de Abril de há 41 anos foi sexta-feira e poderá ter sido nesse dia que, por consequência de incidentes em Nova Lisboa, não compareceu ao trabalho a maioria dos trabalhadores da cozinha e restaurante do Hotel Bimbe (da família Neves Polido), o que levou a que, em situação de emergência, tenhamos dado uma ajuda na copa e sala de jantar - com manifesto jeito do António Cruz para tal, ao inverso da minha confessada inabilidade.
O dia, pelas bandas de Carmona e do Uíge, onde estavam os Cavaleiros do Norte (e as companhias que do BCAV. 8423 dependiam operacionalmente), teve visita de trabalho do capitão José Diogo Themudo, 2º. comandante, à 1ª. CCAV. 8423, que estava em Vista Alegre e Ponte do Dange, depois de jornadear pela mítica Zalala. Comandada pelo capitão miliciano Davide Castro Dias.
Tendo sido acompanhado pelo alferes miliciano António Albano Cruz, o oficial de manutenção auto (mecânico), não custa concluir que foi tratar da próxima rotação para Carmona - que se preparava há já algum tempo. Em trânsito e na passagem pelo Quitexe, visitou a 3ª. CCAV. 8423 - que a 10 de Dezembro para ali rodara da Fazenda Santa Isabel, comandada pelo capitão miliciano José Paulo Fernandes.
O  

domingo, 17 de abril de 2016

3 369 - Transferência de furriéis Cavaleiros do Norte em Santa Margarida

Furriéis milicianos Cavaleiros do Norte, alguns dos que foram transferidos
a 2 de Abril de 1974: António Cruz (RM), Cândido Pires e Luís
Mosteias (Sapadores), Francisco Neto (Rangers) e José Pires e Nelson
Rocha (Transmissões)

Ordem de Serviço nº. 77 do RC 4, de 2 de
Abril de 1974, com a transferência de
alguns furriéis milicianos Cavaleiros do Norte
Há 42 anos, no dia 2 de Abril de 1974, a Ordem de Serviço nº. 77 do Regimento de Cavalaria nº. 2 (a unidade mobilizadora do Batalhão de Cavalaria 8423) publicava a transferência  de um primeiro grupos de futuros furriéis milicianos, para a CCS dos Cavaleiros do Norte. E qual a razão? Ora, por «terem sido nomeados para servir no ultramar». 
Cruz e Viegas, dois outros transferidos de 2 de
Abril de 1974. Um ano depois, andavam ano
em férias, no planalto huambano de Angola
A página 3 do documento regista os seus nomes: António Cruz, Francisco Dias, José Carlos Fonseca, Manuel Machado, José Francisco Neto, José Monteiro e Celestino Viegas. Outros foram transferidos, em outras datas. Um ano e alguns dias depois, a 17 de Abril de 1975, dois deles (o Cruz e o Viegas) faziam férias africanas, por terras do Huambo angolano e nos melhores dos confortos - físico e espiritual. O processo descolonizador continuava, com a UNITA a manter-se «alheia aos embates entre o MPLA e a FNLA». Jonas Savimbi, seu presidente, deslocara-se a Dar-es-Salam e Lusaka, para conferenciar com os presidentes Julius Nyerere (Tanzânia) e Keneth Kaunda (Zâmbia) para, como noticiava o Diário de Lisboa, «defender a sua causa própria», a da UNITA (então com algumas dificuldades de aceitação pelos dirigentes africanos), e «procurar apoio para o seu movimento, como possível resolução para a rivalidade entre MPLA e FNLA».
Agostinho Neto, presidente do MPLA, coincidentemente e em separado, também se encontrou com aqueles dirigentes africanos, conferenciando sobre «os últimos acontecimentos em Angola».
Holden Roberto, presidente do MPLA, por seu lado, partira para uma idêntica viagem ao Médio Oriente e à Europa, procurando apoios. O seu principal apoio, recordemos, era do Zaire, presidido por Mobutu Seso Seko, seu cunhado. 
A delegação da OUA/ONU foi recebida nesse dia, em Luanda, «com bastante frieza», apenas por um oficial português e o embaixador do Gabão no Zaire e «no meio de uma tempestade de protestos públicos e oficiais». Era chefiada por Abdul Farah, assistente de Kurt Waldheim, o secretário geral das Nações Unidas.