quarta-feira, 20 de julho de 2016

3 463 - Carmona calma, Sanza Pombo e iminência de guerra civil

Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel: furriéis
milicianos Agostinho Belo (do Retaxo, em Castelo Branco) Ângelo
Rabiço (Vila Real), Jose Querido (que faz 64 anos a 18 de Julho de
2016), Victor Guedes (falecido a 16/04/1998) e António Fernandes (Braga)


Aos 20 dias de Julho de 1974, jornadeando os Cavaleiros do Norte por terras do Uíge, foi o comandante Almeida e Brito a Sanza Pombo, onde se aquartelava o BCAV . 8324 (era 8423, o nosso!) para mais «contactos operacionais» com os comandantes do Comando de Sector do Uíge.
Os furriéis miliciaos António Costa Fernandes e
José Adelino Borges Querido, em 1995 (foto de cima)
e 2016 (foto de baixo), ambos da 3ª. CCAV. 8423,
a da Fazenda Santa Isabel
A escolta, bem simples, foi feita por duas equipas do PELREC e lá, em Sanza Pombo, procurei uma família da minha terra natal - a de Adolfo Pires dos Reis, que era técnico do Ministério da Agricultura, filho e irmão de gente amiga, cunhado de um primo de meu pai. Imagine-se que, quase 2 anos depois, não sabia ainda da morte de meu pai (em Agosto de 1972). Os tempos eram outros, em matéria de comunicações.
Era sábado e comi funge pela primeira vez, já que com ele me  mimoseou a família Reis, fazendo muita questão que almoçasse em casa deles. O que aceitei com gosto.
A tranquilidade no campo militar era evidente e os Cavaleiros do Norte, sem medos, sem recuos ou quaisquer outros constrangimentos, foram ganhando a sua alforria operacional, controlando a sua zona de acção com todos os cuidados e prevenção, é verdade, mas seguros da sua competência.
Luanda viu ir embora, nesse dia, o Governador Geral  e Comandante-Chefe, general Silvino Silvério Marques, que vinha a ser muito contestado e viajou para Lisboa, abandonando o cargo. Interinamente, foi substituído pelo dr. Pinheiro da Silva, que era Secretário de Estado. «Será a primeira vez, ao menos nos tempos modernos, que Angola é governada por um mestiço», notava o Diário de Lisboa.
Um ano depois e ao meio dia desse domingo (20 de Julho de 1975), MPLA e FNLA continuavam a combater no forte de S. Pedro da Barra. «Rebentaram violentos combates», noticiava o Diário de Lisboa do dia seguinte, acrescentando que «julga-se tratar-se de um ataque maciço do MPLA para tomar o forte, que tem estado sob cerco desde 5ª.-feira» - e onde se encontravam acantonados pelos menos 600 «fnla´s» e que, supostamente, teriam alguns «mpla´s» aprisionados. 
O MPLA exigia a saída da FNLA de Luanda e o mesmo ordenava o Conselho Nacional de Defesa (CND), que determinou «o fim das hostilidades» e «a retirada das forças da FNLA». Mateus Neto, da FNLA e Ministro da Agricultura, que participara na reunião (da véspera) do Conselho Nacional de Defesa, reagiu: «Se os portugueses aceitarem as propostas da FNLA, isso significa que ambos tentarão forçar-nos a capitular. Nós não aceitaremos essa posição e continuaremos a lutar até ao último homem».
Quartel de Sanza Pombo, onde estivemos a
20 de Julho de 1974, há precisamente 42 anos
N´Gola Kabangu, do bureau político da FNLA e que também participou na reunião do o Conselho Nacional de Defesa (CND), depois de referir que o presidente Holden Roberto estava em Angola e «em breve na capital», considerou a reunião (de 5 dias) como «um ataque de surpresa que ocorreu apenas uma semana depois do apelo à unidade nacional». Um ataque à FNLA, bem entendido.
Notícia do Diário de Lisboa de 20 de Julho de
1975, há 41 anos, sobre os combates entre o
MPLA e a FNLA
«Se não chegarmos a um rápido acordo em Angola, em breve estaremos em guerra civil, visto que a situação se deteriora a cada dia que passa», disse N´Gola Kabangu. A «mobilização completa» das forças da FNLA, feita através da rádio, foi o que o Diário de Lisboa considerou «o prelúdio de uma guerra civil».
A emissão radiofónica da FNLA, ainda segundo o Diário de Lisboa, também criticou «as unidades do Exército Português que combateram ao lado das forças rivais do MPLA, com o objectivo de deter o avanço da tropas da FNLA». Foi a primeira vez que de tal se falou: de a tropa portuguesa «influir directamente na paragem de uma coluna fortemente armada da FNLA, que marchava sobre a capital» - o que teria acontecido no Caxito, a 50 kms. de Luanda.
A emissão radiofónica da FNLA acrescentou que «se os portugueses continuassem a obstruir o avanço das tropas da citada coluna, a FNLA teria de responder com a força».
Angola, há 45 anos, a 4 meses da data da independência - 11 de Novembro de 1975!

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