sexta-feira, 2 de setembro de 2016

3 507 - A bordo do navio «Niassa» e pouco provável cessar-fogo

Cavaleiros do Norte da Secretaria da CCS: os furriéis milicianos 
José Augusto Monteiro e Francisco José Dias e os 1ºs. cabos Miguel 
Teixeira e Vasco Vieira (de pé ) e João Manuel Pires (em baixo)


Cavaleiros do Norte da 2ª. CCAV. 8423, em hora de
leitura: os furriéis milicianos António Carlos Letras,
José Manuel Costa, António Artur Guedes e José Gomes
Terça-feira, 2 de Setembro de 1975! O capitão António Oliveira, comandante da CCS dos Cavaleiros do Norte, encarregou-nos (a mim, Viegas, e ao Neto, já na véspera) da nossa última missão em terras africanas de Angola: distribuir o pessoal da companhia pelas camaratas do «Niassa». E lá fomos!
O barco estava fundeado no porto de Luanda, mas os seus trabalhadores estavam de greve e nem entrámos. 
Nascimento e Pinto, dois Cavaleiros
 do Norte da 1ª. CCAV. 8423, a de
Zalala, num momento de
boa disposição gastronómica
Greve era greve! Era greve e os grevistas ameaçavam mesmo que todos os 5 navios da Companhia Nacional de Navegação fundeados em Luanda abandonariam Angola à «primeira hora do dia 5», a sexta-feira seguinte.
Fomos parar à esplanada do Amazonas, abicámos ao Pólo Norte (a casa dos gelados da baixa luandina) e por lá fizemos tempo até que chegou a hora do jantar combinado com o meu amigo Albano Resende, com quem fomos visitar outro conterrâneo civil (como ele), o Neca Reis (o Taipeiro, assim conhecido), que trabalhava num restaurante na cidade alta.
Luanda fervilhava de boatos, alguns deles apontando para o iminente ataque da FNLA, que, porém, continuava no Caxito/Barra do Dande. O Diário de Lisboa desse dia noticiava memso que a actividade militar do movimento de Holden Roberto vinha a ser «praticamente nula, não havendo qualquer notícias sobre a sua progressão em direcção a Luanda».
A sul, manter-se-ia «a presença de forças sul-africanas», como denunciava o MPLA, o que não era confirmado por fontes próximas do Alto Comissário português, precisando (este) que «os conflitos armados que se registaram próximo de Pereira d´Eça envolveram apenas elementos do MPLA e mercenários brancos».
O Cônsul da África do Sul em Luanda, chamado pelo Alto Comissário interino (o general Ferreira de Macedo), por seu lado, «desmentiu formalmente qualquer intervenção armada das tropas do seu país no extremo sul de Angola», assim como «qualquer colaboração com qualquer espécie de milícia privada».
Ao tempo, especulava-se, todavia, que uma delegação portuguesa se teria deslocado a Windoek, na Namíbia, precisamente para «negociar a retirada das tropas sul-africanas que protegiam a barragem do Ruacaná, na província meridional do Cunene». Foram? Não foram? Seria mais um boato dos muitos que se sussurravam por Luanda?
O Diário de Lisboa de 2 de Setembro de 1975
falava do «pouco provável cessar-fogo
a curto prazo» entre o MPLA e a UNITA
Outro rumor insistente, e já com alguma história no tempo de há 41 anos, tinha a ver com a eventual «chegada no domingo de 12 tanques russos, no domingo de manhã, por avião, à capital angolana». Chegaram? Não chegaram?
O que parecia pouco provável, por esses dias, era o falado cessar-fogo entre o MPLA e a UNITA. O Jornal de Angola, que deixara de ter influência da FNLA para agora «reflectir pontos de vista» das causas do movimento de Agostinho Neto, era claro no editorial, considerando que «a luta de Angola se transformou num conflito entre o povo angolano e a UNITA, aliada à FNLA». E o próprio Lopo de Nascimento, que em Lisboa reunira com dirigentes da UNITA, não falou de cessar-fogo num (seu) comunicado, antes frisando que «são escassas as possibilidades de, mesmo que as direcções dos dois movimentos acordem no termo das hostilidades, se conseguir separar as respectivas forças nas áreas onde a UNITA e a FNLA combatem em conjunto».
Ia assim, a Angola de há 41 anos!

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